Amigas e amigos,
Poeta, tradutora, editora e psicóloga, a paulistana Lubi Prates (1986-) escreve desde a infância, sob o incentivo da família. Estreou na poesia
em 2012 com a autopublicação do livro Coração na Boca, depois reeditado pela Patuá (2016). Também por essa editora, publicou Triz (2016).
Em 2018, a poeta lançou seu terceiro livro, Um corpo negro, que se tornou uma obra vitoriosa, agora já em terceira edição (2021). Finalista
do Prêmio Rio de Literatura (2018) e do Prêmio Jabuti (2019), Um corpo negro foi traduzido e publicado na Argentina, Colômbia, Croácia,
Espanha, Estados Unidos, França, Itália e Suíça. No Brasil, poemas dessa coletânea integram materiais didáticos do ensino fundamental e médio.
Um corpo negro sinaliza um divisor de águas na poesia de Lubi Prates. A autora admite que os estudos de psicologia, feminismo e relações
raciais introduziram em sua concepção estética uma preocupação social. Lubi Prates cursa o doutorado em Psicologia do Desenvolvimento
Humano na USP e também atua como psicóloga clínica.
Em seu trabalho como tradutora e editora, Lubi dedica-se, em suas próprias palavras, a “ações que combatem a invisibilidade de negros e mulheres”.
Aliás, a primeira referência a ela no poesia.net foi feita este ano, na
edição 489, dedicada à poesia da americana Maya Angelou,
de quem Lubi Prates traduziu para o português a Poesia Completa.
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Os textos da miniantologia desta edição foram todos extraídos do livro Um corpo negro. O primeiro poema é “Mátria e/ou terra-mãe”.
Nele, a poeta faz um mergulho na História e questiona a validade de tratar como mãe a terra que “permite/ que te arranquem/ o solo e os pés/
no mesmo instante”. E continua: “não é mãe/ se inventa um navio/ quando te jogam/ ao mar”. No poema seguinte do livro — “Como Chamar de”,
não transcrito aqui —, o questionamento se estende à palavra “pátria”, uma vez que dar à luz é condição feminina e “esse útero geográfico/
que me pariu” traz a imagem masculina de pai.
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O próximo texto, “Não foi um cruzeiro”, lembra, mais uma vez, a travessia do mar num navio negreiro: “meu nome e/ minha língua// (...)
esqueci no navio/ que me cruzou/ o Atlântico”. No terceiro poema da seleção, o título exprime o espanto do africano escravizado, sobrevivente
da tavessia, após pôr os pés na Terra de Santa Cruz: “Tudo aqui é um exílio”. E isso ocorre “apesar do sol/ das palmeiras/ dos sabiás”. E também
“apesar dos rostos/ quase todos negros/ dos corpos/ quase todos negros/ semelhantes ao meu”.
Por fim, no poema “Pele que habito”, o sujeito poético salta da geografia para dentro do próprio corpo: “minha pele é meu quarto./ minha pele
é todos os cômodos/ onde me alimento onde deito finjo/ o mínimo conforto”. Contudo, a orientação geográfica ainda está presente: “minha pele
não é casca/ é um mapa: onde África ocupa/ todos os espaços:/ cabeça útero pés”. O texto se fecha com um resumo certeiro: “minha pele é um mundo/
que não é só meu”.
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No prefácio de Um corpo negro, a baiana Lívia Natália,
poeta e professora de teoria da literatura da UFBA, afirma: “Este livro atualiza a discussão sobre o racismo a partir de um investimento delicado,
intenso, meticuloso de devolver humanidade às nossas travessias, às nossas dores, ao nosso ser e estar no mundo”. De fato, Lubi Prates produziu uma
ambiciosa coletânea de poemas que põem o dedo numa das feridas mais pungentes da sociedade brasileira.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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