Amigas e amigos,
Poeta, ficcionista e ensaísta, o maranhense Ronaldo Costa Fernandes (São Luís, 1952) já esteve outras vezes neste quinzenário: poesia.net
n. 313,
n. 263 e
n. 126. Agora, o poeta nos visita mais uma vez, graças ao
lançamento recente de sua nova coletânea, Matadouro de Vozes (7Letras, 2018).
Consistente em sua trajetória, a poesia de Ronaldo Costa Fernandes destaca-se pela força das metáforas e se move em ritmo ágil, sem nunca ocultar os
percalços e o exaustivo exercício de estar no mundo. Este Matadouro de Vozes não se afasta desse rumo. Não é à toa que o poeta, crítico e ensaísta
carioca Antonio Carlos Secchin classifica o conteúdo desse livro como
“tensa e densa poesia”.
De fato, o que se lê nos textos de Costa Fernandes está sempre envolto num clima de tensão, com metáforas que expressam certa dificuldade de dizer e sentir,
e uma permanente inadequação.
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Para este boletim, selecionei seis poemas de Matadouro de Vozes. O primeiro é “Elevadores”, no qual se percebe a destreza com que o poeta trabalha
com as metáforas. O título remete a essas máquinas triviais para quem vive em cidades. Mas o texto não fica por aí: criva o leitor de perguntas que remetem
a exigentes situações existenciais. Exemplo: “Em que andar descerei / quando chegar a minha hora?”
Em “Leito Profano” aparece outra cena aparentemente comum. Um casal na cama. Contudo, surgem, como sempre, novos ângulos de observação que chegam a negar
inclusive aquilo que os olhos enxergam. “Os amantes não são dois, muito menos um, / são muitos que se deitam na mesma cama (...)”. Esse deslocamento
frustra as expectativas mais rasas, forçando o leitor a ficar atento a aspectos inesperados. Não há caminho suave: o trajeto proposto é sempre
incômodo e pedregoso.
Em “Caderno” vêm os mesmos impedimentos. No outono, “tempo de cinzas”, é difícil escrever. Os galhos secos não sugerem nada para o corpo do texto, mas
o chão se apresenta “coalhado de pontos finais”. Já em “Búfalo Sobre Plantação” o texto começa com uma declaração bombástica: “Meu cérebro dói de tanta
esperança.” No decorrer do poema, vai-se constatar que não existe aí nenhuma ingenuidade. Há espaço para a esperança, porém não sem passar pelas
“paredes milenares do homem”, que impedem o trânsito, “e a cachoeira das águas passadas / que movem o moinho das desventuras”.
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No poema “Farinha” brilha a sentença final, que — mais uma vez — confirma a inedequação do sujeito lírico que fala nos poemas de Ronaldo Costa Fernandes:
“Nada me desassossega / mais que o sossego”. Aqui, outra flagrante quebra de expectativa e novo estremeção na tranquilidade do leitor.
Por fim, em “O Papel de Cada Um”, faz-se uma espécie de medição do peso específico de vários tipos de documentos: papéis de divórcio, atestado
de óbito. E a própria epiderme entra nesse levantamento: “Minha pele, o papel do meu corpo, / se destitui do tempo.”
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Ronaldo Costa Fernandes é maranhense criado no Rio de Janeiro e radicado em Brasília. Doutor em literatura pela UnB,
escreveu em prosa, entre outros títulos, os romances O Viúvo (2005) e Um Homem é Muito Pouco (2010), a coleção de contos
Manual de Tortura (2007) e o ensaio A Ideologia do Personagem Brasileiro (2007).
Como poeta, Costa Fernandes estreou com o volume Urbe, de 1975, hoje renegado.
Vieram depois Estrangeiro (1997), Terratreme (1998), Andarilho
(2000), Eterno Passageiro (2004), A Máquina das Mãos (2009) e
Memória dos Porcos (2012), O Difícil Exercício das Cinzas (2014) e Matadouro de Vozes (2018).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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LANÇAMENTOS
Cinco livros em São Paulo (um de memórias, três de poesia e um romance) e mais um de contos em Santiago do
Cacém, no Alentejo, Portugal.
O País da Utopia
Renata Pallottini
“Tudo aqui vai ser mentira e verdade, imaginação, lembrança alheia, lembrança minha, saudade e um pouco de História”. Assim escreve a poeta, dramaturga
e tradutora paulistana Renata Pallottini sobre seu livro de memórias
O País da Utopia, lançado agora pela Editora Hucitec.
Quando:
Sexta-feira, 26/04/2019, às 18h30
Onde:
Livraria Martins Fontes
Av. Paulista, 509
(próx. à Estação Brigadeiro do Metrô)
São Paulo, SP
• Se o que Eu Vi
André Caramuru Aubert
• Outono Azul a Sul
Calí Boreaz
• Fundamentos de Ventilação
e Apneia
Alberto Bresciani
A Editora Patuá lança três novos trabalhos dos poetas André Caramuru Aubert (Se o que
Eu Vi), Calí Boreaz (Outono Azul a Sul) e Alberto Bresciani (Fundamentos de Ventilação e Apneia).
Quando:
Sexta-feira, 03/05/2019, às 19h
Onde:
Patuscada Livraria, Bar & Café
Rua Luís Murat, 40
Vila Madalena
São Paulo, SP
Histórias de um Tempo Só
Ana Zorrinho
A escritora e atriz portuguesa Ana Zorrinho lança o livro Histórias de um Tempo Só, que
reúne dez contos unidos pela temática da solidão. O livro sai pela editora
Caleidoscópio e tem prefácio de Isabel Lustosa, professora da Universidade Nova
de Lisboa.
Quando:
Sábado, 04/05/2019,
a partir das 16h30
Onde:
Casa dos Arcos
Rua da Misericórdia, n. 7
Largo do Pelourinho
Santiago do Cacém
Alentejo, Portugal
O Verão Tardio
Luiz Ruffato
O escritor mineiro Luiz Ruffato lança novo romance, O Verão Tardio. Segundo o autor, o
livro pode ser lido como “uma descrição da história brasileira contemporânea, na qual as classes sociais — pobres,
remediados, ricos — romperam o diálogo”.
Quando:
Terça-feira, 07/05/2019, às 19h
Onde:
Livraria Martins Fontes
Av. Paulista, 509
(próx. à Estação Brigadeiro do Metrô)
São Paulo, SP
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