Amigas e amigos,
A poeta amazonense Astrid Cabral (Manaus, 1936) apareceu nesta página pela primeira vez na
edição n. 477, em 2021. Naquela oportunidade,
a autora foi destacada em razão
do lançamento da coletânea Coração à Solta (Kade, 2021).
Procurei em seguida outros livros da poeta e encontrei De Déu em Déu - Poemas Reunidos (1979-1994) (7 Letras, 1998), volume
no qual se baseia a presente edição. A obra reúne os textos de cinco livros da autora: Ponto de Cruz (1979), Torna-Viagem
(1981), Visgo da Terra (1986), Lição de Alice 1986) e Rês Desgarrada (1994).
Após selecionar uma série de textos
nessa reunião de livros, acabei ficando com uma amostra de seis poemas, todos extraídos de dois dos títulos listados acima:
Visgo da Terra e Lição de Alice.
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Comecemos com a leitura de “Busca”, poema no qual a autora se põe a recordar a infância. “Minha infância é hoje/ aquele peixe de prata/
que me escorregou da mão”. O texto seguinte, “Fim da Guerra”, também é feito de rememorações. Agora, são lembranças de meados dos anos
1940, quando um tio retorna da Segunda Grande Guerra,
na Europa.
Em “Metamorfose”, uma pequena reflexão sobre personagens que dão nomes às ruas de Manaus. “Onde estais agora/ ilustres senhores?/
Um dia vosso sapato/ pisou este planeta./ Hoje sois rua, nome de/ rua, placa, tabuleta”. Os três poemas citados até aqui foram extraídos
de Visgo da Terra, o terceiro livro de Astrid Cabral. Os três outros, a seguir, foram publicados originalmente em Lição de Alice.
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“Ritual”, um poema bem curto, compara o cultivo de plantas domésticas com o exercício de escrever poesia. Esta, na visão
da autora, corresponde a plantar “palavras de pedra/ regadas de pranto”. Em “Máscara”, um texto ainda mais breve que o
anterior, aparece a velha contradição entre essência e aparência: “Rasgar a máscara/ escancarar
a cara/ apesar da escara”. Na máscara, no rosto e na cicatriz, o mesmo eco: cara, cara, cara.
No bem-humorado poema “Filosofia de Bolso”, as palavras brincam com as dificuldades da vida, lançando mão de expressões
jocosas como “dar com os burros n’água” e “tirar leite das pedras”. E depois de tanto, tudo acaba na inglória tarefa
de “comer capim pela raiz”.
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Astrid Cabral - Nascida em Manaus (1936-), transferiu-se ainda adolescente para o Rio de Janeiro, onde fez o curso
de Línguas Neolatinas na UFRJ. Como parte da primeira turma de docentes, Astrid lecionou língua e literatura na Universidade
de Brasília (UnB, fundada em 1962), da qual foi afastada em 1965, em consequência do golpe militar. Em 1968, ingressou por
concurso no Itamaraty. Aí, serviu como oficial de chancelaria em Brasília, Beirute, Rio e Chicago. Após a anistia, em 1988
Astrid foi reintegrada à UnB.
Astrid Cabral estreou na literatura com o livro de contos Alameda (1963) e daí enfileirou, ao longo dos
anos, cerca de vinte títulos, os quais reúnem obras em prosa, poesia e textos para o público infantil. A autora é viúva do poeta
goiano Afonso Felix de Sousa, apresentado aqui no boletim n. 337.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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