Amigas e amigos,
O poeta Antonio Libério Neves (1934-) nasceu em Buriti Alegre-GO, mas estudou no Triângulo Mineiro e fixou-se em Belo Horizonte desde 1952.
Lá, formou-se em direito pela UFMG em 1960. Assim, para todos os efeitos, passou a ser mineiro — ou “goianeiro”, como o classificou o poeta
Bueno de Rivera.
Nos anos 60, influenciado pela poesia concreta, ajudou a fundar a revista Vereda, em parceria com outros jovens poetas, e também
trabalhou na redação do “Suplemento Literário” do Minas Gerais. Nessa época, conheceu o poeta Emílio Moura.
Libério Neves publicou dezenas de livros de poesia e prosa. Em poesia, estreou com a coletânea Pedra Solidão, em 1965, aos quais
se seguiram títulos como O Ermo (1969), Força de Gravidade em Terra de Vegetação Rasteira (1978), Circulação de Sangue
(1983), Litanias de Cão (2003) e Santa Tereza (2011). O autor publicou também 19 livros de literatura juvenil.
Os poemas transcritos na miniantologia ao lado foram todos extraídos do volume Papel Passado: Antologia Poética (2013), publicado
pela Editora UFMG. Contudo, ao pé de cada poema está indicado seu livro de origem.
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Comecemos com “Papel Passado”, poema inédito até o lançamento dessa antologia, à qual fornece o título. Preocupado com a idade
senil, o poeta dirige-se às pessoas de quem porventura venha a depender para “lavar meus panos de matéria” e “limpar os meus resíduos deste
mundo”. Agradecido, o poeta beija por antecipação as mãos dessas criaturas. Um gesto, conforme diz, de “humilhação final do corpo, essencial
talvez à filtração da alma”.
Vem a seguir “Impactos”, texto que também aparece pela primeira vez na antologia Papel Passado. Nesse poema, traça-se a trajetória
de todo ser humano, com amores, convivências e súplicas. Crescemos, vamos, vemos. E “súbito, nós fomos”.
O poema “Pássaro em vertical”, publicado em 1965 no livro de estreia de Libério Neves, é talvez sua criação mais conhecida e citada. Descreve
a execução de uma ave canora com um tiro. Com sua visualidade, põe em prática a influência da poesia concreta. Libério Neves é considerado
o primeiro poeta de Minas Gerais a aderir às propostas estéticas dos irmãos Campos e Décio Pignatari.
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Outro texto sobre pássaros: “Arara I”. Com uma dicção sucinta e colorida, esse
poema foi colhido no livro
Voa, Palavra, um dos títulos do poeta voltados especialmente para
leitores jovens. “Arara / ararA // indo ou voltando // cores em coral / no céu voando”. O leitor “vê” o bando de aves em algazarra.
O poema “Grafita”, publicado originalmente no livro Mineragem, também se destina ao leitor juvenil. Trata-se de um diálogo entre a mão
e o lápis, ou entre o pensamento (a consciência de quem escreve) e o que foi escrito,
sem deixar de pôr em conta os riscos de ofensa que a palavra traz.
O último poema da seleção é “Isopor”, outro texto juvenil. Aqui, o poeta parte das utilidades práticas desse material sintético e sugere: por
que não usá-lo para conservar o amor?
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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NOTA
O poeta Libério Neves faleceu em 11 de agosto de 2019.