Amigas e amigos,
O poesia.net, em sua versão enviada por e-mail, enfrenta no momento um sério problema técnico. Como vocês devem imaginar, uso
alguns recursos para enviar, de uma só vez, mais de 3 mil e-mails. Nenhum sistema normal de e-mail permite isso. Sou usuário
de um serviço da Amazon e tenho em meu computador um aplicativo específico para conectar esse serviço.
Acontece que a Amazon agora introduziu mudanças técnicas no serviço e o aplicativo de conexão precisa ser atualizado. Infelizmente, o fornecedor
do produto não dá mais sinal de vida e eu, até o momento, não encontrei um substituto. Assim, é possível que a partir de julho o boletim deixe
de ser enviado por e-mail. De todo modo, estará disponível no site Alguma Poesia, com links nas redes Facebook e Instagram.
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O poeta em foco nesta edição é um “veterano” aqui no poesia.net. De fato, Tarso de Melo (Santo André-SP, 1976) já esteve aqui em duas
outras edições individuais: n. 31, vinte anos atrás, e
n. 390, em 2017. Agora, ele retorna, trazido
pelo lançamento da coletânea As Formas Selvagens da Alegria, lançada em 2022 pela Alpharrabio Livraria e Editora.
Na edição n. 390, o boletim baseou-se nos livros Poemas (a reunião da poesia de Tarso até 2014) e Íntimo Desabrigo, de 2017.
Na época, escrevi: “um traço que se mantém na poesia de Tarso de Melo é a ligação visceral com a realidade”. Essa afirmação era válida para a obra do
autor até então e continua válida em As Formas Selvagens da Alegria.
Mesmo assim, nesse livro mais recente observa-se uma sutil — porém substancial — mudança. A realidade permanece firme, como chão de referência.
Mas a observação dos fatos é mais aguda, mais refinada e às vezes tangencia a reflexão existencial.
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Veja-se, por exemplo, o poema “Amanhã”, o primeiro da seleção apresentada ao lado. Há no texto uma profunda ironia sobre a vida planejada,
as expectativas quase matemáticas traçadas para o futuro: “já estava decidido/ que os dias seriam assim/ que as noites seriam a salvo/
que a aposentadoria viria/ leve, branca, calma”.
No texto seguinte, “Ao Telefone”, o sujeito lírico se espanta ao encontrar em seu telefone celular dois “contatos” que são amigos mortos.
Passeia pela lista e encontra outros nomes e números “de pessoas para quem não vou mais ligar”. Esse pequeno acontecimento leva ao pensamento de que
um dia todos, inclusive ele, serão “uma longa lista de contatos/ em que ninguém se deixa contatar”.
No poema “Apus Apus” (que, a rigor deveria ser grafado aqui como Apus apus, já que se trata do nome científico de um animal), o autor consegue
elevar aos patamares da poesia informações sobre o comportamento de uma ave, o andorinhão-preto. Um poema curioso e instigante.
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As Formas Selvagens da Alegria, eu disse mais acima, é um livro que cultiva sutilezas. Outro exemplo perfeito disso é o poema “Junto”.
Aqui, o poeta elege como o possível “casal mais bonito/ da cidade/ ou do planeta” uma dupla invisível. Aliás, um suposto casal, sugerido pelo fato
de que uma moça sozinha, provável trabalhadora na hora do almoço, se comunica com alguém, talvez por uma rede social.
O último texto da seleção tem data e história. Na segunda-feira, 19 agosto de 2019, o dia virou noite em São Paulo ainda no início da tarde.
Uma frente fria, combinada com a fumaça de queimadas na região amazônica, provocou o sufocante fenômeno. Daí veio o poema “A Queda do Céu”,
que traz a data “19/08/2019”.
A conclusão é perfeita: “O Brasil que matamos cai sobre o Brasil que se acha vivo, esperto, moderno. A floresta vem visitar, vem avisar.
Vai cair o céu”. Felizmente, o governo federal que estimulava a destruição da floresta e “a passagem da boiada” não está mais aí.
Precisamos cuidar para que não volte nunca mais. E os dias não virem noites.
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Tarso de Melo, advogado e professor universitário, é poeta, ensaísta e editor. Seus livros de poesia mais recentes são As Formas
Selvagens da Alegria (Alpharrabio, 2022); Íntimo Desabrigo (Alpharrabio, 2017); e a antologia Rastros (Martelo, 2019).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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