Além de ser um magnífico poema do
ponto de vista literário, "Liberté", de Paul Éluard, carrega consigo o
peso da História. Escrito em 1942, com o título "Une Seule Pensée" (Um
Único Pensamento), esse texto foi transportado clandestinamente da
França, ocupada pelos nazistas, para a Inglaterra.
Em 1943, traduzido para vários idiomas, o poema foi distribuído como
um panfleto, lançado por aviões aliados nos céus da Europa
conflagrada.
O responsável por contrabandear essa preciosidade da França ocupada
para a Inglaterra foi um brasileiro, o pintor pernambucano Cícero Dias
(1907-2003). Em reconhecimento a essa proeza, Dias foi condecorado
pelo governo francês com a Ordem Nacional do Mérito, em 1998.
Paul Éluard — nom de plume de Eugène-Émile-Paul Grindel
(1895-1952)
— foi um dos expoentes da poesia surrealista. Membro do
partido comunista francês, participou da Resistência aos nazistas na
Segunda Guerra Mundial.
Além do ato heróico de Cícero Dias, Éluard tem outro ponto de contato
com o Brasil. Em 1913-14, foi colega do poeta Manuel Bandeira num
sanatório em Clavadel, na Suíça. Lá, ambos se tratavam de tuberculose.
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Aqui, o poema "Liberté", ou "Une Seule Pensée", aparece numa tradução
escrita a quatro mãos, ainda nos anos 40, por Carlos Drummond de
Andrade e Manuel Bandeira.
Compreensivelmente, existe uma profusão de traduções deste poema. Em
minha opinião, esta é, de longe, a melhor. Há outras também
competentes, como a de Guilherme de Almeida. Mas a internet está cheia
de versões grosseiras e amadoras. |