Amigas e amigos,
A poeta cearense Ieda E. de Abreu — ou, por extenso, Ieda Estergilda de Abreu —, já esteve aqui nesta página em junho de 2003,
na edição n. 23, quando o poesia.net ainda
não havia completado um ano de circulação. Agora, ela retorna, trazida pelo lançamento da 2ª edição de sua coletânea Grãos - Poemas
de Lembrar a Infância. Publicado originalmente em 1985 pela histórica editora de Massao Ohno, o livro ganha agora nova edição,
a cargo da editora Urutau, sediada em Cotia-SP.
Grãos apresenta um roteiro de alguma forma associado à vida pessoal da autora. Divide-se em quatro seções: “Abertura”, “Crescer”,
“Acalantos” e “Memória”. Na primeira, a voz poética pertence a uma mãe, que aguarda o nascimento do filho. No poema “[No papel]”
(aqui já passamos para a miniantologia ao lado), ela revela: “entre um café e um copo d’água sinto você mais uma vez/ crescendo em mim/
preparando-se para vir ao mundo onde me inquieto”.
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“Sensações” é outro poema dessa primeira parte. Nele, a mãe mistura suas apreensões em relação ao filho aguardado com os incômodos de seu
chamado “estado interessante”. Daí a aparente incongruência: “o que vai nascer me provoca / ternura e náusea”.
(Um parêntese rápido: nos boletins, quando o poema não tem título, uso o primeiro verso, ou parte dele, entre colchetes. Isso facilita
as referências ao texto nos comentários. Entre os poemas de Ieda Abreu incluídos na seleta ao lado, somente o segundo, “Sensações”, tem título.)
O próximo texto, “[Ele Quer Voar]” faz parte do bloco “Crescer”. Agora a mãe está entretida com as peripécias de seu rebento, que ensaia
os primeiros passos e também — por que não? — frustradas tentativas de voo.
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Os dois últimos poemas, são extraídos da última parte de Grãos, “Memória”. Nesse espaço a poeta aproxima as observações da infância
do filho à sua própria experiência quando tinha idade similar. Em “[Nunca Entendi]”, ela recorda os ensinamentos dos catecismos católicos,
que em sua época apresentavam aos infantes conceitos difíceis de apreender. “Nunca entendi o deus dos catecismos”, lamenta a poeta,
rememorando seus oito anos de idade.
O último poema começa com uma pergunta inusitada: “dizem que eu enchia de barquinhos de papel o teto dos armários/ era eu ou a prima louca?”
A dúvida sobre a autoria das traquinagens perpassa todo o texto, mas afinal a menina sapeca entrega o ouro, com outra indagação: “que prima
era essa, que eu que era?”
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Formada em jornalismo e em direito, Ieda E. de Abreu (Fortaleza-CE, 1943) é poeta, biógrafa, cronista e editora. Especificamente na
área da poesia, publicou, entre outros títulos, Mais um Livro de Poemas (1970), Grãos - Poemas de Lembrar a Infância
(1985, 1ª ed.; 2023, 2ª); A Véspera do Grito (2001); O Jogo do ABC (para crianças, 2003).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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