POESIA BRASILEIRA HOJE
A quantas anda a poesia brasileira? Qualquer pessoa minimamente antenada é capaz
de perceber que existe hoje uma movimentação inédita nessa área.
Aparentemente, os poetas estão mais ativos, organizam-se saraus e leituras de
poesia, surgem novas revistas e jornais literários. Trata-se, portanto, de um
cenário que sugere comemorações.
No entanto, os especialistas que analisam o fenômeno mais de perto — ou, melhor,
de dentro — divergem quanto ao entendimento do que de fato está acontecendo.
Também curioso com isso, fiz uma pesquisa na internet e reuni abaixo links para
alguns ensaios, artigos e entrevistas sobre o assunto.
Nem sempre o poeta ou ensaísta fala especificamente sobre a situação atual da
poesia brasileira. Às vezes, fala de seu próprio trabalho e, no meio, inclui uma
apreciação de cunho mais geral. Confira as opiniões:
•
Fabrício Carpinejar, poeta, ensaísta
• Jorge
Lúcio de Campos, poeta, ensaísta
(Incluído em 30/01/2005)
•
Debate em As Escolhas Afectivas
O blog As
Escolhas Afectivas, organizado pelo poeta argentino Anibal Cristobo, propôs
um debate com a seguinte pergunta: "O que você acha da situação da poesia no
Brasil?"
Vários poetas aceitaram o desafio e expuseram em vários posts sua visão do
problema. Vale a pena acompanhar. O endereço é:
Debate em As Escolhas Afectivas.
(Incluído em 09/06/2007)
• A opinião de Alfredo Bosi
Acrescento, e
destaco, a opinião do professor Alfredo Bosi, da USP, nome que dispensa
apresentações. Em entrevista concedida a Rodolfo Vianna e publicada no n. 7
(dezembro, 2003) de Informe, boletim da FFLCH-USP, ele fala sobre a
produção literária atual. Eis o trecho da entrevista:
Pergunta —
Há boa literatura na produção jovem? Como o senhor prevê uma futura geração
literária, seu eixo ou temática?
Alfredo Bosi — A chamada "produção jovem" é abundantíssima. Quantidade
não lhe falta. Entretanto, salvo melhor juízo e raríssimas exceções, ela padece
de senilidade precoce. Sofisticação requentada, morbidez degenerativa, violência
autocomplacente mascarada de populismo de esquerda, sexualidade pervertida,
maneirismos compulsivos, obsessão mercadológica: sinais dos tempos. É preciso
detectar a juventude nos escritores que têm algo a dizer a seus contemporâneos,
o que nada tem a ver com a idade cronológica.
(Incluído em
04/03/2005)
• "Nouveau riche",
diz Ricardo Aleixo
Uma frase do
poeta belo-horizontino Ricardo Aleixo sobre a poesia que se faz hoje no
Brasil:
“O que predomina na poesia brasileira contemporânea é, ao contrário, na maioria
dos casos pura ostentação, típica desta mentalidade noveau riche, que se
contenta em macaquear modas literárias”.
A frase é parte de uma entrevista publicada no livro Dez Conversas: Diálogos
com Poetas Contemporâneos (Gutenberg Editora, 2004), de autoria do
jornalista, professor e poeta mineiro Fabrício Marques.
(Incluído em
27/03/2005)
• "O ecletismo não me entusiasma",
aponta Augusto de Campos
Trecho de uma
entrevista do poeta Augusto de Campos concedida a José Carlos Prioste e
publicada em recente edição da revista Poesia Sempre, da Biblioteca
Nacional:
“O verso, tal como praticado antes do “Lance de dados” e das vanguardas do
começo do século, reprocessadas e sintetizadas pela poesia concreta no início da
segunda metade do século, é uma mina exaurida. Pode haver, aqui e ali, algum
último filão a raspar do fundo da mina, mas é raro. (...)
