Amigas e amigos,
Antes de tudo, devo dizer — com a mais limpa e constrangida sinceridade — que esta edição constitui, pelo menos para mim, uma
espécie de errata. Eu devia ter publicado este boletim há pelo menos três ou quatro anos. Aqui vai o histórico. Em 2016, o poeta,
cronista e romancista mineiro Marcílio Godoi enviou-me gentilmente um exemplar de seu livro de poemas
Estados Úmidos da Matéria (Patuá, 2016), sua obra de estreia na poesia.
Como faço com as coletâneas que me chegam às mãos, pus uma etiqueta autocolante na orelha do livro e nela anotei, durante a
leitura, as páginas dos poemas que me pareciam interessantes para um boletim. Fiz isso e depois cheguei a usar um desses
poemas na edição n. 404, de agosto/2018.
Nessa edição coletiva, Marcílio Godoi aparece ao lado do paulista
Heitor Ferraz Mello e do moçambicano
Mia Couto. O problema é que, depois,
esqueci o livro de Marcílio Godoi e os outros poemas marcados para uma edição do boletim. Agora, encontrei na estante os
Estados Úmidos da Matéria e vi lá a etiqueta com a indicação dos poemas. Falha extraordinária.
Mas, enfim, antes tarde do que mais tarde. Godoi e seu livro estão em destaque nesta edição.
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Começo com o poema “A Moça que Veio”, o mesmo incluído no boletim coletivo de 2018. É um texto de altíssima singeleza.
Vem a seguir “Alice”, outro poema que sugere certa ingenuidade. Contudo, a história dessa Alice diante do espelho é menos
casual. Há aí uma sofisticação na brincadeira com a dupla personalidade entre Alice e Lili.
“Prova de Biologia” é o próximo poema. Aqui, o teste de múltipla escolha propõe ao leitor encontrar uma resposta certa
para o que é o amor. Opção três: “( ) o amor é uma ciência inexata e,/ ao mesmo tempo,/ uma inconsciência exata”.
Responda o leitor, se souber.
“Ana Lis” é um poema musical, cheio de ritmo e rimas. Nele um cantor se dirige a sua amada, a moça do título, e sugere
as peripécias de um amor do interior, com direito ao badalar do relógio da matriz. Não entendo de música, mas penso que
essa Ana Lis está pedindo para ser musicada, se é que já não o foi, nestes seis anos em que o livro está circulando.
“Ana Lis, me diz/ ainda existe no mundo/ o direito a pedir bis/ das coisas que não valeram/ quando eu era inda aprendiz?”
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O poema seguinte, “120 Segundos”, oferece uma reflexão sobre quanto se pode viver sem ar ou sem água. A rigor, é um poema
sobre a morte, tema que é também o pano de fundo para “Último Pedido”. O neto rememora sua derradeira interação com o avô.
Vem, por fim, o poema “Prenúncio”. Em versos breves, o poeta conclui que a arte, inclusive a poesia, é uma forma de anunciar a morte.
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Marcílio Godoi (Araguari-MG) é jornalista, arquiteto e mestre em crítica literária e literatura brasileira. Ganhou
prêmios com textos em prosa, inclusive infantojuvenil, e publicou em 2016 Estados Úmidos da Matéria (Patuá), seu primeiro
livro de poesia. O autor também escreve crônicas e estreou no romance com o título Etelvina (Patuá, 2021).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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ADEUS À POETA
Com profundo pesar, registro o falecimento, em 15 de abril, da poeta Quinita Ribeiro Sampaio (1926-2022),
em Campinas-SP, cidade onde sempre viveu. Professora de língua portuguesa e literatura, Quinita
era uma amante das palavras. Poemas de seu livro Apendizagem pelo Avesso (2012) saíram aqui na
edição n. 344.
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ERRATA
Na edição anterior, escrevi que a poeta
Astrid Cabral estreou na poesia com o livro Alameda (1963). Trata-se, na verdade, de um livro de contos. A
correção já foi feita na
cópia do boletim hospedada no site. Agradeço ao poeta piauiense Diego Mendes Sousa a indicação do erro.
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