Amigas e amigos,
A poeta em foco nesta edição aparece pela primeira vez no boletim, mas com certeza já devia ter aparecido aqui há muito tempo. Trata-se da amazonense
Astrid Cabral (Manaus, 1936). Autora de cerca de vinte coletâneas poéticas, Astrid acaba de lançar o livro Coração à Solta,
publicado pela editora Kade, de Maricá-RJ. No Brasil, o título vem à luz já em segunda edição. A primeira, bilíngue, saiu na França.
Nesse livro, a poeta se lança na aventura de explorar as mais diferentes modalidades do amor, desde o amor físico inflamado pelas labaredas da paixão
até as formas de sublimação dos amores nunca realizados. Nesta edição, apresento ao lado uma seleção de seis textos extraídos de Coração à Solta.
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Comecemos com o poema “Modo de Amar”. Neste caso, o tipo de amor é o explosivo, amor de terremoto. Nas palavras da poeta, “Amor como relâmpagos e sóis /
inaugurando auroras / ou ateando faíscas e incêndios / nas trevas da minha noite”. No texto seguinte, “Fusão”, a modalidade amorosa ainda é a mesma:
“Sejamos pois um nós / singular e não plural / trançados sem dó / num só nó”.
No poema, “Carestia”, o amor é sopesado como um fenômeno econômico, num processo que envolve “bolsos / e bolsas de moedas raras”, pagamentos, preços
altos e juros extorsivos. A conclusão é cruel: sofre mais o idealista que deseja alcançar apenas o amor como lucro nesse espinhoso empreendimento.
Há também amores doídos, mas sem conflitos nem terremotos carnais, como esse que se revela em “Abraço Póstumo”. É o caso do/a amante viúvo/a, que
identifica no próprio corpo heranças, tanto visíveis quanto intangíveis, do/a parceiro/a desaparecido/a.
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“Incêndio” é um poema bonito, no qual o outono da vida se apresenta “com folhas de adeus e fogo”. E o coração, sol cansado e poente, ainda assim
incendeia. Amor até o último raio, até a derradeira sílaba.
Por fim, “Tragediazinha” encerra a pequena amostra de poemas do livro. Coração à Solta. É a história melancólica porém jocosa da dona de
um “morno amor chove-não-molha”. Sem o amor de outro ser humano — que seria o “amor absoluto” —, a personagem “casa-se com a igreja / o fogão
a máquina de costura”.
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Mais de uma vez aqui no boletim, já tive a oportunidade de dizer que considero escrever sobre o tema amoroso uma das tarefas mais difíceis da
poesia. A razão é simples. Ao longo dos séculos, o amor tornou-se o assunto mais comum dos poemas e canções musicais.
Astrid Cabral enfrenta essa dificuldade e, como se pode ver, consegue sair-se muitíssimo bem, sem deixar de lado nenhum dos aspectos pertinentes
ao tema. As alegrias vulcânicas da paixão, as dores do abandono e também as melancolias e compensações dos amores não realizados.
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Astrid Cabral - Nascida em Manaus, transferiu-se ainda adolescente para o Rio de Janeiro, onde fez o curso de Línguas Neolatinas na UFRJ.
Como parte da primeira turma de docentes, Astrid lecionou língua e literatura na Universidade de Brasília (UnB, fundada em 1962), da qual foi
afastada em 1965, em consequência do golpe militar. Em 1968, ingressou por concurso no Itamaraty. Aí, serviu como oficial de chancelaria em
Brasília, Beirute, Rio e Chicago. Após a anistia, em 1988 Astrid foi reintegrada à UnB.
Astrid Cabral estreou na literatura com o livro de contos Alameda (1963) e daí enfileirou, ao longo dos
anos, cerca de vinte títulos, os quais reúnem obras em prosa, poesia e textos para o público infantil. A autora é viúva do poeta
goiano Afonso Felix de Sousa, apresentado aqui no boletim n. 337.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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