Fred Souza Castro
Caros amigos,
O poeta e ficcionista baiano Fred Souza Castro (1931-2012) já foi estudante de
direito, funcionário público, jornalista e diretor de rádio e TV. Hoje,
aposentado, persevera no ofício de poeta e se diverte como videomaker, já que se
considera um "cineasta frustrado".
Souza Castro publicou seu primeiro livro de poemas, Samba de Roda, em
1957. Desde então, já trouxe a lume mais dois volumes de poesia e três de
contos. Além disso tem vários livros inéditos, entre os quais Massapê de
Sesmarias;
Livro de Gaveta; Canto Canaviá; e A Loucura Adiada.
As amostras da poesia de Fred Souza Castro apresentadas aqui vêm todas de livros
inéditos. No trabalho do poeta destacam-se registros sensíveis de temas do
cotidiano. Um lirismo quase sempre alicerçado em situações reais. A passagem do
amolador de tesouras é o pretexto para o poeta fazer o comentário sobre as
solteironas nas janelas. O diário, fragmentado, dá conta dos "riscos e petiscos"
da vida.
Um abraço,
Carlos Machado
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O amolador de tesouras
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Fred Souza Castro |
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O AMOLADOR DE TESOURAS
O amolador de tesouras
atravessa a rua
atrás do assobio
do realejo.
Eu o vejo
passar
e escuto o comentário
de moças vitalinas
debruçadas em janelas.
Elas
falam de donzelices,
esquerdos costumes
alheios,
deslizes
e outras notícias.
O amolador segue,
dobra no fim da rua
e some.
A noite engole o dia;
a fome, agora, é outra fome.
FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO
Eu me impus
os riscos
e os petiscos;
comi da banda podre
o pomo.
(Ainda o como).
Igual a qualquer um
obedeço aos sinais
e endereços fatais.
O vinho que seduz
acidulou no odre
e é só fartum.
Ratos ariscos
somo
nos beirais.
Onde os petiscos
como
em banquetes reais?
Como da banda podre
a lida;
bebo do acre odre
a vida.
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