Amigas e amigos,
Poeta, filósofo, ensaísta e compositor, Antonio Cicero Correia Lima (Rio de Janeiro, 1945) estreou na poesia brasileira com o livro Guardar (1996).
De lá para cá, publicou mais dois títulos: A Cidade e Os Livros (2002) e Porventura (2012). Em 2017 Antonio Cicero foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras.
O poeta é também incansável blogueiro. Mantém, desde 2007, o blog Acontecimentos, no qual apresenta
refinada seleção de poemas das mais diversas procedências, além de discussões acerca de arte e poesia.
Antonio Cicero é o poeta em destaque nesta edição do poesia.net. A minisseleta de poemas apresentada ao lado foi extraída do volume Estranha Alquimia,
antologia poética do autor recém-lançada pela Editora Penalux, de Guaratinguetá-SP, e organizada pelo poeta Diego Mendes Sousa com a colaboração do escritor Fabio de Sousa Coutinho.
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O primeiro poema, “Guardar”, é talvez um dos mais conhecidos com a assinatura de Antonio Cicero. Nele se destaca o gosto argumentativo e categorizante que o
poeta-filósofo cultiva em muitos de seus textos. “Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro / do que pássaros sem voo”. Um poema para se ler com cuidado e atenção.
Mas não se engane com o tom altamente reflexivo de “Guardar”. Antonio Cicero consegue também mesclar esse mesmo tom com os influxos da realidade imediata.
É o que lê no quarteto “Leblon”. Aí o menino carioca, criado de frente para o mar, lembra que nem tudo se resume ao clichê (visualmente verdadeiro) da
Cidade Maravilhosa: “atrás há um muro e aquém do olhar / pulsam sangue e morro e mata e breu”.
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No soneto “O Grito”, o sujeito lírico se sente como um mitológico Prometeu (“Estou acorrentado a este penhasco / logo eu que roubei o fogo dos céus”) perdido
no cotidiano moderno das “urbes formigantes”. Descrente de tudo, ele ouve o conselho de um amigo, que lhe recomenda fazer uma excursão por uma empresa
que aceita o pagamento em prestações.
“Blackout” é outro poema que respira o ar da metrópole. Nele surge o problema da privacidade para quem mora em prédios contíguos, exposto aos olhares
de mil janelas. A preocupação, neste caso, é expressa por um poeta: “Que voyeur me espiaria?”, pergunta. Será que algum vizinho indiscreto seria capaz
de ler seus versos na tela do computador?
No último poema surge, mais uma vez, uma figura da mitologia grega. É “Ícaro” que salta para o céu e, inevitavelmente, dá adeus a tudo enquanto mergulha no mar.
Em certo sentido, repete-se aqui a cena de “Leblon”, mais acima. Naquele poema, o olhar do menino se dirige ao céu, mas a realidade o confronta com a terra
e todos os intrincados problemas que ela esconde, bem às costas de quem mira o azul.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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