Há sempre gente interessante fazendo poesia interessante, à margem da maioria de
gente desinteressante que faz poesia desinteressante. Não acredito — é óbvio —
que toda a poesia deva virar concreta ou experimental para ser válida. Nem tenho
receitas para o que virá. Mas o ecletismo predominante nas novas gerações não me
entusiasma. Parece-me uma solução fácil demais, e a poesia é uma arte difícil.
Para mim, o ciclo da vanguarda não se encerrou, nem se encerrará, se se entender
por vanguarda uma disposição permanente para experimentar com as novas
linguagens, ou se se entender a arte — como queria John Cage, que jamais
renunciou à vanguarda — como uma forma de agir não apenas em função da expressão
mas da mudança de mentes (not to express but to change oneself)”.
(Incluído em
01/04/2005)
• "Fabricantes de livros", diz
o romancista Autran Dourado
Quando o autor está começando a escrever, não pode pensar em ninguém. Nem em
outros autores nem em seu público, porque sequer consegue saber quem é seu
público. O escritor é aquele solitário. Eu não sei qual é meu leitor e não me
submeto à posição de procurá-lo.
É por isso que vejo com certo escândalo o que está acontecendo no Brasil:
pessoas jovens que se iniciam na literatura e querem logo vender livro. Têm
vocação de best-seller. São fabricantes de livro, e o livro que você vê não
resultou de nenhum esforço maior, não correu nenhum sangue por ele. Isso não é
ser escritor. Vender livro é um acidente na vida de um escritor.
Autran Dourado
In Folha de S. Paulo, entrevista a Julián Fuks
30/07/2005 |
(Incluído em
30/07/2005)
• Para Ivo Barroso, falta à
poesia
atual o poder de emocionar
Cada vez a poesia "atinge" menos leitores, seja porque recorre a uma linguagem
que em última instância a elitiza ou a marginaliza, seja pela sua atual
incapacidade de atingir aquilo que parece o fim precípuo dessa arte: o poder de
emocionar, de tocar uma corda sensível do leitor e tirá-lo, ainda que por
brevíssimos instantes, do fulcro habitual em que vive e pensa. A maior parte da
produção poética de nosso tempo nada tem a ver com a poesia propriamente dita: é
prosa ruim ou letra de música ou abjeções destinadas ao vaso sanitário. Além
disso há uma persistência inexplicável por métodos que de há muito se revelaram
inócuos. Tenho engulhos quando leio poemas com trocadilhos ou jogos de palavra
aleatórios tipo pá/lavra e quejandos. Há gente que ainda hoje usa recursos
concretistas pensando que está fazendo poesia "avançada"...
Ivo Barroso
In
entrevista a Rodrigo de Souza Leão
Publicada na web, sem data. |
• Carlos Felipe Moisés:
Bandeira, Drummond, Cabral, Murilo ainda são o que há de mais atual
Respondo à indagação
colocada de início: o que há de mais atual e inovador na poesia brasileira,
hoje?
De um lado, uma ebulição extraordinária, auspiciosa; o país
nunca teve tantos poetas em atividade; nunca houve entre nós tanto interesse
por poesia; a cena poética brasileira jamais conheceu tal diversidade, tal
heterogeneidade, tal mistura de timbres, formas e estilos. Vivemos um
período áureo em matéria de poesia e não me preocupa nem um pouco saber que
quantidade e variedade nem sempre correspondem a qualidade.
De outro
lado, indo direto à pergunta, o que vejo de mais atual, inovador e pujante
na atual poesia brasileira é o Bandeira de Estrela da manhã, o
Murilo de A poesia em pânico, o Drummond de Claro enigma
ou o João Cabral de Uma faca só lâmina. São esses poetas que, antes
dos demais, ajudam a enfrentar "o tempo presente, os homens presentes, a
vida presente", hoje.
Carlos Felipe Moisés
Poeta,
crítico literário, contista e tradutor. Autor de Noite nula, (poesia,
2008), Histórias mutiladas (contos, 2010) e Tradição & ruptura
(ensaios, 2012). In Suplemento Literário de Minas Gerais,
maio/junho 2013 |
(Incluído em
02/09/2013)