Aleilton Fonseca
Caros,
O escritor e professor baiano Aleilton Fonseca (1959-) é mais da prosa que da
poesia. Em prosa, dois de seus trabalhos mais recentes são O Canto de
Alvorada (contos, 2003) e Nhô Guimarães (romance, 2006). Na poesia,
estreou em 1981, com Movimento de Sondagem. Em seguida, publicou O
Espelho da Consciência (1984) e Teoria Particular (Mas Nem Tanto) do
Poema — ou Poética Feita em Casa (1994).
Em 2006, Aleilton organizou As Formas do Barro & Outros Poemas, uma
reunião de seus escritos poéticos, revista e diminuída. A uma seleção de poemas
dos três livros anteriores agregou textos inéditos ou publicados dispersamente
em revistas. Dessa coletânea extraí os poemas mostrados ao lado.
Muito ativo na área literária, Aleilton é também diretor da revista Iararana,
sediada em Salvador, que vem se firmando como uma das mais permantes publicações
da atualidade.
Quande se lê As Formas do Barro atentando para a
evolução de um livro para outro, nota-se claramente a evolução da poesia de
Aleilton Fonseca. Ao longo do tempo, o poeta vai-se apetrechando de de novas
técnicas e ardis. Os textos ganham compleição mais sofisticada até
desaguar em peças como "Moças e Garças" ou "As Formas do Barro", o poema-título.
Em "Moças e Garças" se desenha o lirismo do homem que olha para trás e se vê
numa paisagem do interior, com o rio, as garças e as moças inatingíveis dos
sonhos infanto-juvenis. Garças e moças diluídas no tempo. No metapoema "As
Formas do Barro", o poeta aproxima
a criação poética ao ofício do oleiro, que transforma a argila em objetos
artesanais.
Um abraço, e até a próxima.
Carlos Machado
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QUINTA POÉTICA
Amanhã, 10 de maio, um bom programa para você, de São Paulo: é a Quinta Poética,
realizada na Casa das Rosas. Participam os poetas Contador Borges, Floriano
Martins, Raimundo Gadelha e Israel Azevedo. A entrada é livre. Anote:
Data: 10 de maio, quinta-feira
Hora: 19h00
Local: Casa das Rosas
Av. Paulista, 37
Tel: (11) 3285-6986
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As formas do barro
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Aleilton Fonseca |
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MOÇAS E GARÇAS
O rio mergulhava em nossas tardes
e nos vinha inundar os olhos, enquanto olhávamos as garças que
pousavam nas pedras baixas, com suas asas talhadas: chegássemos mais
perto delas, voejavam no lençol corrente, e só as águas sobravam.
O rio se afogava em nossas noites e nos vinha inundar os sonhos,
enquanto olhávamos as moças que escoavam nas pedras baixas, com suas
curvas molhadas: chegássemos mais perto delas, diluíam-se na água
corrente e só os desejos sobravam.
AS FORMAS DO BARRO
Eu trago as formas do barro
esculpidas em minhas mãos: o cheiro molhado de argila umedece as
minhas palavras e o sol que vem do passado revela um segredo guardado.
A mão cumpre o risco no ar e os dedos beneficiam a argila,
mergulhando no gesto vertical. A esquerda recebe a dádiva e juntas
compartilham o corpo medido em areia, argila e água.
O verbo nas mãos se enconcha, se eleva, beija o ar em curva, e
sobre o vazio da forma passa contra a madeira sem reclame. A direita
alça o arco de arame e as aparas se despem da massa.
Assim se repete a procura em novo bolo que se enforma: vira-se a
forma sobre a mesa de trabalho do artesão, e feito o asseio de areia,
dois poemas brotam no chão.
De dois em dois, em soma de pares os montes de argila se multiplicam.
E o oleiro, sem que se repare, contempla as paredes do futuro, que
hoje, por certo, ainda abrigam os seus sonhos riscados num muro.
ANTI(TESTAMENTO)
Os pais, os avós cumpriram
os caminhos;
já não têm a bênção do futuro: caminhemos sozinhos.
Os pais,
os avós
inventaram ofícios; mas agora é difícil: aprendamos sozinhos.
os pais, os avós, remoemos seus versos; os nossos poemas são
pós diversos.
os pais, os avós, os sinais da estrada, seus contras, seus prós,
somos nós, entre o Sol e o nada.
PROJEÇÕES
imagem, não lhe conheço o fundo
do olhar: mas habito no teu sonho, enquanto mudo e invisível
caminho: entre verbo e substância, planto sílabas no bolso,
caixas de sentido móvel: e o mais vermelho óleo nas veias
imagem e caminho, mergulho no mundo do mar amaro e largo: como
sumo de algas soltas nos sulcos de mastros: somos poucos,
impossíveis e bastos
NOTÍCIA
Um poema beliscou-me e passou
tão de súbito que não tive tempo de capturá-lo.
Desde então trago esta página em branco no meu olhar.
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