Ieda Estergilda de Abreu
Caros amigos,
Ipês amarelos e roxos povoam a rua.// Piso no chão de flores/
meu coração renasce. (Primavera)
Com poemas assim, com cheiro de flor e sabor de haikai, a poeta e jornalista
Ieda Estergilda de Abreu pinta paisagens com palavras. Essa é uma das
características que se destacam em seu quarto e mais recente livro de poesia,
A Véspera do Grito.
Ieda constrói cenas do mundo externo ou revela instantâneos de estados d'alma.
Às vezes, o tom é
contemplativo e suave. Às vezes, mais buliçoso e sangüíneo, como no
poema-título, "A Véspera do Grito".
Para este boletim escolhemos dois poemas de Ieda. Em "Ideário (1)" ela monta um
jogo rítmico e encantatório entre o que passa e o que fica. Em "P de
Palavra e Pedra", destaca a força concreta do verbo convertido em pedra.
Cearense, vivendo em São Paulo desde os anos 70, Ieda Abreu atua na área do
jornalismo cultural. É editora de O Escritor, jornal da União Brasileira
de Escritores.
Um abraço,
Carlos Machado
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Paisagens com palavras
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Ieda Estergilda de Abreu |
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IDEÁRIO (1)
A palavra passa
o gesto fica
o carro passa
o pé fica
o foguete passa
a estrela fica
o adeus passa
a mão fica
o abraço passa
o calor fica
a guitarra passa
a música fica
a bola passa
o jogo fica
o cabelo passa
a cabeça fica
os navios passam
o mar fica
os deuses passam
o homem-deus fica.
P DE PALAVRA E PEDRA
Palavras às vezes pesam como pedras
ferem a boca como pedra que se mastiga.
Agudas, acertam rápidas como pedras
dirigidas
esfriam como pedras frias na boca
ressentida
pensam e pedram como pedras no caminho.
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