Amigas e amigos,
Nesta edição, o poesia.net revisita, pela terceira vez, a obra da poeta paulista Hilda Hilst (1930-2004). A primeira incursão na poesia de Hilda circulou em 2004, coincidentemente na data de seu falecimento: 4 de fevereiro.
Naquele boletim (n. 54),
destacou-se o lirismo amoroso de Hilda Hilst, com poemas extraídos dos livros Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974) e Amavisse (1989).
A segunda visita ao trabalho de Hilda (poesia.net n. 353), de maio/2016, voltou a atenção para outro aspecto: seus diálogos poéticos com a indesejada das gentes, contidos no livro Da Morte. Odes Mínimas (2003). Agora, o retorno da autora foi motivado pelo recente lançamento de sua obra completa, com o título Da Poesia (Cia. das Letras, 2017).
Desse novo volume selecionei uma exata meia dúzia de poemas que formam mais uma pequena amostra das criações hilstianas.
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Vocês vão notar que vários dos poemas têm numerais, arábicos ou romanos, como títulos. Isso decorre do fato de que Hilda costumava escrever longas séries (às vezes, livros inteiros) de poemas numerados. O primeiro texto da seleção é “XX”, extraído do volume Balada do Festival (1955), terceiro título publicado pela poeta. Nesse poema, a autora discorre sobre o amor e conclui de forma desconsolada: “Somos humanos e frágeis / mas antes de tudo, sós”.
E até lamenta: “Ai daqueles que nos amam”.
O próximo poema, “[O Cavalo no Vale]” não tem título. Como sempre fazemos nesses casos, usamos à guisa de título o primeiro verso entre colchetes. Nele comparece uma Hilda em seu esplendor lírico. São apenas sugestões poéticas que terminam com um belo trecho musical: “Espero que a paisagem desta tarde // Adormeça / O cavalo no vale / O vento no capim / Os roseirais em mim”. Este poema foi publicado originalmente em Ode Fragmentária (1961).
Chega a vez do poema “I”, extraído do já citado livro Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974). O formato, aqui, é de um bilhete à pessoa amada, que já se inicia com um pedido de adesão da outra parte: “manda-me dizer: / — É lua cheia. A casa está vazia —”. Aparentemente, o amante que escreve, poeta, espera que do outro lado também haja um/a poeta. Afinal, não é sempre que alguém escreve uma antítese tão cheia de sugestões e convites.
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O poema “II” também vem de Júbilo Memória Noviciado da Paixão. Aqui, a dicção de Hilda
assume traços do lirismo amoroso de padrão clássico. Em linguagem elevada, coloca o amor num patamar inalcançável. “Esplêndida avidez, vasta ventura / Porque é mais vasto o sonho que elabora // Há tanto tempo sua própria tessitura”.
O texto seguinte, “8”, é parte do livro Trajetória Poética do Ser (1967).
Trata-se de uma dessas criações que conseguem compactar, em poucos e curtos versos, uma pequena joia lírica: “Unir numa só fonte / O que souber ser vale / Sendo altura”.
Vem, por fim, o poema “Do Desejo”. Mais uma vez, em apenas duas linhas, Hilda Hilst diz tudo. Este poema é, na verdade, uma epígrafe usada na abertura do livro homônimo, de 1992. Duas linhas verdadeiramente antológicas.
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Nascida em Jaú-SP em 1930, Hilda de Almeida Prado Hilst era filha de fazendeiros de café. Estudou na Faculdade de Direito da USP, onde concluiu o curso em 1952. A partir de 1964, recolhe-se à fazenda de sua mãe em Campinas-SP. Nesse local, construiu a Casa do Sol, sua residência e ambiente cultural, onde hospedou escritores e artistas. Além de poesia, Hilda Hilst escreveu ficção, peças de teatro e traduções. Seu legado inclui mais de 20 livros de poesia, agora reunidos em Da Poesia (Cia. das Letras, 2017).
A poeta faleceu em 2004.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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