Amigas e amigos,
Neste ano a Casa da Moeda dos Estados Unidos põe em circulação novas moedas de 25 centavos de dólar, entre as quais uma que homenageia a poeta
Maya Angelou (1928-2014). Trata-se de um fato histórico: Angelou é a primeira mulher negra a receber tal honraria.
Maya Angelou, pseudônimo de Marguerite Annie Jonhson, nasceu em St. Louis, no estado do Missouri. Foi escritora, dançarina, cantora, atriz,
autora teatral, professora e ativista dos direitos civis. Sua estreia na literatura ocorreu em 1969, com a autobiografia
I Know Why The Caged Bird Sings (Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola), que conta sua vida até os 17 anos.
Com 8 anos de idade, ela foi estuprada pelo namorado de sua mãe. Denunciou o abuso à família.
O homem foi julgado, mas condenado a apenas um dia de prisão. Dias depois, o agressor foi morto por
espancamento. Suspeita-se que os autores do homicídio seriam tios da vítima.
O estupro e a morte do agressor traumatizaram a menina, que se manteve muda durante cerca de quatro anos. Voltou a falar aos 12 anos, por influência de
uma professora negra, Sra. Bertha Flowers, que despertou nela o gosto pela leitura e pela poesia. Aos 14, Maya mudou-se para a Califórnia, onde fez o ensino
médio e ganhou uma bolsa para estudar dança e teatro.
Aos 16 anos, foi a primeira mulher negra a conduzir bondes em San Francisco. Com 17, tornou-se mãe de Guy Johnson, seu único filho. Envolveu-se
em várias outras atividades: dançarina, cozinheira em lanchonetes e restaurantes. Foi até funcionária de uma oficina mecânica. Mas afinal sua carreira
se voltou para o palco. Percorreu a Europa cantando e atuando em peças teatrais. Nos anos 60, começou a escrever sua autobiografia.
Com uma vida tão cheia de peripécias, Maya Angelou publicou dezenas de livros, nas áreas de poesia, autobiografia (sete títulos), literatura
infantil, teatro, cinema e TV, e até culinária. Sua Poesia Completa e alguns volumes autobiográficos estão disponíveis em português.
Moeda de 25 centavos
de dólar com homenagem a Maya Angelou
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Para a microantologia deste boletim, escolhi três poemas de Maya Angelou. O primeiro deles é exatamente o texto mais conhecido da escritora:
“Still I Rise”, aqui traduzido por “Ainda Assim, Eu Me Levanto”, frase que também usei como título deste boletim.
Há na internet várias versões desse poema. Escolhi uma do tradutor Mauro Catopodis. O texto em português consegue manter alguns
recursos que me parecem fundamentais na poesia de Angelou, como as rimas e a oralidade do texto. Veja-se, ao lado, a própria Maya Angelou
lendo seu poema. É fácil perceber que o texto pressupõe certa leitura teatral. A versão em português também é mostrada aqui na
leitura da jornalista e apresentadora de TV fluminense Luciana Barreto.
Sim, os poemas de Maya Angelou têm muito a ver com a música, a fala, o teatro. Os versos de abertura são uma prova disso: “Você pode me riscar
da História/ Com mentiras lançadas ao ar./ Pode me jogar contra o chão de terra,/ Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar”.
Este poema representa um símbolo da resistência do negro americano, que enfrenta o preconceito, as leis racistas e todas as adversidades.
O tradutor lança mão de licenças poéticas bastante aceitáveis. Na segunda estrofe, o texto original diz algo como “Porque eu caminho como
quem tem poços de petróleo/ jorrando na sala de jantar” (tradução minha). Com isso, a autora parece referir-se à autoestima do negro militante,
que se mantém de pé e convoca seus irmãos a também se levantar.
Em sua tradução, Catopodis, talvez por causa da rima, troca os poços de petróleo por “riquezas dignas do grego Midas”. A troca talvez se deva
ao fato de que, para brasileiros, poços de petróleo não são propriedades particulares, como nos Estados Unidos. Então, a referência ao mitológico
rei Midas ficou perfeita. Outro momento forte: “Da favela, da humilhação imposta pela cor/ Eu me levanto/ De um passado enraizado na dor/ Eu me levanto”.
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Os outros dois poemas de Maya Angelou foram extraídos do volume Poesia Completa, publicado em 2020 pela editora Astral Cultural,
de Bauru-SP, com tradução da poeta paulistana Lubi Prates. O primeiro texto é “Trabalho de Mulher”. Nele o sujeito lírico é uma dona de
casa pobre, da área rural, mãe de filhos, que lista toda a infinidade de tarefas do seu dia a dia.
Desse rol de trabalhos fazem parte cuidar de crianças, remendar roupas, esfregar o chão, comprar e preparar comida, passar roupa e ainda
cortar cana e colher algodão. Não à toa, essa mulher conclui que só tem de seu a observação de elementos da natureza, como o sol,
a chuva e a luz das estrelas.
O último poema, “O Pássaro na Gaiola” (“Caged Bird”), é uma versão poética do que Maya Angelou sugere no título de seu primeiro
livro autobiográfico, Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola. A resposta está nos últimos versos: “o pássaro engaiolado/
canta por liberdade”.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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