Amigas e amigos,
Esta edição do poesia.net põe em destaque o poeta fluminense Jayro José Xavier. Nascido em São
Gonçalo do Amarante em 1936, Xavier graduou-se em direito pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e é professor do Instituto de Letras da
Universidade Federal Fluminense (UFF).
O poeta estreou em 1974 com a coletânea Idade do Urânio, à qual se seguiu o livro Enquanto Vivemos (1981). Publicou também Estória de Uma Vaquinha (1987) e Ulisses: Canto para Ajudar um Menino a Atravessar a Noite (1988), título que recebeu o prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte.
Em 2007, o poeta publicou uma seleção de seus trabalhos no volume Poemas, que apresenta quatro divisões: “Idade do Urânio”, com material do livro homônimo; “As Quatro Estações e Outros Poemas”; “Enquanto Vivemos”; e “Luz no Chapéu”. Destes dois últimos, o primeiro corresponde ao livro com o mesmo título. O outro, “Luz no Chapéu”, antecipa poemas de um livro que o autor
na época planejava publicar.
Embora não tenha desenvolvido uma obra volumosa, Jayro José Xavier mereceu elogios de nomes destacados da crítica literária, como Antonio Houaiss, Alfredo Bosi e Carlos Felipe Moisés.
É importante dizer que até bem pouco tempo eu não tinha sequer notícia da poesia de Jayro José Xavier. Tomei conhecimento dela graças à gentileza do poeta niteroiense Henrique Augusto Chaudon, que me enviou cópias em PDF dos livros Enquanto Vivemos e Poemas, de Xavier.
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Para a miniantologia deste boletim, selecionei seis textos, todos incluídos no volume Poemas. Quatro provêm originalmente do livro Enquanto Vivemos e dois pertencem a Luz no Chapéu, o título não lançado.
O primeiro texto é “Notas para uma Poética”, no qual o autor confere à sua arte um status quase religioso: “Um poema se escreve com as mãos / como quem reza / como quem toma nas mãos um punhado de terra”. Em “Moda do Irmão Francisco” — provavelmente uma referência a São Francisco de Assis —, o poeta inventa uma ilha utópica na qual “os homens se descobrem / para saudar o sol / e os homens se descobrem”.
Vale ressaltar aqui o duplo sentido do verbo "descobrir", em versos que
aparentemente se repetem. No primeiro, “os homens se descobrem” — isto é, tiram
o chapéu em reverência ao sol. No outro, o poeta propõe uma bela fantasia, essa de os seres humanos se descobrirem uns aos outros.
O tom religioso e angustiado retorna no poema “Clamor”. A lamentação é tão profunda que não se resume ao sentimento humano. Contamina até o mundo mineral. “E sobe, sobe / como se / das entranhas da terra”.
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Em “Quarenta Anos”, o poeta, ao completar essa idade, avalia ironicamente os
metais preciosos com que o tempo o vai enriquecendo: “Blocos de ouro branco na
boca / fios de prata na barba”. Apesar dos novos e opulentos cabedais
“metálicos”, ele lamenta não ter se tornado mais sábio. Os poetas, de fato, não
têm jeito: desprezam o “ouro” que têm na mão em nome de um pássaro abstrato, a sabedoria, que voa não se sabe onde, nem como. Se é que voa.
O poema “O caracol” apresenta uma análise lírica da vida desse molusco. “Nem é um bicho, é / um silêncio /lentíssimo — mucosa e casa /
movendo-se”. Coisa de observador minucioso que se debruça sobre o animalzinho para de seus passos extrair a seiva do poema.
O último texto é “Evanilda”, uma terna recordação de infância. Uma personagem do passado que teima em continuar presente na memória do poeta, promovendo diálogos impossíveis e miradas que não pedem licença à lógica para embaralhar tempos e espaços no contexto da poesia.
Abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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