Amigas e amigos,
Após o recesso de janeiro, o poesia.net está de volta.
Esta edição é dedicada a um tipo de poema especial — aquele no qual a poesia se detém para apreciar a arte dos pincéis. Para ser mais exato:
não se trata de poemas que fazem referências genéricas à pintura ou mesmo citam, de passagem, uma obra pictórica.
Refiro-me, especificamente, ao caso em que o poeta dedica um poema inteiro a uma tela, comentando-a, falando de suas emoções diante dela ou
extraindo da imagem alguma reflexão. É como se o poeta tentasse dizer com palavras o que o pintor expressou em pinceladas e cores.
Reuni aqui quatro poetas brasileiros, quatro poemas, três pintores e quatro pinturas. Primeiro, vêm o poeta carioca Paulo Henriques Britto e o quadro
“Homem numa cadeira” (1983-85), do alemão naturalizado britânico Lucian Freud (1922-2011), neto do criador da psicanálise. Em seguida, o poeta baiano
Antonio Brasileiro e a tela “A rendeira” (1671), do pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675).
O mesmo Vermeer, com o famoso quadro “Moça com brinco de pérola” (1665-1666), é o ponto de partida para a poeta paulista Sônia Barros, num poema homônimo
da pintura. Por fim, é o artista plástico francês Yves Klein (1928-1962) quem impressiona os olhos e a inspiração do mineiro Donizete Galvão, com o quadro de
azul profundo chamado “International Klein Blue” (1961-62).
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Paulo Henriques Britto
+ Lucian Freud
Especialista em retratos, Lucian Freud pintou “Homem numa cadeira” entre 1983 e 1985. Por sua vez, Paulo Henriques Britto publicou o poema
“Man in a chair” (título original do quadro) no livro Formas do Nada, de 2012.
Britto enxerga no homem crispado de Lucian Freud a tensão de quem nervosamente espera. “Sem esperanças / nem expectativas”. Ou, pior ainda,
“como quem não / espera exatamente nada”.
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Antonio Brasileiro
+ Johannes Vermeer
O poeta Antonio Brasileiro, que também é pintor, dirige o olhar para uma tela produzida há
cerca de 350 anos. Para ele, a moça de Vermeer
no quadro “A rendeira” parece tão entretida (talvez fosse melhor dizer:
entretecida) em seu ofício que resume toda a verdade do mundo num único ponto de cruz.
O poema “Quadro na Parede”, escrito em 1981, foi publicado por Brasileiro no volume Poemas Reunidos (2005). Faz parte de um livro chamado
Entre Facas, que integra essa reunião, porém nunca apareceu como obra independente.
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Sônia Barros
+ Johannes Vermeer
“Moça com brinco de pérola” é talvez o mais famoso quadro de Johannes Vermeer. O breve poema homônimo de Sônia Barros volta todas as atenções
para os olhos da moça, nos quais a poeta enxerga sonhos e desejos. O texto apareceu originalmente no livro Fios, de 2014.
Essa tela de Vermeer é tão sugestiva que já inspirou o romance Moça com Brinco de Pérola (1999), da americana Tracy Chevalier,
adaptado em 2003 para o filme de mesmo nome, estrelado por Scarlett Johansson (a moça) e Colin Firth (Vermeer).
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Donizete Galvão
+ Yves Klein
O poeta Donizete Galvão (1955-2014) revelava especial interesse nas artes plásticas. Vários de seus textos fazem referência a pintores e pinturas.
Em “International Klein Blue” (do livro As Faces do Rio, 1991), ele se entrega a uma especulação lírica em torno de uma tonalidade de azul
criada por Yves Klein.
Batizada como International Klein Blue, ou IKB, o Azul Klein é um matiz obtido pelo pintor mediante certa mistura de pigmentos. Em 1960,
Klein chegou a registrar a composição química para obter esse tom de azul-marinho. Empolgado, o artista produziu numerosos quadros
monocromáticos usando essa cor. A tela mostrada aqui é a “IKB 191”, de 1962.
Para o poeta Donizete Galvão, o Azul Klein representa uma tonalidade tão intensa e penetrante que ele a chama de “azul anzol”, “azul ímã”,
“azul navalha”. Curiosamente, esta última denominação é o título do primeiro livro de Galvão, Azul Navalha (1988).
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Os poetas reunidos neste boletim já estiveram aqui em outras edições:
Paulo Henriques Britto
• poesia.net n. 45 e
n. 412
Antonio Brasileiro
• poesia.net n. 26,
n. 293 e
n. 351
Sônia Barros
• poesia.net n. 207,
n. 267 e
327
Donizete Galvão
• poesia.net n. 19,
n. 236 e
n. 302
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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