Amigas e amigos,
Eu estava me preparando para produzir o boletim desta quinzena quando um amigo, brasileiro residente em Lisboa, me enviou uma
mensagem informando sobre a morte do poeta português Nuno Júdice, ocorrida no último domingo, 17 de março. Júdice,
sem dúvida, é uma das vozes mais representativas da literatura portuguesa. Ainda sob o impacto da notícia, decidi que esta
edição seria dedicada ao autor que acaba de nos deixar.
Contudo, o único livro de Nuno Júdice de que disponho é a antologia Por Dentro do Fruto a Chuva (Escrituras, 2004),
que me serviu de base para organizar o boletim n. 77,
de julho/2004. Resolvi, então, homenagear o poeta, republicando aqui aquela edição.
Nascido no Algarve (extremo sul de Portugal) em 1949, Nuno Júdice foi professor universitário, poeta multipremiado,
ficcionista e ensaísta. Publicou mais de 40 livros de poesia. Os últimos foram 50 Anos de Poesia (1972-2022),
de 2022, e Uma Colheita de Silêncios, de 2023. Vale destacar que a obra ficcional do autor reúne 19 títulos,
sem contar mais de 10 volumes de ensaios e ainda quatro textos teatrais.
•o•
Transcrevo, a seguir, o texto do boletim n. 77, de 2004.
•o•
Encontrar um bom poeta é sempre um acontecimento gratificante para quem gosta de poesia e, mais ainda, para quem
— como eu — virou caçador de poesia. Portanto, foi com grande satisfação que tomei contato com o trabalho do poeta
português Nuno Júdice (1949-).
Quem me chamou a atenção para esse escritor, há cerca de um ano, foi a professora e também poeta Vera Lúcia de
Oliveira (veja poesia.net n. 40).
Agora, chega às livrarias brasileiras o volume Por Dentro do Fruto a Chuva, uma antologia de Júdice organizada
e prefaciada exatamente por Vera Lúcia de Oliveira. Salvo engano, é o primeiro livro do autor publicado no Brasil.
Poeta, ensaísta e também ficcionista, Nuno Júdice é um dos nomes de destaque na literatura portuguesa contemporânea.
O que chama a atenção em sua poesia é a capacidade de revelar o lirismo entranhado nas coisas, nos gestos, na convivência
entre as pessoas. “Gosto das palavras exactas, as que acertam com o centro das coisas”, escreve ele.
•o•
Talvez por causa dessa viagem por dentro dos gestos e das coisas, os poemas de Júdice sejam um tanto sombrios.
Para Vera Lúcia de Oliveira, “a luz que lambe seus versos é enevoada, luz nórdica difusa, que ilumina em lusco-fusco,
sem revelar totalmente, mas sem ofuscar com sua intensidade”.
Diante disso, não se espere encontrar nos poemas de Júdice movimentos grandiosos, declarações estridentes. Ele trabalha
com um diapasão mais suave, mais reflexivo. Sua poesia tem a marca inescapável da tradição lírica portuguesa. O discurso
é lógico, mesmo quando cria asas. Mas, ao mesmo tempo, é um discurso plenamente moderno.
Observem, por exemplo, os poemas “Amor” e “O Amor”, transcritos ao lado. No primeiro, vem a constatação do pequeno poder
das palavras diante da vida. No segundo, a constatação de que existe algo muito forte, talvez um deus, numa relação amorosa.
Um deus que os amantes inventam e alimentam durante a noite, para que o amor continue “enquanto o dia não chega”.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
•o•
Visite o poesia.net no Facebook e no Instagram.
•o•
Compartilhe o poesia.net
no Facebook, no Twitter
e no WhatsApp
Compartilhe o boletim nas redes Facebook, Twitter e WhatsApp. Basta clicar nos botões logo acima da foto do poeta.