Amigas e amigos,

Dias atrás, quando eu já estava pensando em qual seria o tema deste boletim, recebi a antologia Escrever no Grão de Pólen: Antologia de Haicais do Brasil Contemporâneo, organizada por Alexandre Bonafim, Fábio Júlio e Liliane Viana Machado e publicada pela editora Cavalo Azul, de Goiás-GO. Decidi, então, organizar esta edição com base nesse livro.

Editora estreante, a Cavalo Azul tem como diretor o poeta, ensaísta e professor Alexandre Bonafim, que já esteve três vezes nesta página. Um dos focos da editora (viva!) é dedicar-se à publicação de poesia.

A antologia Escrever no Grão de Pólen reúne uma plêiade de 70 poetas, cada um ocupando uma página com três poemetos. Há haicais de uma grande variedade de estilos, desde objetos enxutíssimos, de apenas três palavras, até modelos relativamente extensos, com cinco ou seis versos e inclusive mais de uma estrofe.

Na apresentação, Alexandre Bonafim discorre sobre a história do haicai e também sobre sua evolução ao longo do tempo.

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O haicai (ou, se quiserem, haikai) consiste num gênero poético de forma fixa criado no Japão. É um poema breve, de apenas três versos: o primeiro e o terceiro são redondilhas menores (versos de cinco sílabas) e o segundo, uma redondilha maior (sete sílabas).

Codificado no século XVII pelo poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694), o haicai constitui um poemeto lírico, em geral ligado à observação da natureza. É comum encontrar haicais de primavera, haicais de verão etc. Esse gênero poético chegou à Europa no século XIX e aportou no Brasil somente no século passado, pelas mãos de poetas modernistas. Um pioneiro entre nós foi o paulista Guilherme de Almeida, que criou para o haicai alguns traços bem brasileiros.

Originalmente, o haicai não tem rimas nem título. Guilherme de Almeida, além de acrescentar um título, engendrou um formato no qual o primeiro e o terceiro versos rimam entre si, enquanto o segundo verso contém uma rima interna, na segunda e na sétima sílabas. Exemplo:

TRISTEZA

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?.

Com o passar do tempo, o haicai foi conquistando outros poetas brasileiros, entre os quais destacam-se nomes como Pedro Xisto (191-1987), Millôr Fernandes (1923-2012), Paulo Leminski (1944-1989) e Alice Ruiz (1946-). Naturalmente, nem todos seguiram ou seguem a forma proposta por Guilherme de Almeida nem tampouco mantêm o esquema métrico e temático tradicional japonês.

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O haicai (ou haikai) aparentemente está em alta. Na edição n. 520 (novembro de 2023), estiveram aqui dois poetas, Angélica Torres Lima e Uaçaí de Magalhães Lopes, cada qual com um livro desses artefatos nipônicos.

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Na antologia da Cavalo Azul, li os haicais, página a página, e escolhi um poema de nove poetas. Talvez você pergunte: por que não dez? Respondo: porque o número nove facilita montar a foto que você vê no alto desta coluna. Por uma questão matemática, é mais fácil reunir, por justaposição, 4 ou 9 fotografias do mesmo tamanho no padrão 3x4. Compor a imagem com 2, 3, 5, 6, 7, 8 fotos é sempre uma tarefa de resultado incerto, porque exige composição bem mais sofisticada, com muita intervenção de Photoshop.

No final da seleção, juntaram-se quatro poetas que já figuraram no boletim (siga os links) e cinco que aparecem aqui pela primeira vez. Sobre estes últimos, obtive informações combinando dados disponíveis no final da antologia com outros pesquisados na internet. Eis os nomes, em ordem alfabética: Antonio Brasileiro; Fabiano Calixto; João de Deus Souto Filho; José de Assis Freitas Filho; José Inácio Vieira de Melo; May Poetisa; Roberval Pereyr; Rodrigo Ortiz Vinholo; e Tânio Sad. Lamentei apenas que, entre os nove autores selecionados, haja apenas uma poeta.

Ah, antes que alguém reclame, devo dizer que tenho o prazer de ser um dos 70 poetas desta antologia.

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Mas passemos à leitura. Dada a extrema brevidade dos poemas, não há muito o que comentar. Por isso vou trocar os comentários por alguma informação sobre os poetas.

• Antonio Brasileiro (Ruy Barbosa-BA, 1944) - Professor, escritor e artista plástico. Co-fundador da revista Hera, que reuniu escritores de Feira de Santana-BA, no período 1972-2005. Membro da Academia de Letras da Bahia, lançou recentemente sua Poesia Completa em dois volumes.

• Fabiano Calixto (Garanhuns-PE, 1973) - Poeta, editor e professor. Seus livros mais recentes são Fliperama (2020), Nominata morfina (2014) e Equatorial (2014).

• João de Deus Souto Filho (Carolina-MA) - Geólogo e escritor. Autor dos livros Haikais e Versos Mínimos (2007); e 400 Haikais para o Natal. Reside em Natal-RN.

• José de Assis Freitas Filho (Feira de Santana-BA) - Contista, romancista e poeta. Sociólogo e mestre em Letras.

• José Inácio Vieira de Melo (Dois Riachos-AL, 1968) - Poeta, jornalista e produtor cultural. Publicou nove livros de poemas, entre os quais Sete (2015); Entre a Estrada e a Estrela (2017); e O Filho do Sol (2023).

• May Poetisa - Jornalista e escritora. Tem textos publicados no site Lettera e em diversas antologias.

• Roberval Pereyr (Antonio Cardoso-BA, 1953) - Professor, poeta, ficcionista, desenhista, compositor, ensaísta e editor alternativo. Co-fundador da revista baiana Hera (1972-2005).

• Rodrigo Ortiz Vinholo (1988) - Publicitário, jornalista, professor e escritor. Mora em São Paulo. É autor do livro Poemas Chatos para Pessoas Ruins (2020).

• Tânio Sad (Franca-SP, 1976) - Participante de diversas antologias poéticas, é advogado e reside em Franca.

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Um abraço, e até a próxima,

Carlos Machado

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LANÇAMENTO

O poeta fluminense Henrique Augusto Chaudon lança mais um livro de poemas, Sobre Vida (edição do autor, 2024).


Quando:
Sábado, 18/05/2024,
das 16h às 20h

Onde:
Livraria Schöfer Books
Rua Ator Paulo Gustavo, 211,
loja 118 - Icaraí
Niterói, RJ

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