Carlos Drummond de Andrade
100 anos: 1902-2002
Mestre do verso livre e largo, típico de alguns de seus poemas mais
conhecidos (como "A Flor e a Náusea", "Nosso Tempo" e "Canto ao Homem do
Povo Charlie Chaplin", todos de A Rosa do Povo, 1945), Drummond
também cultivou o verso minimalista.
Ao lado, cinco exemplos de poemas sintéticos. Em meia dúzia de palavras ele
consegue passar uma idéia grande, com direito a perplexidade, reflexão e
ironia. Curiosidade a respeito
do minipoema "Bahia": mais de 50 anos depois, Drummond publicou
um complemento a esse texto. É "O Poema da Bahia Que Não Foi Escrito", no
qual ele lamenta não ter conhecido a terra de Caymmi. Esse poema está em
Amar Se Aprende Amando, de 1985.
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CERÂMICA
Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
ela nos espia do aparador.
In José & Outros
José Olympio, 1967
BAHIA
É preciso fazer um
poema sobre a Bahia...
Mas eu nunca fui lá.
In Alguma Poesia
Edições Pindorama, 1930
COTA ZERO
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
In Alguma Poesia
Edições Pindorama, 1930
[CEMITÉRIO] DE BOLSO
Do lado esquerdo
carrego meus mortos.
Por isso caminho um pouco de banda.
In Fazendeiro do
Ar
José Olympio, 1954
ENIGMA
16/06/1973
Faço e ninguém me responde
esta perguntinha à-toa:
Como pode o peixe vivo
morrer dentro da Lagoa?
In Amar Se
Aprende Amando
Record, 1985
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