Amigas e amigos,
Na edição n. 410, há cerca de nove meses, usei um método matemático para
selecionar os poetas do boletim. Com base em progressões geométricas, montei uma planilha do Excel para calcular os números dos boletins de onde foram extraídos os poemas.
Recorri agora ao mesmo artifício para
organizar o presente boletim. Forneci à planilha dois números: 5 e 2,15. O primeiro corresponde ao termo inicial
e o outro, à razão da progressão. Os números resultantes, fracionários, foram
arredondados para inteiros.
O termo inicial, 5, corresponde a Cecília Meireles. Depois, o Excel forneceu os seguintes números: 11 (Langston Hughes); 23 (Ieda Estergilda de Abreu);
50 (Rainer Maria Rilke); 107 (Dylan Thomas); e 230 (Carla Andrade). O próximo número já seria 494, fora do alcance do boletim (esta é a edição n. 428).
A brincadeira matemática indicou seis poetas: três mulheres brasileiras e três homens estrangeiros: um estadunidense, um tcheco-austríaco e um galês.
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Vamos ao boletim. Em cada edição sorteada, selecionei um poema. Como da primeira vez, serei breve nos comentários, tendo em mente que o leitor pode consultar
o boletim original, indicado junto ao nome do autor.
Cecília Meireles
poesia.net n. 5 (2003)
O poema de Cecília Meireles (1901-1964), “Lamento do Oficial por seu Cavalo Morto” — que, neste caso, era o único no boletim original — oferece uma profunda reflexão
sobre um aspecto da guerra. Um oficial medita sobre a morte de seu cavalo e entende que o animal morreu no lugar do dono.
O texto também pode ser visto como um anátema à guerra e ao uso da ciência e da tecnologia como armas de dominação e destruição. Vale observar que o poema apareceu
originalmente no livro Mar Absoluto, de 1945. Deve, portanto, ter sido escrito sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.
Langston Hughes
poesia.net n. 11 (2003)
“O negro fala sobre rios” está entre os poemas mais conhecidos do autor negro norte-americano Langston Hughes (1902-1967). Nele, o poeta considera a história das
comunidades negras desde a antiguidade até a diáspora na América.
Num disco, Hughes conta como escreveu este poema. Aos 18 anos, ele viajava de trem para o México, onde o pai morava. O trem cruzou o rio Mississippi ao cair da tarde e
ele começou a pensar sobre a escravidão e o que aquele rio representara para os negros americanos.
Ieda Estergilda de Abreu
poesia.net n. 23 (2003)
Cearense radicada em São Paulo desde os anos 1970, Ieda Estergilda de Abreu (1943-) é poeta, advogada e jornalista da área cultural. O poema “Ideário (1)” traça um levantamento
de coisas que são, na perspectiva da autora, duradouras ou passageiras. Este poema foi publicado em seu quarto livro, A Véspera do Grito, de 2001.
Rainer Maria Rilke
poesia.net n. 50 (2003)
Embora celebrizado pelas suas extensas Elegias de Duíno, o poeta Rainer
Maria Rilke (1875-1926)
também escreveu belíssimos poemas curtos. Um deles é “A Pantera”, transcrito ao lado.
No texto, o autor retrata toda a tensão do poderoso felino, movimentando-se em círculos dentro de uma jaula. É como se houvesse, no corpo da pantera, uma enorme reserva de
energia represada. A tradução é do poeta Augusto de Campos.
Dylan Thomas
poesia.net n. 107 (2005)
“Não entres nessa noite acolhedora com doçura” é o poema de maior reverberação do galês Dylan Thomas (1914-1953). O texto constitui um apelo ao pai do autor, que, doente,
começou a se render. Para animá-lo, o poeta recomenda raiva e rebeldia “contra a morte da luz”. Em outras palavras, não aceite a morte com doçura.
Este texto de Dylan Thomas tem a forma de vilanela, poema formado por vários tercetos e uma quadra final, com esquema fixo de rimas e distribuição dos versos. O primeiro e
o terceiro versos da primeira estrofe, que rimam entre si, vão-se repetindo, alternadamente, nas estrofes seguintes. Os dois fecham a quadra final. Além disso, em cada estrofe,
o verso número 1 rima com o número 3; e todos os de número 2 mantêm a mesma rima. Confira o esquema no texto em inglês. A tradução é do poeta e acadêmico carioca
Ivan Junqueira (1934-2014).
Nos EUA,
Dylan Thomas tornou-se um ídolo para os poetas da chamada beat generation.
Além disso, o cantor e compositor americano Robert Allen Zimmerman, Prêmio Nobel de Literatura
de 2016,
adotou na juventude o nome Bob Dylan em homenagem ao bardo galês.
Carla Andrade
poesia.net n. 230 (2007)
O poema “Saltimbancos” foi o escolhido no boletim n. 230, focado no livro Conjugação de Pingos de Chuva (2007), da poeta e jornalista mineiro-brasiliense Carla Andrade
(Belo Horizonte, 1977).
No poema, a autora afirma que “a vida é só um picadeiro de circo”. Logo, somos todos saltimbancos, com nossas experiências e lembranças. Conjugação de Pingos de Chuva
foi o livro de estreia da poeta, que já publicou uma série de outros títulos.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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