Número 49

São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003 

«Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!» (Alberto Caeiro)
 


Fabrício Carpinejar


Caros amigos,

O cidadão gaúcho Fabrício Carpi Nejar, dono da persona poética Carpinejar, nasceu em Caxias do Sul, em 1972. Filho dos poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, ele é talvez o mais conhecido representante da geração de poetas que começaram a publicar nos anos 90.

Para este boletim, pincei dois textos de Carpinejar. O primeiro é um trecho de "Terceira Elegia", do livro Terceira Sede (2001). Nesse livro, composto de dez elegias, o autor se imagina um homem de 72 anos, e esse velho é quem escreve, em 2045.

O outro texto é uma página do volume Um Terno de Pássaros ao Sul, de 1999. Assim como Terceira Sede, esse livro é um poema único, dividido em diferentes modulações.

Depois dos livros citados, Carpinejar já publicou mais dois: Biografia de Uma Árvore (2002) e Caixa de Sapatos (2003), uma antologia. Para mais informações sobre o poeta Carpinejar, visite seu site no endereço:
www.carpinejar.com.br


Um abraço,


Carlos Machado

               •
1 ano de poesia.net
Em circulação desde 12/12/2002, o boletim poesia.net completa um ano esta semana. Também nestes dias rompemos a barreira dos 600 leitores diretos. Digo "diretos" porque não sei quantas pessoas retransmitem o boletim a amigos. Esta edição vai para exatos 634 assinantes.  Ave, Poesia!
 
 

Escrito em 2045

Carpinejar

 


TERCEIRA ELEGIA

                                      (trecho)


Estive sempre de pé no ônibus, espremido
                                               [entre o ferro
da cadeira e o rumor dos passageiros.
Educado a ser o último, cedi o lugar a gestantes

                                               [e idosos.
Estive sempre de pé no ônibus, me defendendo
ao largo do corrimão de tantos rumos,
alianças e ponteiros com paradas diferentes.
E o brado irritante do cobrador ainda a exigir
um passo à frente.

O fato de não ter sido é mais trabalhoso
do que a fama. Prossegui a me imaginar,
sondando o que poderia ter vivido.
Disperso, anônimo, no comício do mar
e nas trevas.

Diminuindo o risco, reduzimos a possibilidade
de nos libertar. O medo, o medo, o medo
é o que nos faz escolher.

Descobre-se um amor
na iminência de perdê-lo.
 


l

Por mais que uma vela
seja vizinha
de outra chama,

por mais que uma vela
seja seguida
pela caravela de sopros,

por mais que uma vela
segure a barra do vestido
na ascensão,

a vela é sempre solitária,
uma forma da luz
ser indigente.
 

poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2003

Fabrício Carpinejar
•   “Terceira Elegia”
    In Terceira Sede
    Escrituras, São Paulo, 2001
•   “Por mais que uma vela”
    In Um Terno de Pássaros ao Sul
    Escrituras, São Paulo, 2000