Fabrício Carpinejar
Caros amigos,
O cidadão gaúcho Fabrício Carpi Nejar, dono da persona poética
Carpinejar, nasceu em Caxias do Sul, em 1972. Filho dos poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, ele é talvez o mais conhecido representante da geração de
poetas
que começaram a publicar nos anos 90.
Para este boletim, pincei dois textos de Carpinejar. O primeiro é um trecho de
"Terceira Elegia", do livro Terceira Sede (2001). Nesse livro, composto
de dez elegias, o autor se imagina um homem de 72 anos, e esse velho é
quem escreve, em 2045.
O outro texto é uma página do volume Um Terno de Pássaros ao Sul, de
1999. Assim como Terceira Sede, esse livro é um poema único, dividido em
diferentes modulações.
Depois dos livros citados, Carpinejar já publicou mais dois: Biografia de Uma
Árvore (2002) e Caixa de Sapatos (2003), uma antologia. Para mais informações sobre o poeta Carpinejar, visite seu
site no endereço:
www.carpinejar.com.br
Um abraço,
Carlos Machado
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1 ano de poesia.net
Em circulação desde 12/12/2002, o boletim poesia.net completa um ano esta
semana. Também nestes dias rompemos a barreira dos 600 leitores diretos. Digo
"diretos" porque não sei quantas pessoas retransmitem o boletim a amigos. Esta
edição vai para exatos 634 assinantes. Ave, Poesia!
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Escrito em 2045
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Carpinejar |
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TERCEIRA ELEGIA
(trecho)
Estive sempre de pé no ônibus, espremido
[entre o ferro
da cadeira e o rumor dos passageiros.
Educado a ser o último, cedi o lugar a gestantes
[e idosos.
Estive sempre de pé no ônibus, me defendendo
ao largo do corrimão de tantos rumos,
alianças e ponteiros com paradas diferentes.
E o brado irritante do cobrador ainda a exigir
um passo à frente.
O fato de não ter sido é mais trabalhoso
do que a fama. Prossegui a me imaginar,
sondando o que poderia ter vivido.
Disperso, anônimo, no comício do mar
e nas trevas.
Diminuindo o risco, reduzimos a possibilidade
de nos libertar. O medo, o medo, o medo
é o que nos faz escolher.
Descobre-se um amor
na iminência de perdê-lo.
l
Por mais que uma vela
seja vizinha
de outra chama,
por mais que uma vela
seja seguida
pela caravela de sopros,
por mais que uma vela
segure a barra do vestido
na ascensão,
a vela é sempre solitária,
uma forma da luz
ser indigente.
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