Roberval Pereyr
Caros,
O poeta baiano Roberval Pereyr (1953-) é um dos mais ativos militantes da
poesia no país. Co-fundador da revista Hera, junto com o poeta Antonio
Brasileiro (poesia.net n. 26), é
professor de literatura na Universidade Estadual de Feira de Santana,
BA.
Além de participar em diversas antologias, Pereyr publicou cinco livros de
poesia — As roupas do nu (1981); Ocidentais (1987); O Súbito Cenário (1996);
Concerto de Ilhas (1997); e Saguão de Mitos (1998) — e tem inédito
o volume Nas Praias do Avesso.
Dono de um lirismo denso, Pereyr busca uma poesia de essências. Vejam essa "Legião", um retrato do mundo composto apenas com a
enumeração de tipos humanos. Ou então o encantamento dos versos de "Galope", uma
viagem rítmica do pensamento rumo ao silêncio ou à saudade. Em "Lírico", o
andamento é mais calmo, como as águas do lago onde o poeta se encontra com
Narciso.
Depois de ler esses poemas, tenho certeza de que você também vai perguntar:
por que, até agora, não conhecemos o trabalho desse poeta?
•o•
HERA, 31 ANOS
Aproveito este boletim dedicado à poesia de Roberval Pereyr para fazer um
importante registro, ao qual o poeta está associado.
Fundada em 1972 por Antonio Brasileiro e Roberval Pereyr, a revista Hera
é talvez a publicação poética de maior longevidade já registrada no Brasil. Digo
talvez para manter a necessária margem de prudência. No entanto, é quase certo
que nenhum outro periódico do gênero tenha alcançado essa idade.
Balzaquiana, a Hera permanece ativa, publicando trabalhos do Grupo Hera,
que se formou em Feira de Santana em torno da revista.
Uma publicação de poesia com 31 anos é um fenômeno que não se pode deixar de ressaltar.
Muitas eras à Hera!
Um abraço,
Carlos Machado
Veja mais poemas de Roberval Pereyr no boletim
poesia.net n.
308.
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O pensamento a galope
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Roberval Pereyr |
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LEGIÃO
Os viscerais.
Os aguados.
Os donos do império e da farsa.
Os de fácil declinação.
Os falsificadores da falácia.
Os clínicos, os cínicos, os simpaticíssimos.
Os atuais pretéritos atuais.
Os sacaneados plácidos.
Os bem-vendidos, os amalgamados,
os da lama.
Os enviados para destruir.
Os que se deitam para maquinar.
Os que colhem flores por equívoco.
Os desvairados.
Os canibalistas do absurdo.
E a certeza de tudo
piorar.
GALOPE
Meus pensamentos são meus camelos
Meus pensamentos são meus cavalos
(com uns cavalgo para o silêncio
com outros marcho para a saudade).
Meus pensamentos são meus cavalos
Meus pensamentos são meus camelos
(sou sertanejo, nasci nos matos,
ando a cavalo para mim mesmo).
Meus sentimentos são meus desejos
em que me vejo perdido, e calo.
Meus pensamentos são meus camelos
Meus pensamentos são meus cavalos
LÍRICO
A golpes lentos, divago:
antiga a paz que me guia.
À sombra o rosto e o lago
onde Narciso, o mirado,
me desvia.
De onde venho, me mato.
E onde me acham, há dor.
Alguém apaga meus passos
(um mago?) com uma flor.
E os golpes, cadenciados,
fundem o lago e o rosto
à voz de um outro, sem lábios.
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