Amigas e amigos,
Após completar 20 anos e dar uma boa parada neste início de 2023, o poesia.net está de volta.
Abrem-se os trabalhos do ano com o poeta e romancista maranhense Ronaldo Costa Fernandes (São Luís, 1952-).
Autor já conhecido dos leitores, Fernandes esteve aqui nas edições
n. 421 (2019);
n. 313 (2014);
n. 263 (2009); e
n. 126 (2005).
É, portanto, um velho amigo da casa.
Desta vez Ronaldo Costa Fernandes traz ao boletim poemas de seu livro mais recente, A Invenção do Passado
(7Letras, 2022). Para quem conhece o trabalho do poeta, os textos deste novo título mantêm a mesma tensão e a
mesma contundência de textos que mergulham fundo em certos desvãos da aventura humana.
Começo a leitura da pequena seleção ao lado com o poema que dá título ao livro, “A Invenção do Passado”. O poeta,
com certo espanto, encontra sua própria identidade: “Sou apenas personagem / de um sonho do qual nunca sairei”.
Diz também que, quando morrer, os outros se lembrarão de sonhos que tiveram “com um personagem / chamado Ronaldo
Costa Fernandes”.
Desde já, nos colocamos diante das seguintes indagações: o que é o tempo? E, mais especificamente, o que
é o passado? O que foi aquilo que se viveu? Foi mesmo? Viveu mesmo? Foi exatamente do jeito que eu entendo,
que você lembra, que o amigo conta? Nessa estonteante espiral de perplexidades entra, vibrante, a poesia de
Ronaldo Costa Fernandes.
•o•
No texto seguinte, “O Perdão”, as inquirições continuam. Tem-se aí um poema tão poderoso que não se dobra
aos limites de um comentário. “A lixa vai limando o tempo. / Mas ninguém escapa da folha áspera. / Da folha
que retira camadas de anos / e dá a primeira mão do passamento”. Atenção, leitor. Passamento, ou seja, morte,
falecimento. E o poema segue.
Mas onde está o perdão do título? Ah, “o perdão / é uma lixa cor-de-rosa /
que alivia, lima, / corrompe o que já é corrompido, / logo por oposição, dá brilho no fosco”. Senhoras e
senhores; amigas e amigos: temos aí poesia de altíssimo calibre! De queixo caído, leio, releio e fico pasmo.
Passemos ao poema seguinte, “Encontro Marcado”. Aqui, o autor apresenta suas dúvidas sobre a própria poesia.
Desconfia dela: “às vezes marca encontro / e não aparece”. Acusa-a de atividades estranhas: “Já a vi no trottoir /
das calçadas de má fama”. Apesar disso tudo, o poeta levanta sua bandeira branca: “O importante é que venha /
com seu vestido de verbos, / sua girândola de imagens / e sua perversão pelo sublime”.
•o•
No poema “O Espelho do Tempo”, voltamos à dimensão intangível dessas entidades chamadas presente,
passado, futuro. Aí aprendemos que “Os espelhos são malditos / porque estão cheios de fantasmas”. Do mesmo modo,
sabemos: “O espelho inveja a foto / que tudo retém e imobiliza”. E tudo vai findar na “câmera da memória”, essa
máquina que não reflete mais nada, como um “espelho em que ninguém se mira”. Estamos diante de outro poema que vale a
pena ler, reler e se encantar com cada invenção do poeta em rico momento de criação.
Vem, por fim, o último texto da seleção, “O Céu e o Inferno”. Surge aqui outra reflexão sobre arte poética.
Bem ao seu estilo, o poeta embaralha as cartas da poesia com as vicissitudes da vida. E a conclusão é sempre poesia:
“um homem na solidão/ é apenas um poema/ que ninguém lê”.
•o•
Ronaldo Costa Fernandes é maranhense, criado no Rio de Janeiro e radicado em Brasília. Doutor em literatura pela UnB,
escreveu em prosa, entre outros títulos, os romances O Viúvo (2005) e Um Homem é Muito Pouco (2010),
a coleção de contos Manual de Tortura (2007) e o ensaio A Ideologia do Personagem Brasileiro (2007).
Como poeta, Costa Fernandes estreou com o volume Urbe, de 1975, hoje renegado. Vieram depois Estrangeiro
(1997), Terratreme (1998), Andarilho (2000), Eterno Passageiro (2004), A Máquina das Mãos (2009),
Memória dos Porcos (2012), O Difícil Exercício das Cinzas (2014), Matadouro de Vozes (2018) e
A Invenção do Passado (2022).
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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Até breve, poeta
• Paulo Martins
O escritor
baiano Paulo Martins lança Até Breve, Poeta (Kotter Editorial), livro de memórias da vida literária, com prefácio do poeta Ruy Espinheira Filho.
Quando: 9/3, quinta-feira, às 17h
Onde: Restaurante do Edinho
Av. Juracy Magalhães Júnior, 1624 -
Ceasa do Rio Vermelho
Salvador - BA
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