Amigas e amigos,
A poeta em foco nesta edição é a potiguar Iara Maria Carvalho, que já nos deu a alegria de ler seus versos, aqui, nas edições
n. 371, de 2017, e
n. 349, de 2016.
Agora, a autora retorna a esta página graças ao recente lançamento de sua nova coletânea de poemas, Meia Porção de Sol
(Offset Editora, Natal, 2021).
Em seu novo livro, Iara Maria Carvalho continua a explorar algumas das principais linhas de força de sua poesia, entre as quais se
destaca a apreciação lírica de suas próprias vivências, sempre permeada pela intervenção de pessoas, bichos e coisas de sua região.
Iara nasceu e vive em Currais Novos-RN, na região do Seridó, que engloba municípios do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Antes de apresentar os poemas selecionados para a miniantologia desta edição, devo dizer que se trata de textos que eu
já conhecia antes de ter o livro nas mãos. A autora distinguiu os poetas
Adriane Garcia,
Alberto Bresciani
e também a mim para participar desse livro. Adriane e Alberto escreveram as orelhas e eu o prefácio.
Portanto, recebemos porções de sol do Seridó desde o ano passado.
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Vamos aos poemas. Meia Porção de Sol, de Iara Maria Carvalho, é também um livro de memórias. Quase todos os primeiros poemas
da coletânea fazem referências a personagens e histórias extraídas de recordações pessoais da autora. É o caso de “Antes do Riso”,
o primeiro poema da seleta ao lado. Nele, aparecem o avô em sua oficina invadida pelos netos. Nessa oficina, afirma o texto,
“tudo tinha um aroma / de sol nascendo”.
O próximo poema, “Na Filizola”, segue no mesmo tom. Agora o ambiente é a mercearia do pai, que vendia “fichas de orelhão,
/ chiclete Ploc, cajuína /— memórias embrulhadas / em papel de pão”. Aqui, um envolvente passe de mágica: numa lista de
mercadorias, substantivos concretos de comércio, surgem de repente as memórias. Truque semelhante vem no final: a balança Filizola
da mercearia, identificada com os ombros do sujeito lírico, mede o peso dos “nascidos para chorar”.
As memórias continuam. Em “No Batente”, destaca-se agora uma vizinha, Dona Júlia, uma idosa já falecida, mas que a voz narradora
do poema jura que a viu em espírito. Lembranças. O melhor de tudo é que nós, leitores, também nos convencemos de que Dona Júlia
está ali, viva e ativa, pitando seu cigarro, sentada no batente.
O texto registra ainda que a lembrança da vizinha vem toda vez que surge no ar um cheiro de cigarro. Conforme assinala Adriane Garcia na
primeira orelha de Meia Porção de Sol, a poeta “escolhe a poesia para dizer dos sentidos: a memória é visual, auditiva, olfativa,
gustativa, tátil, mas a poesia ainda conta com os sentidos inominados”.
As recordações passeiam ainda no seio da família. No poema “Minha Mãe”, a genitora trabalha com uma máquina de costura Singer “e põe na caixa de botões /
os sentimentos extraviados”.
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Os dois últimos poemas ao lado aparecem na segunda parte do livro, na qual os textos não apresentam registros de memória. O poema “Reamar”,
por exemplo, constitui uma bela reflexão existencial sobre o “começar de novo” após o tropeço numa pedra do caminho.
Por fim, em “Segredos”, as sempre atarefadas operárias (que são, duplamente, mulheres e formigas) se deslocam nas ruas e
retornam ao lar, para a estranha convivência com seus companheiros. “O que as operárias / guardam no fundo / do formigueiro / ninguém sabe”.
“Ao terminar-se a leitura do livro, permanece a emoção, o deleite do ganho, o bom que se extrai da surpresa e da identificação. A poesia de
Iara Maria Carvalho, definitivamente, tem o ‘aroma de sol nascendo’ ” — garante Alberto Bresciani, na segunda orelha do livro.
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Nascida em 1980 na cidade de Currais Novos-RN, Iara Maria Carvalho é graduada em letras e mestra em estudos da linguagem pela UFRN.
Ativista cultural, foi uma das fundadoras do grupo Casarão de Poesia em sua cidade e hoje faz parte do coletivo Novos Potiguares.
Como poeta, Iara participou de várias antologias coletivas. Sua estreia em livro solo deu-se em 2011 com a coletânea Milagreira.
Seguiram-se as coletâneas Saraivada (2015) e Meia Porção de Sol (2021), esta última apresentada neste boletim.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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