Número 464 - Ano 19

Salvador, quarta-feira, 21 de abril de 2021

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«Nada me desassossega / mais que o sossego.» (Ronaldo Costa Fernandes) *

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Autor Atual
Sá de Miranda, Luiz Roberto Guedes, Rodrigo Petronio, H. Dobal, Carlos Drummond de Andrade, Cida Pedrosa, João Cabral de Melo Neto, Líria Porto — e o sol



Amigas e amigos,

Em sua concepção original, o boletim poesia.​net foi pensado para apresentar um poeta por edição. Contudo, a partir de certo momento, decidi organizar edições temáticas. Assim, desde 2009, já circularam vários boletins com poemas de múltiplos poetas, reunidos com base num tema. Exemplos: chuva (n. 454); morte (n. 434); pinturas (n. 416); água (n. 356); amor (n. 354); poesia (n. 324).

Houve também edições com vários poetas montadas a partir de critérios como inícios marcantes (n. 424 e n. 426); “poemas de tirar o fôlego” (n. 406); textos de poetas-mulheres falando da condição feminina (n. 382); poemas inspirados na Bíblia (n. 309); poemas que viraram letras de canções (n. 299); e poemas para crianças (n. 267).

Desta vez, voltamos à ideia dos poemas temáticos. Agora a palavra-chave é o astro-rei “sol”. Após uma busca no acervo do poesia.​net, selecionei oito poemas de oito poetas que, de maneiras diferentes, põem o sol em primeiro plano. A seguir, trato de cada um deles separadamente e indico de qual edição o poema foi extraído. Vamos a eles.

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Sá de Miranda
poesia.​net n. 65 (2004)

Contemporâneo de Camões, o poeta luso Francisco de Sá de Miranda (1481-1558) forma, junto com o autor de “Os Lusíadas”, a dupla de autores mais lidos do século XVI, em português.

Escrito há quase 500 anos, seu soneto “O sol é grande” discorre sobre a mutabilidade das coisas (“Ó cousas todas vãs, todas mudaves”). O tema, aliás, é o mesmo cantado por Luís de Camões em seu soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

O soneto de Sá de Miranda entrou nesta seleção justamente por destacar o sol num momento do ano que costuma ser frio. Daí ele parte para a observação das mudanças de tudo no decorrer do tempo.

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Luiz Roberto Guedes
poesia.​net n. 125 (2005)

O segundo poema de nossa sequência ensolarada é “Nudista em revista”, do poeta Luiz Roberto Guedes (São Paulo, 1955). O texto parece resultar da observação da foto de um grupo de nudistas que compõe um “tableau vivant debaixo do sol”.

Aparentemente, na cena, entre os praticantes do naturismo livre de roupas predominam pessoas de certa idade, como o homem “cinquentão de traseiro magro e pernas finas”. Com requintada ironia, o poeta chama as mulheres de “varoas”, o que supõe figuras opulentas. Neste poema e em outros de sua lavra, Guedes parece escrever como quem fotografa, focando detalhes e ângulos mais propícios à boa imagem.

Na primeira versão deste boletim, publiquei este poema tal como saiu na edição original, indicada acima. O autor, no entanto, esclareceu que o poema foi depois publicado em seu livro Erosfera (Lumme Editor, 2017), com alterações. No texto ao lado, essas alterações já foram adicionadas.

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Rodrigo Petronio
poesia.​net n. 150 (2006)

Professor universitário e poeta, Rodrigo Petronio (São Paulo, 1975) publicou em 2005 o livro Pedra de Luz no qual se encontra a suíte “Assinatura do sol”, um poema longo dividido em 16 partes. O texto foi escrito com base em 16 fotos de Joaquim Cabral, fotógrafo português que morou na África durante algum tempo. As imagens retratam pessoas e paisagens africanas.

No bloco “VII” da suíte, Petronio recorre aos orixás para figurar situações nas terras do outro lado do Atlântico. “É Iansã quem move esse motor de água invisível que sopra com a brisa”. O poema, todo, é muito bonito, um canto que situa o homem diante das forças do chão e do movimento imprevisível dos deuses.

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H. Dobal
poesia.​net n. 249 (2008)

No poema “Réquiem”, o poeta piauiense H. Dobal (Hindemburgo Dobal Teixeira, 1927-2008) discorre sobre a desolação da estiagem nordestina. O sol inclemente queima a terra e tosta a vida dos seres humanos: “Tão seco é o homem / nestes verões”. Aliás, acrescenta o poeta, “o homem e os outros bichos esquecidos”.

Este poema foi publicado originalmente no livro O Tempo Consequente, de 1966. Mas o sol continuou sendo uma fonte de inspiração para H. Dobal. Vinte e um anos depois, na coletânea Os Signos e as Siglas (1987), o poeta registrou este antológico e sibilante “Crepúsculo”:

Silencioso
Solitário
Sinistro
Um sol-poente
Celebra o suicídio da tarde.


