Henriqueta Lisboa
Caros,
Henriqueta Lisboa (1901-1985), mineira, é autora de uma das obras poéticas mais
representativas do século 20. Poeta de produção regular, publicou quase 20
livros de poesia entre 1925 e 1977. Sua produção também inclui ensaios,
conferências e traduções.
Menos conhecida que sua companheira de geração
Cecília Meireles (1901-1964), Henriqueta desenvolveu uma poesia que tem pontos de contato com a de Cecília.
Para este boletim selecionei três poemas da escritora mineira.
O primeiro, "Sofrimento", vem da obra Flor da Morte (1949). "O livro de
Henriqueta Lisboa é uma persistente, ondulante e apaixonada meditação sobre a
morte. Quase que o poderíamos chamar: tratado poético da morte", escreveu
Drummond em 1952 sobre essa obra.
O outro poema, "Os Lírios", foi extraído do volume A Face Lívida
(1945). Por fim, "Serena" vem de Velário (1936). Nesse poema leve e suave
destacam-se claramente os tons simbolistas que a autora cultivou em suas
primeiras obras.
Henriqueta merece referência, ainda, por um importante aspecto de pioneirismo:
entre os autores modernos, ela foi um dos primeiros a escrever poesia para crianças no
Brasil.
Um abraço, e até a próxima.
Carlos Machado
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Uma pedra de sal no oceano
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Henriqueta Lisboa |
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SOFRIMENTO
No oceano integra-se (bem pouco)
uma pedra de sal.
Ficou o espírito, mais livre
que o corpo.
A música, muito além
do instrumento.
Da alavanca,
sua razão de ser: o impulso,
Ficou o selo, o remate
da obra.
A luz que sobrevive à estrela
e é sua coroa.
O maravilhoso. O imortal.
O que se perdeu foi pouco.
Mas era o que eu mais amava.
OS LÍRIOS
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
Quero saber como crescem
simples e belos —
perfeitos! —
ao abandono dos campos.
Antes que o sol apareça
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.
Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.
Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.
Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre os lírios
adormecerei tranqüila.
SERENA
Essa ternura grave
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.
E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.
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Carlos Machado,
2003
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Poemas extraídos de:
• "Sofrimento", de
Flor da Morte
(1949)
• "Os Lírios", de A Face Lívida (1945)
• "Serena", de Azul Profundo (1950-1955)
In Obras Completas, vol. 1 - Poesia Geral (1929-1983) - Duas
Cidades, São Paulo, 1a. ed., 1985
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