Amigas e amigos,
No próximo domingo, os brasileiros têm diante de si uma responsabilidade descomunal: escolher entre a luz e a treva; entre a liberdade
e a sujeição; entre a democracia e o fascismo. Torço para que as pessoas, recusando mentiras e violências, saibam escolher a luz,
a liberdade, a democracia.
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Dez edições atrás, ao preparar o número 400 — contei isso brevemente no próprio boletim —, tive a ideia de organizar uma edição com poetas já publicados,
como faço de vez em quando. Só que, daquela vez, ocorreu-me usar um artifício matemático para escolher os poetas.
Montei, então, uma planilha
Excel para gerar os números dos boletins sorteados com base em progressões aritméticas ou geométricas. Assim, forneço o número do primeiro
boletim e uma razão de crescimento. O Excel dá, como resposta, a sequência de
números.
Os poetas que fazem parte
da presente edição foram determinados desse modo. Defini como primeiro boletim o número 4 (Carlos Pena Filho). Escolhi
uma progressão geométrica de razão igual a 2. Vieram então os seguintes números: 8 (Alphonsus de Guimaraens Filho); 16 (Casimiro de Brito);
32 (Orides Fontela); 64 (Konstantinos Kaváfis); 128 (Paul Éluard); e 256 (outra vez, Alphonsus de Guimaraens Filho). Neste ponto, a sequência
teve de parar, porque o próximo número cai num boletim que não existe: 512.
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E aqui vamos nós, portanto, para um boletim matemático e aleatório. Em cada edição sorteada, pincei um poema. Não me estenderei muito sobre
os poetas, uma vez que o leitor pode consultar o boletim original, indicado abaixo do nome do autor. Obviamente, não há nada em comum entre esses seis poetas escolhidos ao azar dos números.
Carlos Pena Filho
poesia.net n. 4 (2003)
Começamos com o pernambucano Carlos Pena Filho (1929-1960). Morto num acidente automobilístico em Recife, aos 31 anos, o poeta deixou uma obra
pequena mas genial, louvada pelos conterrâneos Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto. O poema escolhido foi o soneto “Testamento do Homem
Sensato”, talvez uma das páginas mais conhecidas de Pena Filho. Trata-se de um poema de pura e refinada sensibilidade.
A poesia de Carlos Pena Filho foi reunida num volume chamado Livro Geral, publicado em 1959 e relançado, com ampliações, em 1999. Tenho a
sorte de ter adquirido um exemplar dessa preciosidade num sebo. Atualmente, contudo — salvo desconhecimento de minha parte —, a obra não está
mais disponível. Uma pena para a poesia. A quem se interesse pelo trabalho do
poeta, uma boa opção é a antologia Os Melhores
Poemas de Carlos Pena Filho (Global Editora), organizada por Edilberto Coutinho.
Alphonsus de Guimaraens Filho
poesia.net n. 8 (2003) e
n. 256 (2008)
Contemplado duplamente pela roleta da progressão geométrica, o mineiro Alphonsus de Guimaraens Filho (1918-2008) pertenceu a uma verdadeira
dinastia literária. Filho do simbolista
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), era sobrinho-neto de Bernardo Guimarães (1825-1884), o autor de A Escrava Isaura; irmão
do contista João Alphonsus (1901-1944); e pai do poeta
Afonso Henriques Neto (1944-).
O poema de Guimaraens Filho escolhido no boletim n. 8 foi “Cantiga de Praia”, publicado originalmente em 1947. Praticante de um lirismo místico,
o poeta trabalha con sensações íntimas e momentos fugazes. Essa cantiga é bem um exemplo disso. O segundo poema, extraído do boletim n. 256,
é o soneto “XVI”, do livro Sonetos da Ausência (1940-1943). Nele, o poeta discorre sobre a solidão essencial do ser humano. Grande sonetista,
ele escreveu livros inteiros nessa forma poética, além de incluir sonetos em quase todas
as suas obras.
Casimiro de Brito
poesia.net n. 16 (2003)
Português, nascido em 1938, Casimiro de Brito está aqui por ter saído no poesia.net n. 16. Essa edição, aliás, tem uma característica bem
peculiar: é uma das quatro produzidas por colaboradores. Foi o jornalista Maurício Bonas quem apresentou o poeta e selecionou os poemas.
