Número 200 - Ano 5

São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2007

«A doida partiu todos os candelabros glabros,/ Sujou de humano o lago com cartas rasgadas, muitas...» (F. Pessoa) *
 


Lawrence Ferlinghetti


Caros amigos,

Devagarinho, passo a passo, chegamos ao boletim 200. Um número redondo, bom de dizer e comemorar. E, coincidência, hoje é o Dia Nacional da Poesia. Portanto, mil vivas à poesia!

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Nesta edição o destaque vai para o poeta beat ítalo-americano Lawrence Ferlinghetti. Nascido em Nova York, em 1919, ele foi Lawrence Ferling até 1955. Na verdade, seu pai, italiano, migrara para os Estados Unidos e lá encurtara o nome para Ferling. O que o filho fez, aos 36 anos, foi recuperar o nome original e assim realçar sua origem italiana. Mas ele nunca teve uma educação italiana.

Depois de estudar na Universidade de Colúmbia e se doutorar na Sorbonne, Ferlinghetti se mudou para San Francisco, na Califórnia. Lá, lecionou francês e se dedicou à crítica literária. Em 1953, em parceria com Peter D. Martin, abriu a livraria City Lights, nome tomado por empréstimo de Luzes da Cidade, o filme de Chaplin. Dois anos depois, já sem o sócio, Ferlinghetti decidiu entrar na área de edição de livros, especializando-se em poesia. A editora City Lights ganhou notoriedade após publicar Howl (Uivo), poema de Allen Ginsberg, em 1956. O livro foi proibido pela censura, sob a acusação de obscenidade. Ferlinghetti, o editor, chegou a ser preso por isso.

A City Lights ficou célebre como editora ligada à poesia da chamada geração beat, da qual fazem parte, além de Ginsberg e Ferlinghetti, nomes como os do poeta Gregory Corso e dos prosadores Jack Kerouac (On The Road) e William Burroughs (Junkie; O Almoço Nu).

O livro de estréia do próprio Ferlinghetti, Pictures of the Gone World (Retratos do mundo passado) saiu em 1955, também pela City Lights. Em 1958 Ferlinghetti publicaria A Coney Island of the Mind (Uma Coney Island da Mente), seu segundo livro de poemas, que é também sua obra mais conhecida. De lá até agora, ele publicou mais uma dezena de livros, além de discos com leituras de poemas.

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No início dos anos 80, houve uma onda beat no Brasil. Nessa época, foram publicados muitos livros dos escritores da beat generation, especialmente pelas editoras Brasiliense e L&PM. A seleção de poemas ao lado veio de um desses livros, a antologia Vida Sem Fim, que contém textos de nove coletâneas de Ferlinghetti. Saiu em 1984, pela Brasiliense, com tradução de Nelson Ascher, Paulo Leminski, Marcos A.P. Ribeiro e Paulo Henriques Britto.

Escolhi um punhado de poemas que demonstram diferentes facetas da obra de Ferlinghetti, que este mês completa 88 anos. Em “Ao longe um porto cheio...” destacam-se o lirismo e a sensualidade. É fantástica a descrição do lençol que se enrola na mulher empurrado pelo vento. Sensualidade é também a palavra para descrever a cena de “Era um rosto que as trevas matariam...”. Ainda nessa linha do lirismo está o poema “Cavalos ao amanhecer...”.

O poema “Quanto eu saiba ela talvez fosse mais feliz...” tem traços dos outros dois já citados. Mas nele, em minha opinião, o traço dominante é a capacidade do poeta de extrair emoção de uma cena banal com excursionistas de domingo viajando num vagão do trem.

Em “O olho do poeta obsceno vendo...” vem para o primeiro plano a inconformidade do poeta com as coisas deste mundo “à prova de beijos”. O mesmo registro, em tom mais nitidamente irritado, aparece em “Saudação”. Observe-se que esse poema vem com local e data bastante expressivos: “Prisão de Santa Rita, 1968”. Nos anos 60, essa prisão californiana era um dos lugares para onde eram levadas as pessoas presas em demonstrações de protesto. Lá, em 1967, ficaram presas a cantora Joan Baez e sua mãe, Joan Bridge Baez, junto com outras 70 mulheres que ajudaram jovens convocados para o Vietnã a escapar do exército americano.

Por fim, o texto “Dois varredores de rua num caminhão, dois ricaços num Mercedes” combina traços de crítica social com a forte capacidade descritiva do autor, aspecto que se nota em quase todos os seus poemas. Aliás, é fácil perceber que os poemas de Ferlinghetti se organizam como pinturas. Talvez isso se deva ao fato de que ele também é pintor.

