Slava Fokk, pintor russo, Moça com pássaro (2015)
• Manuel Bandeira
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Sugestão da leitora Cristina Dias, de São Paulo.
A seguir, exceto informação en contrário, todas as outras
aberturas de poemas foram sugeridas por esta leitora.
ESTRELA DA MANHÃ
Eu queria a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Sugestão do leitor Hebel Costa, do Rio de Janeiro
• Alphonsus de Guimaraens
ESTÃO MORTAS AS MÃOS DAQUELA DONA
Estão mortas as mãos daquela Dona,
Brancas e quietas como o luar que vela
As noites romanescas de Verona
E as barbacãs e torres de Castela...
Indicação do poeta Ruy Espinheira Filho, de Salvador
Slava Fokk, Moça de azul (2015)
• Mário de Andrade
QUANDO EU MORRER
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
• Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso,
tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Slava Fokk, Beija-flor (2017)
• Olavo Bilac
VIA LÁCTEA - SONETO XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
• Antonio Cicero
GUARDAR
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
• Vinicius de Moraes
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Slava Fokk, Pássaro único (2013)
• Adélia Prado
CASAMENTO
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
• Ferreira Gullar
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
NÃO-COISA
O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
• Gonçalves Dias
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Slava Fokk, Lótus (2018)
• Cecília Meireles
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
• Edgar Allan Poe
O CORVO
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
Tradução: Fernando Pessoa
THE RAVEN
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore —
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
• João Cabral de Melo Neto
MORTE E VIDA SEVERINA
— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
• Manoel de Barros
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Slava Fokk, Flamingo (2013)
• Konstantinos Kaváfis
À ESPERA DOS BÁRBAROS
O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Tradução: José Paulo Paes
• Paul Verlaine
CANÇÃO DE OUTONO
Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh'alma
Num langor de calma
E sono.
Tradução: Alphonsus de Guimaraens
Indicação: poesia.net
CHANSON D’AUTOMNE
Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon coeur
D’une langueur
Monotone.