Amigas e amigos,
O poeta Alberto Bresciani (Rio de Janeiro, 1961) comparece, mais uma vez, a esta página.
Agora, ele vem a bordo de nova coletânea,
Fundamentos de Ventilação e Apneia (Patuá, 2019), lançada em abril.
Resultante de elaboração notoriamente sofisticada, a poesia de Alberto Bresciani tende a lidar com a incerteza, a insuficiência de alternativas, a falta de saídas. Seu livro anterior,
Sem Passagem para Barcelona (José Olympio, 2015), lida com a impossibilidade de emprender viagem para uma cidade mítica,
representada por uma inalcançável Barcelona.
Em Fundamentos de Ventilação e Apneia, o clima é mais uma vez de ausência e perplexidade. Mas agora o que está em falta é o ar,
um suprimento vital e angustiante. É como se o poeta tivesse dado mais uma volta no parafuso
de compressão, o que torna o ambiente muito mais hostil.
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Para este boletim, selecionei cinco textos do livro, transcritos na coluna ao lado.
O poema “Bisões” compara a convivência humana ao deslocamento de uma manada desses bovídeos selvagens que segue em disparada “fugindo /
de absolutamente nada / e de quase tudo”. Naturalmente, esse desarticulado e crescente rebanho não sabe em busca de quê nem para onde vai.
Em “Metabolismo”, a corrida continua. O ambiente passa a ser o da cidade, da escola. A falta de ar é a mesma. Tanto que se torna necessária
uma traqueostomia, para forçar artificialmente o acesso ao ar. A tensão é intensa, porque as pessoas digerem relógios. O tempo. O tempo.
O tempo. Temos pressa.
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Ao longo do livro, Alberto Bresciani desfia uma extensa coleção de seres, que passa por bisões, lobos, carneiros, aves e peixes.
No entanto, toda essa fauna remete inapelavelmente ao bicho-homem e às asfixias da civilização.
No próximo poema, “De Profundis”, os animais em questão são peixes das profundezas aquáticas cuja respiração está falhando. Talvez eles
precisem emergir em busca de ar. Não se pode esquecer, também, que o título — em latim — remete ao Salmo 130 da Bíblia, no qual alguém desesperado
recorre a Deus: “Das profundezas a ti clamo, ó Senhor. // Senhor, escuta a minha voz”.
Um trecho marcante neste poema está nos versos “Há que se forjar o fôlego, / renegar a verdade”. No ambiente irrespirável, para
encontrar o mínimo hausto que garanta a sobrevivência, é preciso mentir, fechar os olhos, fazer de conta.
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No poema “Anatomia”, prevalece a certeza do fim e sobrevém a ideia da inutilidade de toda a correria, considerada exatamente numa
segunda-feira, o dia-símbolo de retorno à correria. “Para o que servem coração, / rins, fígado, veia cava, / gônadas e glândulas /
vocacionadas ao pó?”, indaga o sujeito lírico. Para maior desânimo, ele sabe que todos esses “dispositivos complexos” da anatomia têm
a mesma vocação, estejam em seres humanos, bisões, “enguias, ursos, / tartarugas e gaivotas”.
E chegamos ao último texto da amostra desses angustiantes Fundamentos de Ventilação e Apneia. Em “Moto-Contínuo”,
o animal agora é uma atração de circo, que leva chicotadas de uma domadora — e é obrigado a sorrir. São vergastadas hereditárias,
porque esse “artista” (sem espécie definida) coleciona velhas cicatrizes como heranças de família.
No livro anterior, não havia passagem (bilhete ou via de acesso) para se chegar à cidade do desafogo. Neste, com mais uma volta do parafuso,
o estado de ansiedade é bem mais precupante. Agora falta o ar e, aparentemente, nem se cultiva mais um horizonte mental no qual se encontra
uma inalcançável Barcelona como meta de chegada.
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Alberto Bresciani graduou-se em direito na Universidade Federal de Juiz
de Fora e tornou-se magistrado por concurso público. Na Justiça, fez carreira
como juiz, desembargador e, desde 2006, é ministro do Tribunal Superior do
Trabalho. Seus livros anteriores de poesia são: Sem Passagem para Barcelona (2015) e Incompleto Movimento (2011), ambos publicados pela José Olympio.
Bresciani já esteve
aqui no poesia.net nas edições n. 342,
de 2015, e n. 279, de 2012.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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LANÇAMENTO
Visível ao Destino
• Eunice Arruda
A Editora Patuá lança o livro póstumo Visível ao Destino, com a obra completa e poemas
inéditos da escritora paulista Eunice Arruda (1939-2017).
O volume é também uma comemoração dos 80 anos da poeta.
Quando:
Sábado, 21/09/2019, às 16h
Onde:
Patuscada Livraria, Bar & Café
Rua Luís Murat, 40 - Pinheiros
São Paulo, SP
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