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Carlos Drummond de Andrade
poesia.​net n. 269 (2008)

O sol também é poente para os “velhos negociantes sem fregueses” reunidos no poema “Tempo ao sol”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Um texto sensível sobre a velhice, publicado em Menino Antigo - Boitempo II, de 1973.

Sempre que releio este poema, lembro-me de uns senhores como esses da memória de Drummond. Reuniam-se num bar ou mercearia que ficava na (hoje agitada e festeira) esquina das ruas Mourato Coelho e Aspicuelta, na Vila Madalena, em São Paulo. A loja, sombria, não vendia mais nada, mas até o início dos anos 80 aqueles provectos senhores davam plantão lá, todos os dias, jogando dominó.

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Cida Pedrosa
poesia.​net n. 245 (2008)

A roleta do sol também me indicou uma poeta que esteve neste boletim em abril 2008, treze anos atrás. É a pernambucana Cida Pedrosa (Bodocó, 1963), que — coincidência — ganhou em 2020 o Prêmio Jabuti com o livro de poemas Solo para Vialejo (Cepe Editora, 2019).

O poema de Cida Pedrosa é “Um certo sol sobre São Paulo”. Trata-se de um canto de amizade, tecido sob o impacto do anoitecer na metrópole paulistana. Na época em que saiu aqui, o poema era inédito. Não sei se autora o publicou depois em algum livro.

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João Cabral de Melo Neto
poesia.​net n. 325 (2015)

A busca por poemas solares indicou outro pernambucano, João Cabral de Melo Neto (1920-1999), com o poema “Paisagem pelo telefone”, do livro Quaderna (1960). Aqui, o sol na verdade está na imaginação do sujeito lírico, um homem que se envolve num devaneio sensual ao falar com uma mulher pelo telefone.

A presença do sol se faz sentir logo na primeira quadra: “eu diria / que falavas de uma sala / toda de luz invadida”. E o ambiente imaginado é uma “manhã de praia / mais manhã porque marinha”.

A certa altura, o homem passa a dizer à interlocutora que também a imagina despida naquela claridade nordestina: “eu diria / que estavas de todo nua, / só de teu banho vestida”. Finalmente, sedutor e malicioso, afirma que a amiga é uma criatura que não precisa da luz solar: tem claridade própria. Por isso, diz ele, a água do banho apenas “libera a luz que já tinhas”. Que cantada! Quem disse que João Cabral só escreveu sobre pedras?

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Líria Porto
poesia.​net n. 350 (2016)

A poeta mineira Líria Porto (Araguari, 1945) é a autora do último poema ao lado, “Boca da noite”. No texto, os desencontros amorosos entre homem e mulher são protagonizados por dois corpos celestes. O sol, com autoridade de macho e rei, “decretou / que a lua é frígida”. Isso depois de beijá-la, fique claro. Mas a lua vai à forra, escancarando uma verdade incontestável: “o sol é estrela / de quinta grandeza”.

A poesia de Líria Porto tem desses achados envolventes, sempre manejando como armas o humor e a ironia. “Boca da noite” é um poema que, quando apareceu aqui no boletim, era inédito. Não sei se a autora o incluiu depois em alguma de suas coletâneas.


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Um abraço, e até a próxima,

Carlos Machado


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ERRATA

Alguns problemas de revisão na edição 263 (Emily Dickinson):

• Omiti a terceira estrofe da tradução no poema “255”.

• Nos comentários sobre esse mesmo poema, ficou fora uma palavra: “mas de fato a desmemória é que se impõe”.

• No trecho a seguir, também ficaram truncadas algumas palavras. Transcrevo a forma final: “O tradutor, não: a própria natureza de sua tarefa o obriga a construir hipóteses e optar por uma delas”.

• Ao citar o poema n. “533”, insisti no número do texto anterior, o “255”.

• Por fim, um reforço: o nome da organizadora da poesia completa na versão americana é mesmo Cristanne Miller. Aí não há erro, mas alguém supôs que fosse Cristianne.

Todas as correções já foram aplicadas à versão do boletim disponível no site Alguma Poesia. Confira aqui. Agradeço aos leitores Ana Cecília de Sousa Bastos e Maurício Benedito Barreira Vasconcelos por terem apontado alguns desses deslizes.


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NOVA REVISTA LITERÁRIA

Já está em plena rotação uma nova revista chamada Ventilador Literário. Conforme o editor-geral, o poeta Edney Cielici Dias, a publicação reúne um site de divulgação e uma editora, “concebidos como um filtro latino-americano de literaturas”. De fato, o primeiro número contém textos em português e em espanhol. A revista pode ser baixada gratuitamente no site Ventiladorliterario.com.

