Amigas e amigos,
Considerado um dos grandes mestres da literatura norte-americana no século XX, o poeta William Carlos Williams (1883-1963) já esteve aqui no poesia.net
na edição n. 30, de 2003, logo nos primeiros meses do boletim.
Estreante na poesia em 1909, Williams tornou-se um dos principais responsáveis pela renovação da linguagem poética em seu país. Em seus poemas, usou inglês coloquial
e influenciou muitos dos poetas das gerações posteriores, em especial os autores da
chamada Geração Beat, como Allen Ginsberg e Kenneth Rexroth.
Conhecido como WCW,
William Carlos Williams produziu copiosamente. Publicou mais de 20 títulos de poesia, outro tanto de obras em prosa e ainda quatro peças de teatro, mais o libreto
de uma ópera. No Brasil, a reunião mais conhecida de sua poesia foi traduzida pelo poeta José Paulo Paes: Poemas (Cia. das Letras, 1987).
Para José Paulo Paes, “William Carlos Williams se destaca por sua capacidade de transformar todo assunto ou objeto em matéria poética.
(...) Daí sua atenção toda peculiar
ao fugaz e ao diminuto, ao aparentemente desimportante, enfim”. Mas, em outro ponto, o mesmo José Paulo Paes faz questão de dizer que os poemas de WCW trabalham
com uma banalidade “fosforescente”.
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Neste boletim, as traduções de José Paulo Paes são a fonte principal. Contudo, abro a miniantologia ao lado com um poema traduzido pelo poeta carioca Antonio Cicero.
Trata-se de “Isto é só para dizer”.
Esse texto demonstra plenamente a observação de José Paulo Paes. WCW eleva um bilhete doméstico à condição de poema. Como diz Paes, estão aí o fugaz, o diminuto e o
aparentemente desimportante. Sem pedantismo, sem fogos de artifício, sem literatice.
No poema seguinte, “Explicação”, o poeta reafirma a ideia de prestar atenção ao cotidiano das pessoas humildes (“gente nossa que não é ninguém”). Avisa ainda aos
“cidadãos de prol” que também se interessa por eles — “só que não / da mesma maneira”.
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O próximo texto, “Poema”, pertence à mesma categoria de “Isto é só para dizer”. Aqui a atenção do poeta se volta, em detalhes, para uma ação trivial de um gato
doméstico. Naturalmente, esse tipo de poema, escrito entre 1921 e 1931, deve ter causado comichão nos conservadores da literatura.
A maneira como o poeta desenvolve o poema “Morte”, outro texto da mesma época, é também de deixar os conservadores de cabelo em pé. Nele,
WCW traz para a poesia a linguagem despachada e irreverente com que as pessoas, em conversas descomprometidas, abordam qualquer tema, inclusive a morte.
No poema “A uma velha pobre”, o tom descontraído se mantém. Agora, o poeta tenta descrever a satisfação de uma mulher idosa que come ameixas na rua. Já em “A Duração”,
o objeto é uma folha de papel pardo levada pelo vento. Mais uma vez, um poema centrado naquilo que parece minúsculo e insignificante.
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Filho de pai inglês (criado na República Dominicana) e mãe porto-riquenha, William Carlos Williams foi médico pediatra e clínico geral. Perspicaz observador, como se
pode constatar nos poemas, ele como poeta beneficiou-se da medicina, que lhe permitia o contato com famílias inteiras. Consta inclusive que atendia gratuitamente
clientes pobres em seu consultório.
Descobriu-se recentemente, em 2017, o lugar exato em que WCW se inspirou para escrever seu poema mais famoso, “O Carrinho de Mão Vermelho”, publicado em 1923
(leia-o no boletim n. 30). Para José Paulo Paes, esse poema é uma espécie
de “No Meio do Caminho” para a poesia moderna americana.
O carrinho de mão — segundo um historiador de Rutherford, cidade do estado de Nova Jersey onde WCW nasceu e passou a vida inteira — pertencia a um verdureiro
ambulante, negro, chamado Marshall. Foi na casa dele que Williams viu o carro de mão cercado de galinhas, como diz o poema. Assim, a casa ganhou a
atenção do Patrimônio Histórico da cidade.
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É preciso deixar claro que a poesia de William Carlos Williams, especialmente seus escritos em idade mais madura, inclui também poemas em outras dicções, mais
reflexivas e mais complexas. No entanto, o objetivo aqui foi mostrar alguns exemplos da poesia que o tornou tão famoso e tão influente na literatura norte-americana.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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