Número 374 - Ano 15 |
São Paulo, quarta-feira, 5 de
abril de 2017
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Marina Rabelo
Amigas e amigos,
Nascida em Fortaleza-CE (1981), mas criada em Natal-RN, a poeta Marina Rabelo considera-se potiguar. Formada em engenharia química pela UFRN, já publicou três livros de poesia: Por Cada Uma (Una, 2011), em parceria com quatro outras poetas potiguares; Livro de Sete Cabeças (Kelps, 2016); e Das Coisas Que Larguei na Calçada (Caravela, 2016).
Os poemas apresentados neste boletim estão todos neste último livro. Trata-se, aliás, de um produto editorialmente muito curioso. É um caderno grampeado no formato 12cmx21cm. A capa não é fixada ao miolo, mas tem largas orelhas que abraçam o livro. A primeira e a última página do miolo são dobraduras que contêm, cada uma, seis páginas. As páginas centrais repetem esse mesmo design.
As dobraduras fazem do volume um objeto bastante movimentado. Essa sensação de movimento é ampliada pelas competentes ilustrações do artista gráfico Augusto B. Medeiros que estão presentes na capa e em todas as
páginas.
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Autoapresentada no livro como “poeta, dramaturga e colecionadora de silêncios”, Marina Rabelo, que já rabiscava alguns textos, descobriu o gosto pela poesia quando começou a produzir blogs.
Em Das Coisas Que Larguei na Calçada os poemas em geral são curtos e apresentam forte inclinação para as sacadas rápidas, o lampejo expresso em poucas palavras. No livro escolhi oito poemetos que dão uma amostra de seu trabalho.
O poema “Origami” oferece uma reflexão sobre como o acaso, à nossa revelia, dispõe de nossos destinos: “nem sempre somos / o que queremos ser”. E a conclusão: “somos dobraduras da vida”.
Em “A Poesia (Mente)”, Marina usa advérbios de modo terminados em “mente” para descrever, com humor, as negaças
e escaramuças travadas no relacionamento do poeta com a poesia. Esta, como se sabe, é independente, caprichosa e nunca está disposta a se render à vontade do poeta. Como escreveu Murilo Mendes, “a poesia sopra onde quer”. E quando quer, pode-se acrescentar.
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O poema “Da Natureza” estabelece uma espécie de traço de união entre a infância e a idade adulta, combinando experiências das duas fases. É o duro aprendizado de enfrentar os espinhos e saber gritar, seja para exorcizá-los, seja para denunciá-los.
Os dois últimos poemas sem título “[Agora Teu Corpo]” e “Hoje Eu Quis Rasgar]” são boas amostras das sacadas poéticas de Marina Rabelo, aqui centradas nos desencontros amorosos.
No primeiro texto, com raiva do parceiro, a pessoa que fala não está para conversas. E avisa: “Cuidado com o não / raivoso”.
O outro poema começa quando o/a poeta resolve rasgar os versos que escreveu para o/a ex. Como
“[Hoje Eu Quis Rasgar]” deixa claro, não é uma tarefa trivial.
Abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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O leitor Carlos Alenquer e também o poeta baiano Florisvaldo Mattos me sugeriram
incluir no boletim botões para que o leitor possa compartilhar com facilidade o poesia.net nas redes sociais.
A ideia foi implementada. Agora, você pode clicar nos botões (acima da foto do poeta) e compartilhar o boletim nas redes
Facebook, Twitter e Google +. Agradeço a valiosa sugestão ao leitor Carlos Alenquer
e ao poeta Florisvaldo Mattos.
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LANÇAMENTOS
Dois lançamentos para os próximos dias, um em Salvador e o outro em São Paulo.
Estuário dos Dias
• Florisvaldo Mattos
O
poeta baiano Florisvaldo Mattos lança em Salvador Estuário dos Dias e Outros Poemas, sua oitava coletânea de poemas, obra que sai pela Editora Caramurê.
Quando: Quinta-feira, 06/04/2017,
às 19h
Onde:
Palacete das Artes
Rua da Graça, 284 Graça
Salvador, BA
Senão eu atiro
• Leusa Araujo
A Editora Quelônio lança Senão eu Atiro e Outras Histórias Verídicas, novo livro de contos da jornalista Leusa Araujo.
O livro contém seis contos baseados em histórias reais.
Quando: Quarta-feira, 19/04/2017,
das 19h às 23h
Onde:
Canto Madalena
Rua Medeiros de Albuquerque, 471 Vila Madalena
São Paulo, SP
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Dobraduras da vida
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Marina Rabelo
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Albena Vatcheva, pintora franco-búlgara, Haikai 2
ORIGAMI
nem sempre somos
o que queremos ser.
um dia,
pássaros.
um dia,
papel amassado
no chão.
[somos as dobraduras da vida]
A POESIA (MENTE)
A poesia está na sala.
Nos restos em cima da mesa.
Inquieta e sedutoramente viva.
A poesia está no quarto.
Na poeira debaixo da cama.
Tranquila e assustadoramente só.
A poesia sorri,
Debocha e diz:
— A poesia não está.
E assim a poesia descaradamente é.
Albena Vatcheva, Eu fui bonita
ENTRE OS PRÉDIOS
entre os prédios
ouço um ressoar de pássaros.
perguntam pra mim:
— por que não te migalhas
e fugiremos daqui?
[SALTO ENTRE ABISMOS]
salto entre abismos
como criança que
pula amarelinha
sem medo de
cair
apenas desejando
estar perto
do céu
Albena Vatcheva, Não me abandone
DA NATUREZA
quando criança
caí entre cactos
ainda me sinto
cercada de espinhos
quando menina
pude gritar
desde então
trago ecos
dentro de mim
quando mulher
uni o espinho
ao grito
[LEVEI MEUS OLHOS TRISTES]
Levei meus olhos tristes
E marejados para ver o mar
Eles se ondularam em
Segredos
Só eles sabem o que
Carregamos dentro
O que se carrega para o fundo
Albena Vatcheva, Madona - Homenagem a Klimt
[AGORA TEU CORPO]
Agora teu corpo
Está cheio de arame
Farpado.
Não me toques.
Desejos de muros
Altos.
A grama verde
Proibida de ser pisada.
Só falta uma placa:
Cuidado com o não
raivoso.
[HOJE EU QUIS RASGAR]
hoje eu quis rasgar todos os versos
[ que escrevi pra você
mas as folhas tinham mais
força que eu
e me deixaram em pedacinhos
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poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado,
2017
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Marina Rabelo • in Das
Coisas Que Larguei na Calçada
Com ilustrações de Augusto B. Medeiros
Caravela Selo Cultural,
Natal, 2016 ______________
* Ronaldo Costa Fernandes, "Minha foz não é do Iguaçu", in
Memória dos Porcos (2012)
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* Imagens: quadros de
Albena
Vatcheva (1967-), francesa nascida na Bulgária
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