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Poemas vestidos de sol


• Sá de Miranda  • Luiz Roberto Guedes 
• Rodrigo Petronio  • H. Dobal 
• Carlos Drummond de Andrade 
• Cida Pedrosa • João Cabral de Melo Neto 
• Líria Porto 


              

Zinaida E. Serebriakova - Portrait-of-andronikova-halpern-1925.jpg
Zinaida E. Serebriakova, russa, Retrato de Andronikova Halpern (1925)


• Sá de Miranda

O SOL É GRANDE

O sol é grande: caem co'a calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam de amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
E tudo o mais renova: isto é sem cura!



Zinaida Evgenievna Serebriakova - in-the-kitchen-1923
Zinaida E. Serebriakova, Na cozinha (1923)


• Luiz Roberto Guedes

NUDISTA EM REVISTA

sete naturistas contra o dia azul |quatro homens três mulheres| tableau vivant debaixo do sol |e como estão vivos em praia exclusiva| na extrema direita a primeira mulher |torso franzino seios pequenos| se coloca entre dois homens |o primeiro enlaça sua cintura| ela ergue-se na ponta dos pés |alçando a bundinha à altura da pança do parceiro| e apoia seu braço esquerdo nas costas retas do segundo homem |cinquentão de traseiro magro e pernas finas| e logo reluz |coroa solar| a segunda mulher |no centro da cena| morena opulenta |postada de perfil| sorriso brilhante ombro dourado um seio iluminado |o bico oculto na sombra projetada pela aba do chapéu da mulher a seu lado| o ventre venusto glúteos e coxas de bronze brunido |solvidos na sombra entre dois corpos| enquanto a terceira varoa tem óculos escuros ombros rendados de luz |coada pela aba do chapéu| e corpo maduro |de alvor imponente| dignas damas desenvoltas que eclipsam os dois últimos homens |figurantes na composição| dois traseiros sedentários duas panças de chopp e pizza dois chapeuzinhos de turista naturista

    [26.04.2005]





Zinaida Evgenievna Serebriakova - Portrait-of-a-man-1932.jpg
Zinaida E. Serebriakova, Retrato de um homem (1932)


• Rodrigo Petronio

ASSINATURA DO SOL

VII

É Iansã quem move esse motor de água invisível que sopra com a brisa.
Toca a flauta fina do bambu e a folha dos caniços.
Não a música das esferas, a matemática dos artifícios.
É Iemanjá quem põe o globo a girar e mantém a Terra em órbita.
Não a causa primeira. Primeiro motor e princípio.
É Obatalá quem refaz o sonho branco da noite e destila a misericórdia das flores.
O universo é o tambor de Xangô que toca na pele do espaço suas notas.
Não a cruz pia do sangue e a carne servida em potes. A gravitação universal e seus cortes.
É Exu quem corre veloz levando o vento e o manto da tarde de cobre nas patas aladas.
Quem erra na cortina da chuva, telegrafa um relâmpago azul no nadir, entre o céu e a terra se move.
Não o choque de duas nuvens. Mas o amor de dois deuses. Que fecunda a terra.
Propaga a chuva. Revolve as árvores. Renova o sexo. Ora pela boca das aves. E morre.



Zinaida Evgenievna Serebriakova - maria-butakova-nee-evreinova-1931
Zinaida E. Serebriakova, Maria Butakova née Evreinova (1931)


• H. Dobal

RÉQUIEM

Nestes verões jaz o homem
sobre a terra. E a dura terra
sob os pés lhe pesa. E na pele
curtida in vivo arde-lhe o sol
destes outubros. Arde o ar
deste campo maior desta lonjura
onde entanguidos bois pastam a poeira.

E se tem alma não lhe arde o desespero
de ser dono de nada. Tão seco é o homem
nestes verões. E tão curtida é a vida,
tão revertida ao pó nesta paisagem
neste campo de cinza onde se plantam
em meio às obras de arte do DNOCS
o homem e os outros bichos esquecidos.

    De O Tempo Consequente (1966)



Zinaida Evgenievna Serebriakova - Young-moroccan-1932.jpg
Zinaida E. Serebriakova, Jovem marroquina (1932)


• Carlos Drummond de Andrade

TEMPO AO SOL

Sentados à soleira tomam sol
velhos negociantes sem fregueses.
É um sol para eles: mitigado,
sem pressa de queimar. O sol dos velhos.

Não entra mais ninguém na loja escura
ou se entra não compra. É tudo caro
ou as mercadorias se esqueceram
de mostrar-se. Os velhos negociantes
já não querem vendê-las? Uma aranha
começa a tecelar sobre o relógio
de parede. E o sagrado pó nas prateleiras.

