Número 98

São Paulo, quarta-feira, 8 de dezembro de 2004 

«Poetas sabem: as palavras têm parte/ com o demônio da ideologia.» (Ricardo Aleixo)
 


Carl Sandburg


Caros,

Neste boletim o poeta em foco é o americano Carl Sandburg (1878–1967). Filho de imigrantes suecos (o pai era ferreiro), trabalhou desde cedo em diversas atividades: pedreiro, leiteiro, engraxate. Dessa experiência aprendeu muito sobre as mazelas do capitalismo. Sandburg escreveu vários livros de poesia, sem conquistar a atenção da crítica. Mas em 1916 lançou o volume Chicago Poems, que lhe valeu reconhecimento internacional.

Jornalista e também autor de textos de ficção, Sandburg ganhou o Prêmio Pulitzer em 1940 com uma biografia de Abraham Lincoln. Em 1951, ele voltou a receber o mesmo prêmio, desta vez com a reunião de seus poemas.

Como a poesia de Sandburg celebra as liberdades individuais, a vida urbana e os trabalhadores comuns, muitos o apontam como um continuador da obra de Walt Whitman, um dos pioneiros do verso livre na literatura americana.

Fincado em suas origens populares, Sandburg conseguiu encontrar beleza e emoção nas coisas simples de sua terra, notadamente o povo. Os poemas que ilustram aqui o trabalho de Carl Sandburg mostram bem essa ligação do poeta com valores essenciais. 

"Ferro" certamente foi inspirado na Primeira Guerra Mundial, mas continua válido para todas as guerras. "A pá é irmã do canhão".


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Leia, em inglês, toda a coletânea Chicago Poems, de Carl Sandburg, no endereço Bartleby.com.



Um abraço,

Carlos Machado
 

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REVISTA CACTO 4

Saiu a revista Cacto n. 4. Especializada em poesia e crítica literária, a publicação neste número põe em destaque o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, ganhador do Prêmio Portugal Telecom 2004, com o livro Macau. A revista traz uma entrevista com Paulo Henriques e um estudo sobre sua obra poética escrito por Gislaine Marins. Além disso, a Cacto enfeixa trabalhos inéditos de vinte poetas e uma excelente seção de traduções. Nesta, um dos pontos altos é o “Guia para o Habitante das Cidades”, de Bertolt Brecht, vertido para o português por Tércio Redondo.

Vem, por fim, a parte dedicada aos ensaios e resenhas, na qual se destaca uma análise do ensaísta português Osvaldo Manuel Silvestre sobre a releitura do “Poema de Sete Faces”, de Drummond, feita por Adélia Prado. A Cacto continua sendo editada pelos poetas Eduardo Sterzi e Tarso de Melo. Mas, a partir desta edição, passa a ser publicada em parceria com a editora Unimarco.

Barras de ferro

Carl Sandburg

                            


A GRADE

                              Tradução: Carlos Machado

Agora, a mansão à beira do lago já está
        concluída, e os trabalhadores estão
        começando a grade.
São barras de ferro com pontas de aço, capazes
        de tirar a vida de qualquer um que se
        arrisque sobre elas.
Como grade, é uma obra-prima e impedirá a
        entrada de todos os famintos e vagabundos
        e de todas as crianças vadias à procura de
        um lugar para brincar.
Entre as barras e sobre as pontas de aço nada
        passará, exceto a Morte, a Chuva e o Dia de
        Amanhã.
 

A FENCE


Now the stone house on the lake front is
         finished and the workmen are beginning
         the fence.
The palings are made of iron bars with steel
         points that can stab the life out of any
         man who falls on them.
As a fence, it is a masterpiece, and will shut off
         the rabble and all vagabonds and hungry
         men and all wandering children looking
         for a place to play.
Passing through the bars and over the steel
         points will go nothing except Death
         and the Rain and To-morrow.

 

FERRO

                              Tradução: Carlos Machado

Canhões,
Longos canhões de aço,
Apontando das belonaves
Em nome do deus da guerra.
Retos, brilhantes, polidos canhões,
Cavalgados por marujos em túnicas brancas,
Rostos bronzeados, cabelos revoltos, dentes
                                                 [ brancos,
Sorridentes marujos em túnicas brancas
Sentados nos canhões, entoando hinos e
                                     [ refrões de guerra.

Pás,
Amplas pás de ferro,
Cavando valas oblongas,
Levantando terra e tufos de grama.

            Você é
            Testemunha —
            A pá é irmã do canhão.


 

IRON

Guns,
Long, steel guns,
Pointed from the war ships
In the name of the war god.
Straight, shining, polished guns,
Clambered over with jackies in white blouses,
Glory of tan faces, tousled hair, white teeth,
Laughing lithe jackies in white blouses,
Sitting on the guns singing war songs, war
                                                [ chanties.

Shovels,
Broad, iron shovels,
Scooping out oblong vaults,
Loosening turf and leveling sod.

            I ask you
            To witness —
            The shovel is brother to the gun.

 

poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2004

•  Carl Sandburg
    In Chicago Poems (1916)
    Bartleby.com (Great Books Online)