Vale citar que existe no Brasil uma versão específica do livro A Coney Island of the Mind, chamada Um Parque de Diversões da Cabeça. A tradução é de Eduardo Bueno (hoje conhecido pelos livros de História) e Leonardo Fróes. O volume saiu pela L&PM, em 1984.

Preciso lembrar, ainda, que fui forçado a fazer algumas adaptações na disposição dos versos destes poemas. Ferlinghetti esparrama o texto irregularmente por toda a extensão da página. Como a largura da área de texto, aqui, é restrita, tive de espremer um pouco os poemas, embora sempre mantendo os traços gerais da disposição gráfica.


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Se você quiser conhecer o site da City Lights, a livraria e editora de Ferlinghetti, visite o endereço www.citylights.com.



Um abraço,

Carlos Machado



 

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O HOMEM DENTRO DE UM CÃO

Uma dica para paulistanos, residentes ou de passagem. O jornalista e escritor Fernando Portela lança na próxima terça-feira, 20 de março, seu novo livro de contos, O Homem Dentro de um Cão, que sai pela Editora Terceiro Nome. Anote:

Data:   20 de março, terça-feira
Hora:  A partir das 19h00
Local: Restaurante Rosmarino
           Rua Henrique Monteiro, 44
           Pinheiros - São Paulo



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O olho do poeta obsceno

Lawrence Ferlinghetti

 

 

AO LONGE SOBRE UM PORTO CHEIO...

         Ao longe sobre um porto cheio
                                   de casas sem calefação
em meio às chaminés de navio
             de um telhado mastreado de varais
      uma mulher hasteia velas
                                     sobre o vento
expondo seus lençóis matinais
                            com pregadores de madeira
                     Oh mamífero adorável
                          seus seios seminus
         arrojam sombras retesadas
                                  quando ela se estica
para pendurar de alma lavada
                                          seu último pecado
                 mas umidamente sensual
                                           ele se enrola nela
                    agarrado à sua pele
                               Capturada assim de braços
                                                          erguidos
           ela atira a cabeça para trás
                                    numa gargalhada muda
   e num gesto espontâneo
                        espalha então cabelo dourado

enquanto nas inatingíveis paisagens marinhas

                    entre lonas brancas e enfunadas

sobressaem radiantes os barcos a vapor

                                        para o outro mundo

                                [Tradução: Nelson Ascher]


AWAY ABOVE A HARBORFUL...

Away above a harborful / of caulkless houses / among the charley noble chimneypots / of a rooftop rigged with clotheslines / a woman pastes up sails / upon the wind / hanging out her morning sheets / with wooden pins / O lovely mammal / her nearly naked breasts / throw taut shadows / when she stretches up / to hang at last the last of her / so white washed sins / but it is wetly amorous / and winds itself about her / clinging to her skin / So caught with arms / upraised / she tosses back her head / in voiceless laughter / and in choiceless gesture then / shakes out gold hair / while in the reachless seascape spaces / between the blown white shrouds / stand out the bright steamers / to kingdom come



QUANTO EU SAIBA ELA TALVEZ FOSSE MAIS FELIZ...

     Quanto eu saiba ela talvez fosse mais feliz
                                           que qualquer um
aquela anciã solitária de xale
                     no trem com caixotes de laranja
    com o passarinho manso
                                      no seu lenço
              e sussurrando-lhe
                                     todo o tempo
                                               mia mascotta
        mia mascotta
         sem que nenhum dos excursionistas de
              domingo com seus cestos e garrafas
                   prestasse qualquer
                                               atenção
          e o vagão
                        chiava através dos trigais
              tão devagar que

                                     borboletas

                               entravam e saíam

                                [Tradução: Nelson Ascher]



FOR ALL I KNOW MAYBE SHE WAS HAPPIER...

For all I know maybe she was happier / than anyone / that lone crone in the shawl / on the orangecrate train / with the little tame bird / in her handkerchief / crooning / to it all the time / mia mascotta / mia mascotta / and none of the sunday excursionists / with their bottles and their baskets / paying any / attention / and the coach / creaking on through cornfields / so slowly that / butterflies / blew in and out




A City Lights em 2002: na fachada (nas barras vermelhas), a velha e boa rebeldia: "Stop war and war makers"



ERA UM ROSTO QUE AS TREVAS MATARIAM...

Era um rosto que as trevas matariam
                                        num instante
      um rosto facilmente magoável
                                              por riso ou luz

              "Pensamos diversamente à noite"
                                        disse-me certa vez
reclinando-se languidamente

                                      E citaria Cocteau

"Sinto que há um anjo em mim" diria
                                          "que eu abalo
                                             constantemente"

             Sorriria então olhando a esmo
                     me acenderia um cigarro
                                     sorrindo e se erguendo
e estirando
                  sua doce anatomia

                                   deixaria cair uma meia

                                [Tradução: Nelson Ascher]



IT WAS A FACE WHICH DARKNESS COULD KILL...

