Giuseppe Ungaretti
Caros amigos,
O poeta Giuseppe Ungaretti nasceu em Alexandria, no Egito, em 1888, de pais
italianos. O pai, que trabalhava na construção do canal de Suez, morreu quando
ele tinha 2 anos. A mãe continuou a sustentar a família trabalhando numa
padaria.
Ungaretti viveu no Egito até 1912, quando se transferiu para Paris, a fim de
estudar na Sorbonne. Nesse período, ele tomou contato com escritores e artistas
plásticos de vanguarda, entre os quais Guillaume Apollinaire, Pablo Picasso,
Giorgio de Chirico, Georges Braque e Amedeo Modigliani.
Em 1914, Ungaretti vai para a Itália e no ano seguinte é convocado para lutar na
Primeira Guerra Mundial. Seu primeiro livro de poemas, Il Porto
Sepolto (O Porto Sepulto) foi escrito durante a guerra e trata de suas
experiências nas trincheiras. Os textos ao lado são desse período.
No pós-guerra, em 1921, Ungaretti adere ao fascismo. Mussolini chega a assinar a
apresentação de um de seus livros de poesia. Em 1936, vem para o Brasil e dá
aulas de literatura na recém-criada Universidade de São Paulo, onde permanece
até 1942. De volta à Itália, continua suas atividades de professor na
Universidade de Roma. Ungaretti morreu em Milão em 1970.
Ao lado de Eugenio Montale (1896-1981) e Salvatore Quasimodo (1901-1968),
Giuseppe Ungaretti forma a mais alta trindade da poesia italiana no século XX.
Os três, aliás, são considerados participantes do mesmo movimento literário
italiano, o hermetismo. Uma curiosidade sobre o trio é que os dois primeiros
foram distinguidos com o prêmio Nobel: Quasimodo em 1959 e Montale em 1975.
Acredita-se que as simpatias fascistas de Ungaretti
pesaram para que ele não fosse laureado com o Nobel.
Não há notícia de que Ungaretti tenha feito uma autocrítica formal de sua
posição política. Esse é um aspecto que intriga a crítica literária e
biográfica, em vista da contradição entre o ideário fascista e a poesia
ungarettiana, marcada por um lirismo que se mostra flagrantemente contra a
guerra.
Autor de uma poesia enxuta, Ungaretti levou ao extremo a idéia de despojar os
versos de toda previsibilidade. Ao lado, é fácil constatar isso em metáforas
como "esmaltei-me / de margaridas" ou "Hoje estou bêbado / de universo". Não é
possível deixar de citar esse belíssimo e conciso "Manhã", poema com apenas
quatro palavras: "Ilumino-me / de imenso". A concisão não esconde — ao
contrário, potencializa — a emoção contida nesses microversos.
Todos os poemas incluídos nesta pequena mostra da poesia de Ungaretti foram
extraídos do livro A Alegria, cuidadosa edição bilíngüe com tradução de
Geraldo Holanda Cavalcanti. Pernambucano, diplomata de carreira, Cavalcanti
também publicou recentemente coletâneas bilíngües com poemas de Quasimodo e
Montale.
Um abraço,
Carlos Machado
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DRUMMOND. UMA PERGUNTA
Já vai para mais de três anos que o site oficial do poeta Carlos Drummond de
Andrade (www.carlosdrummond.com.br)
está desativado.
Não é estranho?
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Bêbado de universo
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Giuseppe Ungaretti |
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ETERNO
Entre uma flor colhida e outra ofertada
o inexprimível nada
ETERNO
Tra un fiore colto e l'altro donato
l'inesprimibile nulla
*
MANHÃ
Santa Maria La Longa, 26 de
janeiro de 1917
Ilumino-me
de imenso
MATTINA
Santa Maria La Longa il 26
gennaio 1917
M'illumino
d'immenso.
*
ANIQUILAMENTO
Versa, 21 de maio de 1916
Meu coração esbanjou vaga-lumes
se acendeu e apagou
de verde em verde
fui contando
Com minhas mãos plasmo o solo
difuso de grilos
modulo-me
com
igual submisso
coração
Bem-me-quer mal-me-quer
esmaltei-me
de margaridas
enraizei-me
na terra apodrecida
cresci
como um cardo
sobre o caule torto
colhi-me
no tufo
do espinhal
Hoje
como o Isonzo
de asfalto azul
me fixo
ANNIENTAMENTO
Versa il 21 maggio 1916
Il cuore ha prodigato le lucciole
s'è acceso e spento
di verde in verde
ho compitato
Colle mie mani plasmo il suolo
diffuso di grilli
mi modulo
di
somesso uguale
cuore
M'ama non m'ama
mi sono smaltato
di margherite
mi sono radicato
nella terra marcita
sono cresciutto
come un crespo
sullo stelo torto
mi sono colto
nel tuffo
di spinalba
Oggi
come l'Isonzo
di asfalto azzurro
mi fisso
*
IRMÃOS
Mariano, 15 de julho de 1916
A que regimento pertenceis
irmãos?
Palavra que estremece
na noite
Folha recém-nascida
No espasmo do ar
a involuntária revolta
do homem que encara sua
fragilidade
Irmãos
FRATELLI
Mariano il 15 luglio 1916
Di che reggimento siete
fratelli?
Parola tremante
nella notte
Foglia appena nata
Nell'aria spasimante
involuntaria rivolta
dell'uomo presente alla sua
fragilità
Fratelli
*
A NOITE BELA
Devetachi, 24 de agosto de 1916
Que canto levantou-se esta noite
que entretece
com o cristalino eco do coração
as estrelas
Que festa vernal
de coração em núpcias
Fui
um charco de trevas
Hoje mordo
como uma criança a teta
o espaço
Hoje estou bêbado
de universo
LA NOTTE BELLA
Devetachi il 24 agosto 1916
Quale canto s'è levato stanotte
che intesse
di cristallina eco del cuore
le stelle
Quale festa sorgiva
di cuore a nozze
Sono stato
uno stagno di buio
Ora mordo
Come un bambino la mammella
lo spazio
Ora sono ubriaco
d'universo
*
CAMPO
Villa di Garda, abril de 1918
A terra
se cobriu
de tenra
leveza
Como uma esposa
nova
oferece
atônita
ao filho
o pudor
sorridente
de mãe
PRATO
Villa di Garda aprile 1918
La terra
s'è velata
di tenera
leggerezza
Come una sposa
novella
offre
allibita
alla sua creatura
il pudore
sorridente
di madre
*
SAN MARTINO DEL CARSO
Valloncello dell'Albero Isolato,
27 de agosto de 1916
Destas casas
nada sobrou
senão alguns
pedaços de muro
De quantos
me foram próximos
nada sobrou
nem tanto
No coração porém
nenhuma cruz me falta
É o meu coração
a região mais destroçada
SAN MARTINO DEL CARSO
Valloncello dell'Albero Isolato il
27 agosto 1916
Di queste case
non è rimasto
che qualche
brandello di muro
Di tanti
che mi corrispondevano
non è rimasto
neppure tanto
Ma nel cuore
nessuna croce manca
È il mio cuore
il paese più straziato
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