Sylvia Plath
Caros,
Como ocorre freqüentemente com artistas, o trabalho da poeta americana Sylvia
Plath (1932-1963) só se tornou conhecido após sua morte. Sylvia suicidou-se,
depois de abandonada pelo marido, o também poeta Ted Hughes. Muitos apontaram
Hughes como o principal motivo do suicídio da ex-esposa. O certo é que Sylvia
era uma alma atormentada e já havia feito três tentativas de suicídio antes da
separação. A história tornou-se até roteiro de cinema, para o filme Sylvia
(2003), dirigido por Christine Jeffs, com Gwyneth Paltrow e Daniel Craig, nos
papéis da personagem-título e do marido.
O primeiro livro de Sylvia Plath foi publicado em 1960. Era a coletânea The
Colossus. Nessa obra, o talento dela já se mostrava, mas a autora ainda
estava amarrada a padrões convencionais. Somente nos poemas póstumos —
Ariel (1965); Crossing The Water (1971); Winter Trees
(1972); e The Collected Poems (1981) — é que se revelaram sua
criatividade, técnica e força emocional.
A riqueza da poesia de Sylvia, combinada com as circunstâncias trágicas de sua
morte, transformou a escritora num verdadeiro ícone de admiração internacional.
Se você for hoje ao Google e digitar o nome dela, vai encontrar nada menos que
144.000 referências [1.190.000 em agosto/2014].
Trata-se de um resultado incrível para um poeta. Apenas a
título de comparação: as referências ao roqueiro Mick Jagger, ligado à indústria
do entretenimento há mais de 40 anos, não são terrivelmente superiores, como se
poderia esperar: 251.000 [6.210.000 em agosto/2014].
Sylvia também escreveu ficção e alguns de seus livros nesse
gênero estão disponíveis no Brasil. O único de poesia é uma coletânea bilíngüe,
traduzida por Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça (Poemas,
Ed. Iluminuras, 1994).
Para ter acesso à poesia de Sylvia Plath no original, visite o site
Sylvia Plath Page.
Um abraço, e até a próxima.
Carlos Machado
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Veja mais sobre Sylvia Plath no
boletim n. 237.
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O olho de um pequeno deus
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Sylvia Plath |
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ESPELHO
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício A. Mendonça
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele
[ falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.
Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça
[ sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem
[ verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um
[ peixe terrível.
Diego Velásquez, Vênus
ao Espelho (1647)
MIRROR
I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see, I swallow immediately.
Just as it is, unmisted by love or dislike
I am not cruel, only truthful —
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me.
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the
[ moon.
I see her back, and reflect it faithfully
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the
[ darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old
[ woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
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