It was a face which darkness could kill / in an instant / a face as easily hurt / by laughter or light / 'We think differently at night' / she told me once / lying back languidly / And she would quote Cocteau / 'I feel there is an angel in me' she'd say / 'whom I am constantly / shocking' / Then she would smile and look away / light a cigarrette for me / sigh and rise / and stretch / her sweet anatomy / let fall a stocking



O OLHO DO POETA OBSCENO VENDO...

O olho do poeta obsceno vendo
vê a superfície do mundo redondo
         com seus telhados bêbados
         e pássaros de pau nos varais
         e suas fêmeas e machos feitos de barro
         com pernas em fogo e peitos em botão
         em camas rolantes
e suas árvores de mistérios
e seus parques de domingos no parque e estátuas sem fala
e seus Estados Unidos
com suas cidades fantasmas e Ilhas Ellis vazias
e sua paisagem surrealista de
                  pradarias estúpidas
                  supermercados subúrbios
                  cemitérios com calefação
                  e catedrais que protestam
um mundo à prova de beijo um mundo de
 tampas de privada e táxis
 caubóis de butique e virgens de Las Vegas
 índios sem terra e madames loucas por cinema
         senadores anti-romanos e conformistas
                                         [ conformados
e todos os outros fragmentos desbotados
do sonho imigrante real demais
     e disperso
         entre esse pessoal que toma banho de sol


                                [Tradução: Paulo Leminski]
 


THE POET'S EYE OBSCENELY SEEING...

The poet's eye osbcenely seeing / sees the surface of thc round world / with its drunk rooftops / and wooden oiseaux on clotheslines / and its clay males and females / with hot legs and rosebud breasts / in rollaway beds / and its trees full of mysteries / and its Sunday parks and speechless statues / and its America / with its ghost towns and empty Ellis Islands / and its surrealist landscape of / mindless prairíes / super-market suburbs / stemheated cemeteries / and protesting cathedrals / a kissproof world of plastic toiletseats tampax and taxis / drugged store cowboys and Ias vegas virgins / disowned indians and cinemad matrons / unroman senators and conscientious non-objectors / and all the other fatal shorrt-up fragments / of the immigrant's dream come too true / and mislaid / among the sunbathers



SAUDAÇÃO

A cada animal que abate ou come sua própria
                                             espécie
E cada caçador com rifles montados em
                                             camionetas
E cada miliciano ou atirador particular
                                  com mira telescópica
E cada capataz sulista de botas com seus cães
                    & espingardas de cano serrado
E cada policial guardião da paz com seus cães
                     treinados para rastrear & matar
E cada tira à paisana ou agente secreto
             com seu coldre oculto cheio de morte
E cada funcionário público que dispara contra o
               público ou que alveja-para-matar
               criminosos em fuga
E cada Guardia Civil em qualquer pais que  
        guarda os civis com algemas & carabinas
E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual
       posto da barreira em tanto faz qual lado de
       qual Muro de Berlim cortina de Bambu ou
       de Tortilha
E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário
              em calças de equitação sob medida &
              capacete protetor de plástico &
              revólver em coldre ornado de prata
E cada radiopatrulha com armas antimotim &
             sirenes e cada tanque antimotim com
             cassetetes & gás lacrimogênio
E cada piloto de avião com foguetes & napalm
                                                    sob as asas
E cada capelão que abençoa bombardeiros que
                                                    decolam
E qualquer Departamento de Estado de qualquer
     superestado que vende armas aos dois lados
E cada Nacionalista em tanto faz que Nação em
      tanto faz qual mundo Preto Pardo ou Branco
      que mata por sua Nação
E cada profeta com arma de fogo ou branca e 
      quem quer que reforce as luzes do espírito
      à força ou reforce o poder de qualquer
      estado com mais Poder
E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam & matam pela Paz
Eu ergo meu dedo médio na única saudação apropriada

Prisão de Santa Rita, 1968

                                [Tradução: Nelson Ascher]



SALUTE

To every animal who eats or shoots his own kind / And every hunter with rifles mounted in pickup trucks / And every private marksman or minuteman / with telescopic sight / And every redneck in boots with dogs / & sawed-off shotguns / And every Peace Officer with dogs / trained to track & kill / And every plainclothes-man or undercover agent / with shoulderholster full of death / And every servant of the people gunning down people / or shooting-to-kill fleeing felons / And every Guardia Civil in any country guarding civilians / with handcuffs & carbines / And every border guard at no matter what Check Point Charley / on no matter which side of which Berlin Wall / Bamboo or Tortilla curtain / And every elite statetrooper highwaypatrolman in custom-tailored ridingpants & plastic crash helmet / & shoestring necktie & sixshooter in silver-studded holster / And every prowlcar with riotguns & sirens and every riot-tank / with mace & teargas / And every crackpilot with rockets & napalm underwing / And every skypilot blessing bombers at takeoff / And any State Department of any superstate selling guns / to both sides / And every Nationalist of no matter what Nation in no matter / what world Black Brown or White / who kills for his Nation / And every prophet or poet with gun or shiv and any enforcer / of spiritual enlightenment with force and any / enforcer of the power of any state with Power / And to any and all who kill & kill & kill & kill for Peace / I raise my middle finger / in the only proper salute

