Amigas e amigos,
Nesta terça-feira, 12 de dezembro de 2023, este boletim completa 21 anos em atividade.
Um brinde ao poesia.net
pelo seu aniversário!
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Lembrete: é o último boletim de 2023 com conteúdo poético. Haverá ainda uma edição com a retrospectiva do ano. Em seguida,
o poesia.net entra em recesso de verão. Esperamos voltar com mais poesia em fevereiro de 2024. No mais, um bom fim de ano e um
excelente 2024 a todas e todos.
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Nesta edição, o poeta em destaque é o baiano Ruy Espinheira Filho (Salvador, 1942), que lançou recentemente o livro A Invenção da
Poesia & Outros Poemas (Record, 2023). Há também uma coincidência: o autor faz aniversário no mesmo dia do boletim. Assim, as
saudações se estendem ao poeta.
Conhecido e celebrado como o poeta da memória, Ruy Espinheira Filho nos oferece, nessa nova coletânea, uma espécie de lira dos oitent’anos
— para usarmos uma expressão à la Manuel Bandeira, um dos poetas de sua predileção. Boa parte dos poemas são lembranças de amigos
e familiares, muitos já levados pela indesejada das gentes.
É assim, por exemplo, com as figuras de “Família”, o primeiro poema da meia dúzia que selecionei para este boletim. Já na estrofe inicial,
o passado dá o tom doloroso do poema: “Avós mortos, pai morto, mãe morta, / três irmãos mortos, / mortos muitos amigos”. Mais adiante,
o texto revela que todas essas pessoas ausentes se reúnem diante de um relógio, cujos
ponteiros imóveis marcam as “três horas / infinitas / da madrugada”.
No poema seguinte, “Conto de primavera”, mais pessoas que continuam a existir somente na memória. Aqui, num momento de extraordinária leveza,
aparece um casal em ambiente doméstico. Aparentemente, os pais do poeta.
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Agora, no poema “Um movimento”, o poeta faz uma reflexão sobre o fluir do tempo, que começa com a poeta russa Marina Tsvetáieva e conclui,
com certo ar de aceitação e enfado: “E assim vamos nós no tempo que corre/ e deixa escombros de tudo em nossa memória.” .
No próximo poema, o poeta revisita Verlaine, com “Uma canção de Outono”: “ai chegando um novo Outono, / sem Verlaine e sem violinos; /
que seja como os meninos // felizes, de doce sono”. Observe-se a inicial maiúscula em Outono, em reverência aos simbolistas, não só o
francês Verlaine, mas também a nomes inesquecíveis como o mineiro Alphonsus de Guimaraens.
A conclusão do texto é bonita e, como se podia esperar, também penumbrosa: “E, enfim, que este novo Outono / me leve aos mais belos
cais, / antes que chegue o abandono // no Inverno de nunca mais”.
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Vem a seguir “Suavidade”, um poema bastante curioso. “Sonhei que havia morrido. / Uma morte suave, eu estava contente. / E suavemente
caminhava / junto ao portão de um colégio em que estudara / ou apenas fingira / no início dos anos 1960”. Convido o leitor a conferir
o sábio desdobramento desse sonho.
Leiamos agora o último poema da minisseleção, “Anotações sobre almas ilustres”. Trata-se, na verdade, de um longo poema dedicado
a dois gênios de nossa prosa, Machado de Assis e Graciliano Ramos. As almas ilustres são personagens dos romances desses dois autores.
Selecionei um trecho no qual se destaca um personagem não humano, mas canino, a cadela Baleia, de Vidas secas. Aliás, não
somente um animal-personagem, mas dois. Também entra em cena Quincas Borba, o cão do romance homônimo de Machado de Assis.
Nessa incrível e deliciosa discussão sobre figuras caninas, sobra espaço até para o poeta Vinicius de Moraes. Confira. O melhor,
porém, é ler o poema inteiro, com direito a Rubião, Fabiano, Sinhá Vitória, o Eclesiastes e muito mais.
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Nascido em Salvador (1942), Ruy Espinheira Filho passou boa parte da infância e da adolescência em cidades do interior da Bahia.
É professor aposentado da UFBA, onde atuou nas áreas de comunicação e letras. Entre seus livros de poesia mais recentes estão
Nova Antologia Poética (Patuá, 2018); e Sonetos Reunidos & Inéditos (Patuá, 2020); e
A Invenção da Poesia & Outros Poemas (Record, 2023).
O poeta Ruy Espinheira Filho já esteve aqui no poesia.net em outras edições:
número 494 (2022);
número 429 (2019);
número 378 (2017);
número 284 (2012); e
número 18 (2003).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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