Amigas e amigos,
Ativíssimo na imprensa como cronista e poeta nos anos 1960 e 1970, o mineiro Paulo Mendes Campos (1922-1991) era figura
muito conhecida no país. Sua notoriedade vinha também do fato de ele ser um dos chamados Quatro Mineiros
— grupo de amigos residentes no Rio de Janeiro, formado por Mendes Campos, Fernando Sabino, Otto Lara Resende e
Hélio Pellegrino.
Talvez o maior sucesso de Paulo Mendes Campos tenha sido seu livro O Amor Acaba – Crônicas líricas e existenciais,
publicado postumamente em 1999. Contudo, o poeta (e também tradutor de poesia) anda meio esquecido. Por isso andei relendo
alguns livros dele e extraí de lá os poemas da seleção ao lado. Para ser mais exato, os textos vieram dos livros
Poemas de Paulo Mendes Campos e Transumanas, ambos de 1979.
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Vamos à leitura. O primeiro poema, “Os Domingos”, traça o retrato de um domingo perfeito, pelo menos para a “alma” do
narrador: “(...) a tarde transparente, / Os vidros fáceis das horas preguiçosas, / Adolescência das cores, preciosas
andorinhas”. Muito bem. Mas então entra em cena a memória e o eu poético se perde num emaranhado de lembranças.
O domingo se torna uma coisa extremamente lírica, cheia de “doçuras geométricas”, poemas nos parques e desilusões.
Um quadro bucólico e melancólico.
O texto a seguir é “Neste Soneto”, um poema de amor, que começa com uma homenagem ao inconfidente Tomás Antônio Gonzaga,
o autor de Marília de Dirceu. “Neste soneto, meu amor, eu digo, / Um pouco à moda de Tomás Gonzaga, /
Que muita coisa bela o verso indaga / Mas poucos belos versos eu consigo”.
“Três Coisas” é o próximo poema. Aqui, o poeta se põe a discorrer sobre três entidades mais ou menos abstratas e difíceis
de definir: o tempo, a morte e o olhar da mulher amada. “O tempo, quando é que cessa? / A morte, quando começa? /
Teu olhar, quando se expressa?”
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O tempo, mais uma vez, comparece como motivo, agora para o poema “Definição”. O poeta começa elencando coisas que, em
sua visão, o tempo não é: “Não é pesado nem leve / Não é alto nem rasteiro / Não é longo nem é breve”. Mas, afinal,
o que é o tempo? O poeta responde de uma forma que não admite contestação, porque se trata de definições absolutamente
pessoais: “O tempo é meu alimento / Meu vestido, meu espaço / Meu olhar, meu pensamento”.
Vêm, por fim, dois poemas bem curtos: “Chesterton” e “Ecologia”. No primeiro, um intrigante diálogo entre um passageiro
e um vendedor de passagens numa estação de trem. No outro, um alerta ecológico. As praias já começavam a ficar poluídas.
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Nascido em Belo Horizonte em 1922, Paulo Mendes Campos concluiu o curso secundário em 1939, em São João del-Rei.
Depois, ingressou nos cursos de odontologia, veterinária e direito, mas não concluiu nenhum deles. Como costumava brincar,
diploma mesmo ele só teve o de datilografia.
E é como “datilógrafo” que ele se envolve com a literatura e o jornalismo, áreas em que fincou raízes. Em 1945 vai para
o Rio de Janeiro, onde formaria o famoso grupo dos Quatro Mineiros, junto com Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Hélio
Pellegrino. Mendes Campos traduziu prosa e poesia e colaborou em jornais, como o Correio da Manhã,
Diário Carioca, e a revista Manchete.
Publicou, em vida, oito livros de crônicas. Em poesia, estreou em 1951, com o volume A Palavra Escrita. Seu livro
O Domingo Azul do Mar, de 1958, ganhou certa notoriedade e foi reeditado em 1966, com o título Testamento do
Brasil e Domingo Azul do Mar. Paulo Mendes Campos faleceu em 1991.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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