Salgado Maranhão
Caros amigos,
Salgado Maranhão (1953-), nome poético de José Salgado Santos,
é maranhense. Mora no Rio de Janeiro desde 1973. Jornalista, decidiu abraçar uma
atividade profissional que considera mais coerente com o exercício da poesia: é terapeuta corporal e já foi
professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu.
No final dos anos 70, Salgado Maranhão participou da organização de coletâneas
com vários poetas. Começou a despontar com o lançamento de Punhos
da Serpente (1989). Depois desse livro vieram: Palávora (1995 ); O
Beijo da Fera (1996). Em 1998, em Mural de Ventos, o poeta reuniu
textos novos e poemas dos três livros anteriores. Essa coletânea lhe valeu o
Prêmio Jabuti. O trabalho mais recente do escritor é Sol Sangüíneo
(Imago, 2002).
Os três poemas escolhidos para este boletim foram todos extraídos de Mural de
Ventos. Com versos enxutos, Salgado Maranhão se envolve "no afã/ de dar/ ao
verso/ víscera". E assim arrasta "o canto à borda dos incêndios".
Salgado Maranhão é também letrista de canção popular. Tem
parcerias com músicos como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Ivan Lins.
Um abraço,
Carlos Machado
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À borda dos incêndios
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Salgado Maranhão |
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KUARUP
de seis milhões
em mil e quinhentos
restou apenas
uma legião
de vultos
soletrando
uma algazarra
zorra,
um kuarup de calça jeans.
os outros foram mortos
até os que estão vivos
até os que não nasceram.
De Palávora, 1995
PÓ & CIA
de vez em quando
a poesia
se insinua
para que eu a possua.
depois
arredia
desaparece
como se habitasse
a outra
face
da lua.
De Palávora, 1995
O VERBO
Passos da manhã
trazem-me o dia
a desovar enganos.
(O amor me busca
como um predador.)
No entanto
o verbo freme. Ateia
fogo aos abismos
reincide ao pó
e ao efêmero.
No entanto arrasto
o canto à borda
dos incêndios.
Ó caminhos que afundam
minhas rasuras!
O que é do tempo
é da terra
o que é da terra
é do ter.
Ó escudos de selva
e trilho!
Do que me atrevo
sobrevivo.
De O Beijo da Fera, 1996
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