Amigas e amigos,
O poeta curitibano Marcelo Sandmann (1963-) já foi destaque nesta página em 2018, na edição n. 398. Agora, Sandmann retorna, trazido pelo recente lançamento de seu livro Não Cicatriza (Kotter Editorial, 2021).
Dessa nova coletânea selecionei sete poemas que compõem a miniantologia ao lado. No primeiro deles, “Órfão de Orfeu”, o autor apresenta uma
espécie de profissão de fé, na qual declara como enxerga a criação poética: “Órfão de Orfeu, / tocador de flauta sem alento, / tangedor de lira
desencordoada, / voz que vai afogada no vento, // celebro a vida / e seu olvido”.
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O texto seguinte, “Não Cicatriza”, é justamente a página que dá título ao livro. Mais uma vez, estamos no departamento da metapoesia. Aqui, o poeta
se propõe a “Escrever o que corta, / o que cura, / o que não cicatriza”. Supõe-se, portanto, que o autor se propõe a criar versos que, ao mesmo tempo,
têm a crueldade de quem fere e a delicadeza de quem cura as feridas.
Dos metapoemas passamos agora às peripécias sentimentais, em “Amor Chega e Vai Embora”. No retrato traçado
neste poema, o amor se mostra uma figura meio desastrada:
“tropeça na ecada, / deita vinho no lençol, / deixa a torneira pingando a noite toda”. Não bastasse todo esse destrambelho, o amor de repente vai embora
e, de longe, “manda mensagens em branco”.
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Não é difícil observar que Marcelo Sandmann dedica especial atenção ao texto condimentado com ironia. Esse recurso aparece no poema anterior e também
em “Haydn”, uma jocosa homenagem ao compositor austríaco Joseph Haydn (1732-1809).
O texto seguinte, “Louça Suja”, apresenta uma reflexão irônico-filosófica: às vezes, louças e roupas sujas são apenas louças e roupas sujas. Neste
caso, o autor parece reverberar a célebre afirmação freudiana: um charuto pode ser somente um charuto.
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Em “Quase Feliz”, surge um momento de leveza para celebrar a alegria da primavera. Vem, por fim, o poema “Marcelo Sandmann não está no Facebook”,
uma litania carregada de sarcasmo. Nela, o poeta usa o próprio nome para cutucar manias e modismos, como o uso das redes sociais,
refrões da publicidade e as fervorosas torcidas
de futebol.
No primeiro verso do último quarteto (“Marcelo Sandmann n’est pas une pipe”) confirma-se a suposição que fiz anteriormente, a de que
Sigmund Freud passou
por aqui. Sim, o poeta não é um cachimbo. No final, surgem referências aos roqueiros dos Rolling Stones, ao ex-presidente americano Barack Obama e — é claro,
depois dos Stones — aos seus conterrâneos mais famosos, os Beatles.
Marcelo Sandmann é firme na ironia.
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Poeta, autor de canções musicais e professor de literatura na UFPR, Marcelo Sandmann publicou os seguintes livros de poesia: Não Cicatriza (Kotter, 2021);
Antologia Poética 1987-2017 (Kotter e Ateliê Editorial, 2017); Sangue na Guelra (7Letras, 2016); Na Franja dos Dias (7Letras, 2012);
Criptógrafo Amador (Medusa, 2006); e Lírico Renitente (7Letras, 2000).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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