No texto “O Poema”, Casimiro de Brito faz uma brilhante e vibrante definição do que acredita deva ser a poesia. “Poemas, sim,
mas de fogo / devorador. Redondos como punhos diante do perigo. Barcos decididos / na tempestade”. Confesso a vocês que nunca pus as mãos, eu
mesmo, num livro de Casimiro. Mas é um poeta que eu gostaria de conhecer melhor.
Orides Fontela
poesia.net n. 32 (2003)
O número 32 foi o quarto sorteado, trazendo para este boletim a poeta paulista Orides Fontela (1940-1998). O poema selecionado, “Herança”, vem
do livro Rosácea (1986). Aqui, em poucas palavras, a poeta traça, de forma concreta e irônica, as raízes de sua
pobreza material.
Orides Fontela já teve publicada três vezes a reunião de sua poesia. A primeira,
ainda em vida da autora, foi o volume Trevo (1988), que saiu pela extinta
editora Duas Cidades na famosa coleção Claro Enigma. Em seguida, a hoje também extinta editora CosacNaify publicou sua Poesia Reunida
[1969-1996] em 2006. Depois, em 2015, saiu pela Editora Hedra o livro Poesia Completa [1969-1998], que inclui uma coleção de 22 poemas
inéditos. No mesmo ano, a Hedra também publicou O Enigma Orides, uma biografia da poeta, escrita por Gustavo de Castro.
Konstantinos Kaváfis
poesia.net n. 64 (2004)
O grego Konstantinos Kaváfis (1863-1933) tornou-se conhecido no Brasil graças ao
trabalho do poeta
José Paulo Paes, que traduziu não apenas
a coletânea Poesia Moderna da Grécia (1986) como dedicou um volume inteiro, Poemas (1982), ao trabalho de Kaváfis.
O poema selecionado aqui é o antológico “À Espera dos Bárbaros”. Há uma reunião de pessoas na praça
de uma presumível cidade grega antiga.
Discute-se, com preocupação, a chegada dos bárbaros. Não se define quem sejam esses invasores. E todos, da plebe às altas autoridades, se
deixam envolver com o mito dessa invasão, que não acontece. Trata-se de uma espécie de Esperando Godot da Grécia clássica.
Paul Éluard
poesia.net n. 128 (2005)
O último número apontado por nossa roleta é o 128, que corresponde ao poeta francês Paul Éluard (1895-1952). O poema escolhido para esta
revisitação foi “Lembrança Afetuosa” (Souvenir Affectueux), do livro La Vie Immédiate (A Vida Imediata), de 1932. A tradução, mais uma vez, é do poeta José Paulo Paes.
Para Paes, que organizou e publicou no Brasil a antologia Poemas de Éluard, o poeta francês tem toda a sua obra marcada pelo
surrealismo. Mesmo quando se propõe a escrever poesia engajada, não abre mão das metáforas nas quais confunde o amor à mulher e o amor à
liberdade. “Lembrança Afetuosa” foi escrito em sua fase tipicamente surrealista.
O poema exibe um lirismo vago, triste e marcadamente pessoal.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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LANÇAMENTOS
Dois livros de poemas entram em circulação nesta semana,
um em São Paulo e o outro em Recife.
A Casa & Outros Poemas
• Ecléa Bosi
“Se mora alguém nessa pequena casa / e vê o jardim atrás dessa janela / terá sentido o palpitar da asa / do sonho que
esquecemos dentro dela?!” Estes são versos do livro A Casa & Outros Poemas, de Ecléa Bosi (1936-2017), lançado agora pela
Editora Com-Arte e a Lis Gráfica.
Quando:
Quarta-feira, 24/10/2018, das 18 às 20h
Onde:
Livraria João Alexandre Barbosa
Av. Prof. Luciano Gualberto, 78 - Espaço Brasiliana
Cidade Universitária - USP
São Paulo, SP
Estranha Beleza - Antologia Brasileira da Retranca
• Cláudia Cordeiro e Gustavo Felicíssimo (orgs.)
Cláudia Cordeiro e Gustavo Felicíssimo (orgs.) lançam Estranha Beleza - Antologia Brasileira da Retranca - Em Memória
de Alberto Cunha Melo. Publicado pela Editora Mondrongo, o livro conta com a participação de 35 poetas que escrevem
“retrancas” — forma poética inventada pelo poeta homenageado, o pernambucano Alberto da Cunha Melo (1942-2007).
Quando:
Sábado, 27/10/2018, das 16 às 20h
Onde:
Casa Cultural Villa Ritinha
Rua da Soledade, 35 - Boa Vista
Recife, PE
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