Amigas e amigos,
O poeta em destaque nesta edição é o baiano Damário Dacruz (1953-2010). Nascido em Salvador, Damário foi poeta e fotógrafo, graduado em jornalismo pela UFBA e especialista em comunicação em marketing.
Apaixonado pelo Recôncavo Baiano (a região que circunda a baía de Todos os Santos e inclui a capital baiana), o poeta montou no ano 2000, na cidade histórica de
Cachoeira, às margens do rio Paraguaçu, um local de cultura chamado Pouso da Palavra, espaço dedicado à poesia e às artes visuais. A partir de certo momento,
Damário Matos da Cruz, seu nome completo, passou a assinar-se artisticamente como Damário Dacruz.
Na poesia, o autor publicou os seguintes livros: Vela Branca (1973); Todo Risco – O Ofício da Paixão (1993); Segredos da Pipa (2003);
e Re(sumo) (2008), reunião de poemas antes publicados sob a forma de cartazes. Em 2010 saiu o livro póstumo Bem Que Te Avisei. O título mais
conhecido de Damário é Todo Risco, que em 2012 mereceu uma segunda edição, também póstuma, publicada pela Fundação Pedro Calmon, ligada à Secretaria
de Cultura do Estado da Bahia.
•o•
Para este boletim, selecionei um punhado de poemas exatamente do livro Todo Risco –
O Ofício da Paixão. O primeiro texto da série é
“Todo Risco”, que dá título ao livro. Nele o poeta reflete sobre os riscos e medos de nossas decisões. “Ninguém decide / sobre os passos / que evitamos”.
No poema seguinte, “Breviário”, o poeta brinca com o significado dessa palavra. “Breviário” é, ao mesmo tempo, sinônimo de resumo, sinopse e também indica
um livro com princípios e ideias, algo que serve de guia ao seu leitor. Significa ainda uma reunião de orações e salmos, no contexto religioso. No texto,
o poeta avisa: “Em breve dia / escreverás / a tua carta definitiva”. Em suma, os teus dias se acabarão.
Em “Ô Dicasa”, um metapoema, o autor usa a expressão corriqueira de quem se anuncia (ou antigamente se anunciava) à entrada de uma residência. Segundo ele,
a poesia entra nas casas pelas frestas, “como os pequenos ventos”. Mas, sem ilusão, conclui: “O difícil / é achar gente / dentro de casa”. Achar gente?
Sim, pessoas dispostas a se envolver com a visitante, Dona Poesia.
•o•
No poema “Caixa-Preta” a reflexão se volta para a natureza do ser humano e suas oscilações. Primeiro, constata: “O que foi dito, / ao entardecer, /
não se confirma / na madrugada”. Depois, conclui: “Sou um homem. / Portanto, / uma surpresa”.
O texto seguinte, “Aviso Prévio”, parece tratar da solidão de poetas e artistas, iindivíduos preocupados com questões que aparentemente não
incomodam outras pessoas. “Os meus amigos / se calaram; / e, solitário, / descubro o silêncio / mais profundo”.
Em “Calmaria” destacam-se as indagações existenciais. Pergunta o poema: “A que porto / busca este barco / de madeira podre?”. O texto também conclui,
sombriamente, que “os portos estão fechados / às naus da liberdade”. Em certo sentido, isso me lembra Drummond: “Como vencer o oceano / se é livre a navegação /
mas proibido fazer barcos?”.
•o•
O último poema da seleção ao lado é “Resolução”. Nele, Damário da Cruz retorna às considerações sobre os sofrimentos e ações humanas. Para além da dor e da coragem,
resta a união. “O que nos une / é alguma coisa / acima do sim, / é alguma coisa / acima do não”. E essa coisa, conforme o poeta, é a dor, travestida de amizade,
solidariedade, união — poesia. O roçar dos dedos na mão do amigo.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
•o•
Curta o poesia.net no Facebook:
•o•
Compartilhe o poesia.net
Compartilhe o boletim nas redes Facebook, Twitter e WhatsApp. Basta clicar nos botões logo acima da foto do poeta.