Amigas e amigos,
Após o tradicional recesso de verão, o poesia.net retorna. Esta edição, n. 481, é a primeira de 2022, o ano 20 deste boletim.
Infelizmente, não são agradáveis as notícias, nem o que vemos diariamente
país.
Ainda estamos em meio à pandemia de Covid, que já registrou um total espantoso de quase 650 mil mortos. Também é assustador o número
de pessoas famintas e morando nas ruas de todas as grandes cidades do país. Como não há mal que sempre dure, temos, no segundo
semestre deste ano, a chance de, nas urnas,
tentar mudar este quadro.
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A primeira edição deste ano traz um autor que nunca esteve no boletim. Trata-se do escritor, agitador cultural e editor Gustavo
Felicíssimo, que comparece com poemas de seu livro Oratório das águas.
Nascido em Marília-SP em 1971 e radicado na Bahia desde 1993, Felicíssimo fundou e dirige a Mondrongo, editora sediada em Itabuna-BA,
que desde 2011 vem publicando numerosa coleção de títulos nas áres de poesia, conto, crônica, romance e ensaio. O autor é também
criador e curador da FELITA - Feira Literária de Itabuna. Entre os livros de sua autoria estão Outros Silêncios (2011);
Procura & Outros Poemas (2012); Desordem (2015); e Carta a Rubem Braga & Outras Crônicas (2017).
Lançado originalmente em 2019, o título Oratório das Águas ganhou, dois anos depois, uma sofisticada segunda edição.
Com design bem elaborado, é um volume em tamanho grande (21x25 cm), com capa brilhante em relevo e ilustrações de
Gabriel Ferreira.
Apreciador incontestável da poesia clássica e da mitologia grega, Felicíssimo desenvolve nesse livro um poema longo e ambicioso,
dedicado à celebração da água e à reflexão sobre o papel desse elemento natural nas vidas humanas.
O oratório contém cinco partes: “Exórdio”; “I-Nascentes”; “II-Rios”; “III-Mares”; e “Epílogo”. Cada uma dessas divisões
compõe-se de cantos breves, numerados, cuja extensão nunca vai além de 20 versos. Para este boletim, extraí quatro cantos
de “Rios” e dois de “Mares”.
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Para começar, vamos ler o canto “2”, de “Rios”. Aqui, o sujeito lírico se deita à beira-rio e se põe a apreciar o correr
das águas e o movimentos das aves: “Esses rios sinuosos são a vida / Neles me deito como se na relva / e fico de olhos bem abertos”.
No canto seguinte, a parte “4”, o texto compara o rio a “uma estrada / tão sinuosa quanto a existência”. Neste trecho, o
autor traz para o poema o recurso das notas de rodapé, procedimento usado várias vezes no livro. Aqui, as duas notas
fazem referência a um livro do poeta baiano Aleilton Fonseca.
A parte “6” de “Rios” começa assim: “Conheço rios muito antigos /
tão antigos quanto o mundo”. Curiosamente, neste trecho, Felicíssimo não incluiu nenhuma nota de rodapé, embora cite o verso
“I've known rivers ancient as the world” (“Conheço rios tão antigos quanto o mundo”), do poeta negro norte-americano
Langston Hughes (1902-1967).
O último trecho da divisão “Rios” citado aqui é o n. “12”. Nele o poeta , mais uma vez, descansa junto ao rio e alegra a
vista com a paisagem, que é para ele como “uma ciranda aos nossos olhos”.
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Vêm agora os dois cantos extraídos da parte “III - Mares”. O número “2” celebra as viagens oceânicas, as aventuras dos argonautas
e, ao mesmo tempo, a emoção de encontrar novas e desconhecidas praias: “Trago uma lágrima após outra lágrima / que é como uma
onda após outra onda”
Vem, por fim, o canto “10” de “Mares”. Mais emoção (“Choro como Ulisses ao avistar a sua Ítaca / quando vejo ao longe as luzes
da minha terra”) e um grande enigma a desvendar: “Apaga-se o dia como um dia nos apagaremos — / a poesia é o ato de entender
esse mistério”. Baixa a noite, extingue-se a luz do sol, assim como também se apaga a centelha da vida.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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