Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Ó máquina, orai por nós.
Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas.
Nós merecemos a morte,
porque somos humanos.
Todos, todos estão
dormindo na colina.
Por que não dizer
baixinho, como quem reza:
— Ó doce e incorruptível Aurora...
Estou sozinho na praia...
Ó mundo, vamos dançar!
O meu amante morreu
bêbado,
E meu marido morreu tísico!
só
lamente
uma
vez
Minha alma se tornou
profunda como os rios.
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Meus olhos marinheiros
Pressentiram o desastre.
De onde vem essa
chuva trazida
na ventania?
Agora vire a página e olhe
o anjo que ele
[ possuiu,
veja esta mantilha sobre este ombro puro
Ontem caminhei
Nos campos de chuva; hoje
chove dentro de mim.
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
E eis que, dançando,
saímos
além da sala e do tempo.
Eu boi.
Boi de mim mesmo.
Boi sonso.
Boi de canga.
Como te chamas, pequena
chuva inconstante e
[ breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Tereza? Maria?
se ao menos esta dor se
visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me
[ importa.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Somos contos contando contos, nada.
A palavra passa
o gesto fica
Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
a lua sobre o mar
era um sabre
aparando a água
A perfeição reside nos
tumultos, nos
escombros, nas sinopses
de um homem
Dobram sinos
batem sinos
choram alguém?
A mãe faz tricô
O filho vai à guerra
Tudo muito natural acha a mãe
Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.
Mulher jovem corpulenta
sem chapéu
de avental
um casal na noite
expande o vulto duro
de uma árvore
Mas para que serve o
pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
não há um
sentido único
num
poema
Cala, poesia,
A dor dos homens não se pode exprimir em
[ nenhuma língua.
Meus pensamentos são meus
camelos
Meus pensamentos são meus cavalos
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
O ferro do despeito
vaza a sintaxe,
fere e
desnorteia
Continuamente vemos
novidades,
diferentes em tudo da esperança
Você não sabia? Deu no
jornal:
amanheço todo dia nua e
estreita
como uma rua de comércio
Aprende-se muito
com a ausência.
Por mais que eu me
seqüestre, aquele rio me
[ retoma.
viver
é cobrir os outros
de cicatrizes
e ser coberto
Também não gosto.
Lendo-a, no entanto, com total desprezo, a
[ gente acaba descobrindo
nela, afinal de contas, um lugar para o
[ genuíno.
As testemunhas cegas da
existência,
sempre a te olhar sem que você se importe,
O mundo começava nos seios de Jandira.
Para quem me queira ouvir:
Sou um homem aos frangalhos.
Descobre-se um amor
na iminência de perdê-lo.
E logo ela é só flama,
inteiramente.
As garças não eram feitas:
surgiam. Leves,
feitas de vôo
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
Palavras, deixai-me
celebrar o vão movimento dos ponteiros do
relógio, os episódios vãos, a nossa morte.
As barcas afundadas. Cintilantes
Sob o rio. E é assim o poema. Cintilante
E obscura barca ardendo sob as águas.
E o homem disse: "As coisas tais como são
Se modificam sobre o violão".
este tiroteio de silêncios
esta salva de arrepios
pitangas no travesseiro,
cama com cheiro de fruta.
a poesia está morta
mas juro que não fui eu
O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
(O amor me busca
como um predador.)
O poema é antes de tudo um
inutensílio.
O amolador de tesouras
atravessa a rua
atrás do assobio
do realejo.
Por fim, os peixes na
travessa,
vamos dormir.
O que esperamos na ágora
reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
quis
mudar tudo
mudei tudo
Tive uma jóia nos meus
dedos —
E adormeci —
Escrevem brancas palavras de um sal agudo
e triste. Dói olhar o mar de uma cadeira.
Virei no vento
Da primavera.
Em tua boca
Serei carícia,
Um pouco mais de sol —
eu era brasa.
Um pouco mais de azul —
eu era além.
Tygre! Tygre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
A ceifeira espera
e sabe da hora
A ciência não
As folhas enchem de ff as
vogais do vento.
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
um
dois
três
o juro:o prazo
Na palma do vento
pouso a fronte. Nele confio.
Então, atiro sobre as palavras outras
palavras,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto.
Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Dói o vôo cortante desta
tarde.
Tenho a rua, findando em outra rua de músculo e trégua, tenho o braço-de-ferro.
E eu sonho o Cólera,
imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Talvez um lírio. Máquina de alvura
Sonora ao sopro neutro dos olvidos.
ir
pelo puro prazer
da paisagem
Há um tigre em casa
que dilacera por dentro aquele que o olha.
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
Áspera guitarra rasga o ar da praça.
Há um pássaro parado na garganta de Carmen.
Ó solidão, minha mãe,
medusa erguida sem pai.
De novo me invade.
Quem? –
A Eternidade.
o real me escapa,
paródia de labirinto.
De todas as perguntas,
só quero reter a centelha.
É leve a criatura vaporosa
Como a frouxa fumaça de um charuto.
Não é minha esta casa, aí entrarei no entanto.
Quebrarei o portão, marcharei entre as flores.
Ouça
as mãos
tecendo a língua
e sua linguagem
Daquele que amo
quero o nome, a fome
e a memória.
Você é
Testemunha —
A pá é irmã do canhão.