Carlos Drummond de Andrade
100 anos: 1902-2002
Neste poema, assim como em vários outros textos de
Drummond, fica patente sua "filiação" a Machado de Assis.
O diálogo jocoso de Yayá Lindinha foi retirado de um
delicioso conto do autor de
Dom Casmurro também chamado "Eterno!". Para ler esse conto, clique no
link abaixo:
"Eterno!", de Machado de Assis
O bruxo de Itabira é filho ideológico do bruxo do Cosme
Velho.
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A outra citação em itálico (Le silence éternel de ces espaces infinis
m'effraie
— algo como "O silêncio
eterno desses espaços infinitos me apavora") é uma frase famosa do pensador
francês Blaise Pascal (1623-1662).
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O público brasileiro parece confirmar e admirar o parentesco ideológico
entre Machado de Assis e Drummond.
Durante o ano de 1999, a revista IstoÉ promoveu uma
eleição dos grandes brasileiros do século 20 em diversas áreas. A
revista indicava 30 jurados que, por sua vez, indicavam 30 nomes, dos quais
o público elegia 20. Na categoria Literatura, Machado de Assis ficou em
primeiro lugar. O segundo coube a Drummond. Votos impecáveis.
Centenário do poeta:
31 de outubro de 2002 |
E como ficou chato ser
moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.
(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)
—
O que é eterno, Yayá Lindinha?
—
Ingrato! é o amor que te tenho.
Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.
Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e
[nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
[mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.
Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
[essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
[pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como
[uma esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.
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