Betty Vidigal
Caros amigos,
Tímida, mas afirmativa, a poeta paulistana Betty Vidigal diz que
já fazia versos antes de saber ler e escrever. Ela estudou física, lecionou design, mas se reconhece mesmo na luta com as palavras.
Aos 17 anos publicou seu livro de estréia, Eu e a Vela. Depois, vieram
Tempo de Mensagem e Os Súbitos Cristais, todos de poesia. Escreveu ainda
Posto de Obervação — Contos para a Happy-Hour.
Os primeiros poemas falavam sobre morte e solidão. Hoje, depois de uma fase em
que produzia poemas de cunho social, Betty escreve principalmente sobre as
relações entre mulheres e homens, com o que ela chama de "humor lírico".
Exemplos desse trabalho são mostrados nos textos ao lado.
Betty é diretora da UBE - União Brasileira de Escritores e colabora com o jornal
O Escritor, da UBE, e com a revista portuguesa Voz Lusíada.
Observadora atenta da literatura que se publica na internet, Betty tornou-se uma
especialista em apócrifos da internet — textos que circulam na web com autoria
atribuída erroneamente a escritores conhecidos.
Um abraço,
Carlos Machado
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Pitangas no travesseiro
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Betty Vidigal |
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PITANGAS
Era uma febre, um delírio,
Uma mandinga bem feita,
cama com cheiro de lírio.
Era um delírio, uma febre,
amor que não se endireita,
quebranto que ninguém quebra,
tremedeira de maleita,
uma mulher e um ébrio
de amor que não toma jeito.
E ela, que não se emenda?
Meus dedos fazendo renda
com os pêlos do seu peito;
o coração que se escuta
pelo quarteirão inteiro;
pitangas no travesseiro,
cama com cheiro de fruta.
O AMOR DOS OUTROS
O amor dos outros
é indiferente.
Só o da gente
é especial,
fosforescente,
brilha no escuro.
O amor dos outros
é tão pequeno,
nem vale a pena
pichar o muro.
Ninguém entende
o amor alheio;
não é bonito
e não é feio.
O amor dos outros
é tão efêmero!
Estão amando?
Fazendo gênero?
O amor dos outros
é muito pouco:
só o da gente,
direito ou torto,
alegre ou triste,
sereno ou louco,
lascivo ou puro,
céu ou inferno
— só o da gente
será eterno.
Olha pro rosto
do amor alheio:
são só dois olhos,
nariz no meio,
cadê a boca?
Olha pra cara
do amor da gente:
que coisa louca!
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