Ésio Macedo Ribeiro
Caros,
Nascido em Frutal (MG), em 1963, Ésio Macedo Ribeiro é, além
de poeta, um inquieto pesquisador de literatura. Como pesquisador, ele
organizou, junto com Marília de Andrade, o livro Maria Antonieta d’Alkmin e
Oswald de Andrade – Marco Zero (Edusp, 2003), que reúne fotos, cartas,
documentos e escritos do modernista Oswald e de sua última esposa, Maria
Antonieta. Outro exemplo do trabalho de pesquisa de Ésio Macedo Ribeiro é seu
ensaio Brincadeiras de Palavras (1998), sobre a poesia infantil de
José Paulo Paes.
Em poesia, ele já publicou três coletâneas: E Lúcifer Dá Seu Beijo
(1993); Marés de Amor ao Mar (1998) e Pontuação Circense (2000).
Participou também de revistas e antologias. Os poemas da pequena amostra ao lado
pertencem todos ao volume Pontuação Circense.
A poesia de Ésio Macedo Ribeiro apresenta duas faces aparentemente
contraditórias. De um lado, ela aspira à clareza e à limpidez, manifestas em
frases curtas, solares, afirmativas. Mas, quando se lê com mais atenção, é
possível notar que aquela clareza não é sinônimo de certeza: é, muito mais, uma
tentativa de desvendamento do real, o afã de fixar o que o poeta vê, aqui e
agora.
Num de seus textos, o próprio poeta afirma: "Minha poesia vive a vida das coisas
obscuras". Com essa indicação em mente, uma nova leitura descortina outra
dimensão nos mesmos textos. O que antes parecia simples passa a esconder
dúvidas, arestas, obscuridades. "O poema nunca dorme, / nunca acorda", avisa o
poeta, sinalizando certa dificuldade de definição.
Bem que ele tenta fugir da geometria retorcida do caracol e esticar o fio para
traçar uma escrita retilínea, preto no branco, sem ambigüidades. Em vão. O poeta
termina por se descobrir "verbo e assombração". E no pretendido fio reto do
texto (da vida?), surgem outras curvas, outros caracóis.
Um abraço, e até a próxima.
Carlos Machado
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MÁQUINA DO MUNDO
Quer ter uma boa amostra da poesia que se está fazendo hoje no Brasil? Dê uma
passada na revista eletrônica
Máquina do Mundo. Editada por Roberto Schmitt-Prym e Fabrício Carpinejar, a
revista traz, no número 4, recém-lançado, poemas de autores como Armando Freitas
Filho, Fernando Paixão, Prisca Agustoni, Edimilson de Almeida Pereira e Neide
Archanjo.
P.S. em 10/03/2014:
A revista Máquina do Mundo foi desativada.
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POETAS NÔMADES
Vejam só: o poesia.net foi bater na Itália. O número 129 do boletim,
dedicado ao poeta mineiro Júlio Polidoro, está reproduzido na revista virtual
italiana I Poeti Nomadi, organizada pelos poetas Enea Biumi, italiano, e
Martin Poni Micharvegas, argentino.
Clique
aqui para visitar a página de Júlio Polidoro. O endereço geral do site é
www.ipoetinomadi.com.
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O caracol e a linha
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Ésio Macedo Ribeiro |
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CEIFA
A Léia Garcia Ribeiro
A lâmina, pronta, impune,
atrai a menina para o fio.
A lâmina da cortadeira
colhe seu corpo contorcido.
O vermelho tinge
a alvura dos laranjais floridos.
NOME
O poeta quer ter nome fácil: João.
Ninguém erra,
ninguém esquece,
tão barro.
João estuda o céu para o plantio,
poema de outra lavra.
O poeta colhe no espaço uma nuvem-açucena,
que cheira na página que não vinga.
João dorme cedo,
acorda com o galo.
O poeta nunca dorme,
nunca acorda.
TRAVESTI
Um
íntimo
crime
na
esquina
comete
este
homem
de
lugar
nenhum
que
vive
a
vagar
pelas
grandes
cidades
sempre
em
bandos
de
Um
FARTURA
A Edson Garcia Ribeiro
O pai cortava
o pescoço da vaca.
Bocas riam
ruminantes.
O pai mugia,
sarcástico.
Novilha tombada.
Novo dia.
O CARACOL E A LINHA
Desço do caracol
e estico o fio.
Escrevo depois do fio,
fiando a escrita
e sujando de preto
a folha branca
de medo de mim:
poeta louco,
não catalogado
em nenhuma escritura
de nenhum livro sagrado.
Serei depois de tudo:
verbo e assombração.
Faz-se a luz.
Eu, outra curva.
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