Santa Rita Prison, 1968


CAVALOS AO AMANHECER

Os cavalos os cavalos selvagens ao amanhecer
como numa aquarela de Ben Shahn
vivos em plena campina
no planalto ao longe
eles galopam
eles bufam
eles trovejam ao longe
seus cascos pequeninos
provocam pequenos trovões
insistentemente
como martelos de madeira batendo
num tambor distante
O sol ruge &
joga as sombras dos cavalos
pra fora da noite

                                [Tradução: Paulo Henriques Britto]


HORSES AT DAWN

The horses the horses the wild horses at dawn / as in a watercolor by Ben Shahn / they are alive in the high meadow / in the high country on the far mesa / you can see them galloping / you can see them snorting / you can hear their thunder distantly / you can hear the small thunder / of their small hooves / insistently / like wood hammers thrumming / on a distant drum / The sun roars & / throws their shadows / out of the night



DOIS VARREDORES DE RUA NUM CAMINHÃO, DOIS RICAÇOS NUM MERCEDES

Esperando a luz verde no sinal
           centro de São Francisco, nove da manhã
   um brilhante caminhão amarelo de lixo
com dois lixeiros de jaquetas plásticas
                                               [ vermelhas
   pendurados de cada lado do estribo traseiro
                      olhando para um elegante casal
       num elegante Mercedes conversível
O homem
   vestindo ótimo terno de linho de três peças    cabelos louros até os ombros & óculos escuros
A jovem negligentemente penteada
                          saia curta e meias coloridas
   a caminho de seu escritório de arquitetura
E os dois varredores acordados desde às Quatro
                                        da Madrugada
                       sujando-se por todo o caminho
       desde suas casas
O mais velho de cabelos crespos grisalhos
                                         e corcunda
olhando para baixo como um
                               Quasímodo carrancudo
O mais jovem
      também de óculos escuros & cabelos longos quase da mesma idade do chofer do Mercedes

Os dois varredores olhando fixamente
                     como se de uma longa distância
             o lépido casal
  como se assistindo a algum inodoro comercial
                                                       [ de TV
               onde tudo é sempre possível

E a luz vermelha por um instante
         manteve os quatro juntos na mesma cena
    como se afinal alguma coisa fosse possível
                                                        entre eles
                através daquele grande golfo
                        nos altos mares
                                    desta democracia


                                [Tradução: Marcos A.P. Ribeiro]


TWO SCAVENGERS IN A TRUCK,TWO BEAUTIFUL PEOPLE IN A MERCEDES

At the stoplight waiting for the light / Nine A.M. downtown san Francisco / a bright yellow garbage truck / with two garbagemen in red plastic blazers / standing on the back stoop / one on each side hanging on / and looking down into / an elegant open Mercedes / with an elegant couple in it / The man / in a hip three-piece linen suit / with shoulder-length blond hair & sunglasses / The young blond woman so casually coifed / with a short skirt and colored stockings / on the way to his architect's office / And the two scavengers up since Four A.M. / grungy from their route / on the way home / The older of the two with grey iron hair / and hunched back / looking down like some / gargoyle Quasimodo / And the younger of the two / also with sunglasses & longhair / about the same age as the Mercedes driver / And both scavengers gazing down / as from a great distance / at the cool couple / as if they were watching some odorless TV ad / in which every-thing is always possible / And the very red light for an instant / holding all four close together / as if anything at all were possible / between them / across that great gulf / in the high seas / of this democracy
 

poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2007

Lawrence Ferlinghetti
In Vida sem Fim
Tradução de Nelson Ascher, Paulo Leminski, Marcos A.P. Ribeiro e Paulo Henriques Brito
Brasiliense, São Paulo, 1984
Tradução dos textos citados:
• Nelson Ascher — "Ao longe sobre um porto
   cheio...", "Quanto eu saiba ela talvez fosse
   mais feliz...", "Era um rosto que as trevas
   matariam...", "Saudação"
• Paulo Leminski — "O olho do poeta obsceno
   vendo..."
• Paulo Henriques Britto — "Cavalos ao
   amanhecer"
• Marcos A.P. Ribeiro — "Dois varredores de
  rua num caminhão..."
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* Fernando Pessoa, "Hora Absurda",
  in Cancioneiro