O sol vem visitá-los. De chapéu
na cabeça o recebem. Se surgisse
um comprador incostumeiro, que maçada.
Ter de levantar, pegar o metro,
a tesoura, mostrar a peça de morim,
responder, informar, gabar o pano...

Sentados à soleira, estátuas simples,
de chinelos e barba por fazer,
a alva cabeça movem lentamente
se passa um conhecido. Que não pare
a conversar coisas do tempo. O tempo
é uma cadeira ao sol, e nada mais.

    De Menino Antigo (Boitempo-II), 1973



Zinaida Evgenievna Serebriakova - Boys-in-sailor-s-striped-vests-1919
Zinaida E. Serebriakova, Meninos com camisetas de marinheiro (1919)


• Cida Pedrosa

UM CERTO SOL SOBRE SÃO PAULO

    para maria josé oiticica


o sol se põe em são paulo

a brisa rasteira
rasteja meus pés
que se põem entre o azul
e o mostarda do sofá da tua sala

o sol se põe
sob os aviões da planície
e eu
pássaro aceso
                    espero
nesta casa de marias
que voam nas asas da panair

o sol se põe sob são paulo
e eu
pássaro sem saída
                    grito
teu nome de ateu

são paulo anda à margem

à margem de mim
à margem de ti
à margem de nós

são paulo anda à margem do mar
e o pôr do sol voa mais alto
que as luzes de neon

    Inédito, fornecido pela autora



Zinaida Evgenievna Serebriakova - The-breadseller-from-rue-lepic-1927
Zinaida E. Serebriakova, Vendedora de pães da rua Lepic (1927)


• João Cabral de Melo Neto

PAISAGEM PELO TELEFONE

Sempre que no telefone
me falavas, eu diria
que falavas de uma sala
toda de luz invadida,

sala que pelas janelas,
duzentas, se oferecia
a alguma manhã de praia,
mais manhã porque marinha,

a alguma manhã de praia
no prumo do meio-dia,
meio-dia mineral
de uma praia nordestina,

Nordeste de Pernambuco,
onde as manhãs são mais limpas,
Pernambuco do Recife,
de Piedade, de Olinda,

sempre povoado de velas,
brancas, ao sol estendidas,
de jangadas, que são velas
mais brancas porque salinas,

que, como muros caiados
possuem luz intestina,
pois não é o sol quem as veste
e tampouco as ilumina,

mais bem, somente as desveste
de toda sombra ou neblina,
deixando que livres brilhem
os cristais que dentro tinham.
Pois, assim, no telefone
tua voz me parecia
como se de tal manhã
estivesses envolvida,

fresca e clara, como se
telefonasses despida,
ou, se vestida, somente
de roupa de banho, mínima,

e que por mínima, pouco
de tua luz própria tira,
e até mais, quando falavas
no telefone, eu diria

que estavas de todo nua,
só de teu banho vestida,
que é quando tu estás mais clara
pois a água nada embacia,

sim, como o sol sobre a cal
seis estrofes mais acima,
a água clara não te acende:
libera a luz que já tinhas.

    De Quaderna (1960)



Zinaida Evgenievna Serebriakova - Self-portrait-1930
Zinaida E. Serebriakova, Autorretrato (1930)


• Líria Porto

BOCA DA NOITE

depois de beijá-la o sol decretou
a lua é frígida — e condenou-a
à solidão das virgens
:
o sol é estrela
de quinta grandeza

    Inédito, fornecido pela autora




poesia.​net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2021



Sá de Miranda
      •  “O sol é grande”
      in Poesias Escolhidas
      Introdução, seleção e crítica de José V. de Pina Martins
      Editorial Verbo, Lisboa, 1969
Luiz Roberto Guedes
      •  “Nudista em revista”
      — inédito cedido pelo autor, depois publicado na coletânea
      Erosfera
      Lumme Editor, Bauru-SP, 2017
Rodrigo Petronio
      •  “Assinatura do sol - VII”
      in Pedra de Luz
      A Girafa, São Paulo, 2005
H. Dobal
      •  “Réquiem”
      in Gleba de Ausentes - Uma Antologia Provisória
      Livraria e Editora Corisco, Teresina, 2002
Carlos Drummond de Andrade
      •  “Tempo ao sol”
      in Poesia Completa
      Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 2003
Cida Pedrosa
      •  “Um certo sol sobre São Paulo”
      — inédito cedido pela autora
Líria Porto
      •  “Boca da noite”
      — inédito cedido pela autora
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* Ronaldo Costa Fernandes, "Farinha", in Matadouro de Vozes (2018)
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* Imagens: obras da pintora russa Zinaida Evgenievna Serebriakova (1884-1967)