Amigas e amigos,
Em 2003, na
edição n. 17, bem no início da jornada desta publicação, organizei um boletim somente com haicais escritos pelo poeta paulista Guilherme de Almeida (1890-1969), um dos mais destacados cultores dessa forma poética no Brasil.
Neste boletim, retorno ao haicai. Desta vez o poeta em relevo é o baiano Uaçaí Lopes (Feira de Santana, 1957), que também se debruçou sobre a produção desses micropoemas de origem japonesa. Doutor em educação pela UFBA, Uaçaí é professor titular aposentado da Universidade Estadual de Feira de Santana.
Na área da poesia, Uaçaí Lopes participou do grupo que se reuniu em torno da revista Hera (1972-2005) em Feira de Santana. Publicou os seguintes livros de poemas: Caminhos (1986); Digressões acerca do conteúdo do armário (2001); e Voo do assanhaço (2003). Neste último está reunida a maior parte dos haicais produzidos pelo autor.
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Em quase todos os seus haicais, Uaçaí Lopes segue as propostas de Guilherme de Almeida. Na tradição nipônica, o haicai é uma composição poética sem rimas, dividida em três versos de 5, 7 e 5 sílabas.
Há ainda outros preceitos. Em geral, o haicai tradicional contém observações
sobre a natureza, especialmente sobre as estações do ano. Há numerosíssimos haicais de outono, da primavera etc.
Guilherme de Almeida adotou o poemeto japonês, mas resolveu criar para seus haicais uma estrutura sofisticada e bastante pessoal. Ele manteve os três versos de 5-7-5 sílabas, mas introduziu duas rimas no formato
a-bb-a. Ou seja, o primeiro verso rima com o terceiro; e o segundo contém uma rima interna, localizada nas sílabas tônicas 2 e 7. Exemplo:
INFÂNCIA
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se “Agora”.
O título foi outro item introduzido por Guilherme de Almeida. O clássico haicai não tem título. Com essas regras, o poeta
paulista escreveu dezenas de poemetos.
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Quase todos os haicais de Uaçaí Lopes que escolhi para este boletim já apareceram na página do poesia.net no Facebook, na forma de cartões poéticos. O último publicado lá foi esse que fala da lua refletida nas poças d’água
(com outra imagem). Obteve recepção tão calorosa dos visitantes que me deu a ideia de produzir este boletim.
Resolvi também compartilhar, com os assinantes que recebem o poesia.net por e-mail, os cartões
poéticos veiculados no Facebook baseados em haicais de Uaçaí Lopes. Assim, trago da rede social
algo que o pessoal do e-mail normalmente não tem a oportunidade de ver.
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Os haicais são composições tão exíguas que não dão espaço para muitos comentários. É ler e sentir. Praticante
do haicai à la Guilherme de Almeida ─ o padrão “guilhermino”, como gosta de dizer ─, Uaçaí Lopes aproxima o poemeto nipônico das coisas de sua região.
Isso pode ser visto, ao lado, no poema sobre a festa de Iemanjá em Salvador, no
dia 2 de fevereiro, e no texto seguinte, sobre o jangadeiro. Dos sete cartões
poéticos reproduzidos aqui, somente o penúltimo não foi mostrado no Facebook.
Uma observação técnica: o haicai sobre a festa de dois de fevereiro (o segundo da sequência)
prova que a proposta de Guilherme de Almeida também admite variações. Como vimos, o padrão “guilhermino” propõe que a rima
interna no segundo verso ocorra na 2ª e na 7ª sílabas. Nesse haicai, Uaçaí Lopes usa as sílabas 3 e 7
─ e obtém, do mesmo jeito, um resultado bastante harmonioso e equilibrado.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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Poeta da carne e do tempo
—
sarau
• Organização: Vera Lúcia de Oliveira
Sarau
em homenagem ao poeta Donizete Galvão (1955-2014), realizado por poetas que
conviveram com o autor de O Homem Inacabado, entre outros livros, e que
conhecem e admiram sua poesia.
Quando:
Terça-feira, 29 de agosto,
às 19
horas
Onde:
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37 - Paraíso
São Paulo, SP
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Miss Bishop vai à feira
Sobre o seu reconhecimento no Brasil, Elizabeth Bishop cultivava, com ironia e prazer,
uma série de casos engraçados. Certa vez, em Petrópolis, ela foi reconhecida por um
feirante, que viu sua foto no jornal na época em que ganhou o Prêmio Pulitzer; depois
de ter a confirmação de que se tratava da mesma pessoa, o verdureiro comentou:
“Dou tanta sorte às minhas freguesas! Na semana passada, teve uma que ganhou uma enceradeira”.
• José Alberto Nemer, no artigo “Elizabeth Bishop, poesia no cotidiano”, Suplemento
Literário de Minas Gerais, jan/fev 2017.
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